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Comportamento

Home office de mãe tem cocô, flauta e "dona Aranha" durante expediente

Trabalhar com criança em casa têm gerado cenas icônicas nas redes, e vida real não está longe disso não. O que você já passou aí?

Paula Maciulevicius Brasil | 24/04/2020 10:55
Num segundo de descuido e já tem gente "trabalhando" no notebook da mamãe. (Foto: Arquivo Pessoal)
Num segundo de descuido e já tem gente "trabalhando" no notebook da mamãe. (Foto: Arquivo Pessoal)

Home office. Do inglês, o termo significa: modalidade de trabalho remoto, feito em casa. Na teoria, é lindo, flui no ritmo de quem está atrás de um computador, tomando café. A imagem de alguém pleno é facilmente substituída por a de uma mãe tentando escrever, ouvir ou planejar enquanto o filho escala a mesa do escritório (sorte de quem tem este cômodo), ou sai arrastando pelo chão a irmã bebê, ainda tem a parte de querer ver "popó" no seu celular, e ainda anunciar para todo mundo ouvir que chegou o cocô.

Nas redes sociais, as crianças têm roubado a cena na hora de muitas mães darem entrevistas ou aparecerem em reuniões on-line. No mundo real, está muito pior. Acredite. É rir para não chorar. Perguntamos às mães e as respostas foram hilárias. Claro que a gente ri agora, porque na hora do acontecido mesmo era um misto de constrangimento com desespero.

"Mamãaaaaaaaaaae"...

"Eu estava atualizando o número de leitos de UTIs com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde. O assessor comigo ao telefone quando minha filha veio gritando da sala: mamãe, quero fazer cocô... cocô.. cocô. O assessor riu e disse: home office né? rsrsrs."

"Eu estava em uma ligação e meu filho saiu do quarto chamando mamãe, mamãe...eu saí rápido para a varanda e ele achou que estava brincando. Começou a rir e a correr atrás de mim chamando ainda mais mamãe...mamãe. Eu não podia rir e nem interromper."

"Minha filha entra chorando no meio da minha aula e diz: "eu não sou mais filha do papai. Só sua".


Nutricionista e professora universitária, Faena Moura, de 30 anos, brinca que se for para dar o depoimento com a função de "estimular alguém, eu não serei uma boa pessoa". Isso porque ela simplesmente jogou a real. Na tentativa de se adaptar a ministrar aulas on-line, além de preparar todo o conteúdo, ela tem duas crianças pequenas em casa, uma de 2 anos e oito meses e a outra, bebezinha de tudo, com 5 meses, para cuidar.

Faena e a bebezinha de 5 meses feliz e radiante no colo da mãe que precisa trabalhar. (Foto: Arquivo Pessoal)
Faena e a bebezinha de 5 meses feliz e radiante no colo da mãe que precisa trabalhar. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Tenho horários específicos para entrar ao vivo com os alunos da faculdade, e é sempre uma tensão, porque preciso cronometrar tudo, tentar fazer a mais nova dormir, colocar a mais velha para assistir vídeo (único jeito que ela para um pouco) e rezar para que funcione durante todo o período", ri.

Se nada disso funciona, o caos se instala. O auge foi quando a mais velha veio pedir para fazer coco enquanto a mãe estava ao vivo como professora. "De vez em quando acontece também de ela pedir para eu desenhar, ir brincar, olhar algo que ela está fazendo. Teve uma vez que ela queria subir no meu colo para mexer no computador no meio da reunião ao vivo, bem na hora em que eu estava falando. O pai veio pegar e ela já começou a chorar, peguei o computador e saí correndo pela casa para fugir do barulho do choro e conseguir terminar de falar. Depois eu ri, mas foi um estresse na hora, perdi o raciocínio da fala", descreve.

Os alunos ouvem, e dão risada. Já tem até pedidos para verem a dona da "voz fofa" que aparece ao fundo e que eles ouvem todos os dias.

