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Comportamento

Museu do Grupo Acaba, casa de Moacir guarda história musical de MS

Com inúmeros objetos e discografias que contam a história do Grupo Acaba, Moacir luta por um lugar que preserve a música de MS

Thailla Torres | 17/06/2020 06:54
Moacir segurando um dos primeiros troféus do grupo. (Foto: Thailla Torres)
Moacir segurando um dos primeiros troféus do grupo. (Foto: Thailla Torres)

A casa no Bairro Santa Fé, com uma sala bem de antiquário abarrotado, há anos é ponto de encontro para estudantes, educadores e artistas em Campo Grande. É um daqueles lugares com história, com uma atmosfera que por si só justifica chegar e perguntar sobre cada detalhe.

A parede coberta de fotografias, diplomas, homenagens e instrumentos musicais lembra a de um museu dedicado à história da música e é assim que todo mundo se comporta na casa do compositor, percussionista e fundador do Grupo Acaba, Moacir Lacerda

Logo de cara, o olhar bate na partitura amarelada com uma fotografia de alguns homens. Moacir explica que a página traduz a inspiração e a dedicação do grupo mais famoso em retratar não só a natureza, mas as histórias que compõem Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “Essa partitura era do nosso pai, foi ele quem compôs. Era um músico excelente, gostava de jazz, foi um dos precursores do rasqueado cuiabano. Mas se voltarmos no tempo, a história do Grupo Acaba começa mesmo com a minha avó, em 1877, que também cantava e fazia músicas”.

Instrumentos que fazem parte da trajetória do Grupo Acaba. (Foto: Thailla Torres)
Instrumentos que fazem parte da trajetória do Grupo Acaba. (Foto: Thailla Torres)

Os dedos do músico apontam para outros objetos, como uma das primeiras fotografias do grupo cantando na universidade, depois um show mais profissional com eles vestidos de branco e os famosos colares cheios de penduricalhos que viram músicas, muitas homenagens, instrumentos de madeira, principalmente chocalhos, vindos de várias partes do mundo, um troféu em prata que não tem mais brilho, mas significa um dos primeiros prêmios na música.

Do outro lado da sala, do chão ao teto, encontramos CD’s e discos de vinil. E tudo ali é regional, garante Moacir. “Essa estante aqui só tem CD’s de cantores de Mato Grosso do Sul, você não vai encontrar algo de fora. Eu sou um apaixonado pela música regional e como bom historiador, tento pesquisar e preservar”.

Entre milhares de fotos, discos, páginas de revistas, jornais e documentos que narram a história do Grupo Acaba e de outros nomes da música, Moacir diz que não se cansar de guardar e cuidar todos esses objetos, mas conforme o tempo passa, o medo aumenta. “Eu fico pensando onde isso tudo vai parar quando eu e os meus contemporâneos partirem. Infelizmente, Campo Grande não tem um lugar próprio para a história da música regional”.

Foto do Grupo Acaba na década de 70.
Foto do Grupo Acaba na década de 70.

A preocupação de Moacir é com a falta de uma “Casa da Memória Cultural de Mato Grosso do Sul”, onde conteúdos como os que ele abriga em casa pudessem ser armazenados e catalogados para pertencer ao povo e dar direito ao povo de acessar a história cultural do espaço em que vive.

“Veja bem, não é possível que Délio, Amambaí, Dino Rocha, Zacarias Mourão, por exemplo, pessoas que viraram uma grande referência na música, não mereçam um lugar que conte sua história. Essas memórias vivas estão se perdendo. Em mim e nos meus colegas da minha geração, essas histórias estão vivas, mas com o tempo elas serão apagadas. E a nova geração não saberá nada da nossa música”, teme.

Mas enquanto esse projeto não chegar, Moacir continua abrindo as portas para quem busca saber mais sobre a história do Grupo Acaba. “Estou sempre recebendo professores e estudantes de escolas que queiram levar esse conhecimento aos seus alunos, no entanto, meu sonho era ver isso tudo em um lugar especial”.

Em breve, Moacir irá assumir uma cadeira no Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul e busca continuar preservando memórias e até os primeiros suspiros da música sul-mato-grossense. “Aliados e companheiros para essa preservação temos, ainda bem. Mas é preciso também incentivo para que esses projetos se concretizem”.

Moacir preserva material que conta história do grupo e parte da história musical do Estado.
Moacir preserva material que conta história do grupo e parte da história musical do Estado.

Ainda neste ano, o músico acredita que a história do Grupo Acaba chegará mais longe graças ao livro com mais de 600 páginas escrito pelo jornalista e músico Rodrigo Teixeira, que há anos tem se dedicado a documentar os passos música regional.

Recentemente, Moacir tem se debruçado nos livros para compor músicas que falam sobre a história de Álvar Núñez Cabeza de Vaca, um conquistador espanhol conhecido como um dos primeiros europeus a explorar o curso do Rio Paraguai e Pantanal.

“É importante compreender que a música não é só traduzir sentimento ou reminiscências, a música conta também fatos históricos, geográficos e de navegação. Assim sempre foi a música do Grupo Acaba. Nunca cantamos só natureza ou fizemos uma visão pitoresca do Pantanal, o grupo sempre teve uma filosofia sobre a vida, para que no futuro isso seja um tesouro de informações, por isso, reitero, nós precisamos criar uma casa que abrigue todas essas memórias”.

Moacir defende que além da preservação, um espaço cultural como o que ele cita se traduz em turismo e economia criativa. “Tem pessoas que vem à cidade pelo lado cultural, ou seja, isso é um investimento que tem retorno. É precisa ter força para fundamentar e cuidar dessa memória”.

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CD's de todos os músicos que passaram pela história de Mato Grosso do Sul estão na casa de Moacir.
CD's de todos os músicos que passaram pela história de Mato Grosso do Sul estão na casa de Moacir.


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