Ao fundo, filha mais velha de Faena "brinca de trabalhar". (Foto: Arquivo Pessoal)
Ao fundo, filha mais velha de Faena "brinca de trabalhar". (Foto: Arquivo Pessoal)

"Tenho tentado levar na esportiva. Mas tem dia que me estresso bastante, porque pesa a responsabilidade do meu dever enquanto professora, de prestar atenção no que os alunos estão também apresentando para contribuir na orientação e acrescentar conteúdo de valor. Ao mesmo tempo, tem o peso de não estar conseguindo render tanto no trabalho vem o peso de muitas vezes não conseguir relaxar e estar 100% presente nos momentos com minhas filhas, porque a cabeça está vagando pelas mil coisas ainda por fazer".

Servidora pública, Danielle Viana tem 33 anos, e um bebê de 10 meses no auge da descoberta do mundo. Lê-se: fase ativa, de engatinhar por toda a casa. O home office é dividido com o marido que também está de casa trabalhando. No entanto, é a mãe que a criança mais quer, até porque Dani ainda amamenta.

Dos episódios cômicos, o que marcou foi o teste de uma videoconferência com o pessoal do trabalho. "Só dava o som da música para o meu filho dormir. O ruído era enorme, e a música: 'dona Aranha', porque ele só dorme agora com isso", ri a mãe. Como a situação é extraordinária, ela tenta se adaptar e lidar da melhor forma, dosando bom humor e tolerância.

Dia desses, até uma "barricada" a mãe ergueu, na tentativa de se concentrar.

Estratégia de Danielle para conseguir trabalhar foi montar barricada. (Foto: Arquivo Pessoal)
Estratégia de Danielle para conseguir trabalhar foi montar barricada. (Foto: Arquivo Pessoal)

Jornalista e empresária, Gabriela Borsari, de 34 anos, estava gravando um áudio de trabalho quando o filho teve a ideia de tocar uma flauta na cabeça da mãe. Miguel, de 5 anos, é a fofura em pessoa e não pode ver Gabi no celular que já se aproxima. "Como era um conhecido meu e eu estava terminando o áudio, acabei interrompendo, mas mandei e em seguida mandei outro pedindo desculpas. Ele respondeu rindo, dizendo que não tinha problema. As pessoas, neste momento, até estão entendendo mais porque muitas estão no sistema home office e com crianças em casa", nota.

Uma das mães prefere não se identificar, justamente porque o home office com crianças em casa têm sido muito desafiador. Aos 29 anos, ela é mãe de um bebê de 1 ano e 5 meses,  e a família está em quarentena desde o dia 20 de março. "Hoje, numa reunião on-line, disseram que temos que ser extremamente produtivos nesse período, enquanto isso meu filho achou o pote de ração do cachorro e jogava pela casa. Como ele estava quieto e eu precisava ficar na reunião, deixei. Ninguém percebeu porque a câmera estava desativada na hora", relata.

Flauta tocada por Miguel que interrompeu áudio de trabalho da mãe. (Foto: Arquivo Pessoal)
Flauta tocada por Miguel que interrompeu áudio de trabalho da mãe. (Foto: Arquivo Pessoal)

Num tom mais sincero e de desabafo, ela resume o que todas nós sentimos. "O que rola mais é pressão de dar conta de tudo nesse cenário. Estar disponível em horário de expediente e atender às demandas de um bebê, conseguir participar das reuniões, entreter o bebê para conseguir isso", diz.

Uma das saídas têm sido dar um pote de fruta. "Quando está comendo, não está chorando. Como meu bebê ama melão, quando a direção disse que ia me ligar por vídeo, eu já deixei cortado e entreguei para ele se distrair. Porque apesar de ser normal para a idade dele, é constrangedor o filho começar a gritar no meio da reunião, e ainda você perder o foco.

Como a família adotou o isolamento social, as conversas com os avós têm sido apenas em chamadas de vídeo, e para o filho, quando vê a mãe no celular, corre para "aparecer" por achar que sempre se trata dos avós.

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Gabi, seus dois notebooks e o filho Miguel. (Foto: Arquivo Pessoal)
Gabi, seus dois notebooks e o filho Miguel. (Foto: Arquivo Pessoal)


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