Natálio aprendeu que previsão não é só número e virou personagem do clima
No jornalismo, Natálio Abrãao já é sinônimo de Meteorologia. O homem do tempo, que há 47 anos fala de previsões, acabou virando um personagem de Campo Grande. É tanta gente interessada em saber das mudanças climáticas, que o ele não vai nem ao supermercado sem responder, pelo menos uma vez, como ficará o tempo hoje.
A situação até parece invasiva para quem diz que nunca buscou status de estrela, mas seu Natálio aprendeu com o tempo, literalmente, que o único jeito é ter paciência. Por isso, ele responde a todos. Fala do churrasquinho de fim de semana que vai dar certo até das roupas no varal que vão secar sem chuva.
"Com o tempo você aprende que a Meteorologia reflete diretamente no comportamento e a necessidades das pessoas. Esse tipo de mexe com o comércio, bolsa de valores, economia, pecuária e rotina. Por isso trabalho com objetivo de acertar e respondo a todos", explica.
Natálio tem 71 anos. É formado em Meteorologia, Ciências Econômicas e Análises de Sistema. O amor pelo tempo surgiu quando era soldado da FAB (Força Aérea Brasileira). "A Meteorologia sempre fez parte. Fui piloto civil, instrutor, já trabalhei em torre de controle e missões de guerra. Dentro da aeronáutica tinha uma área específica para o assunto e com o tempo fui aprendendo. Passei a ver a Meteorologia no chão e no ar", lembra.
Viajando pelo País para aprimorar os estudos, ganhou a experiência que desejava. "Cada lugar que eu passava, buscava entender como funcionava o clima. Hoje meu orgulho é atender as necessidades do povo, principalmente, ensinar os alunos a profissão que eu tenho orgulho".
Mas nem tudo são flores. Para ganhar credibilidade, Natálio trabalhou, por anos, dia e noite. Não é à toa que já foi acordado por muito jornalista da cidade, disposto a noticiar as mudanças climáticas. Situação recorrente, que fez criar um bom relacionamento com alunos e profissionais. "Se não fossem os jornalistas, como isso chegaria às pessoas? Mas tem algumas particularidades cômicas, como o jornalista chato que pergunta três vezes a mesma coisa. Mas esse é o jornalista bom", declara.
Natálio diz que aprendeu falar sobre o tempo numa linguagem mais simples, graças ao assédio da mídia. "Para que as pessoas entendam é preciso deixar os termos técnicos de lado e isso eu também levei um tempo para aprender".
Detalhes que para ele são conquistas diárias e, ao mesmo tempo, transformadoras. "Isso me ajudou a compreender que as previsões não são apenas números, mas é a vida das pessoas. Por isso tenho que ser responsável. Hoje em dia, quando vejo chuvas, inundações e pessoas se machucando, carrego comigo um sentimento de perda. Então se eu puder dar uma informação e isso ajudar as pessoas, é muito gratificante".
O maior desafio para Natálio foi aprender com os erros. "Já errei muito, principalmente, dizendo que ia fazer sol e, naquele dia, caiu muita chuva. Mas nunca neguei um erro e sempre fiz de tudo para dar uma previsão correta. É claro que antigamente isso era muito mais difícil", diz. Mas a tecnologia foi um divisor de águas na profissão. "Antes tínhamos apenas um ponto de leitura de chuva na cidade, que são sensores, hoje temos 11".
Dedicado ao trabalho, Natálio conta até com um servidor em casa, para garantir as previsões. "Eu tenho uma estação que é conectada com o sistema da Uniderp. E toda vez que vou abrir, peço autorização para a direção e continuo os trabalhos em casa. É um ritmo intenso de aprendizado e trabalho que nunca acaba. Porque o mundo todo deseja saber sobre o tempo e suas mudanças".
A rotina intensa também trouxe consequências à saúde. Em 2014, Natálio precisou de uma cirurgia cardíaca. "Veja só, sempre fui atleta, nunca estive acima do peso e mesmo assim o coração andou balançando. Acredito que é a pré disposição genética. Mas superei tudo isso e agora o coração está forte".
Casado há 46 anos e pai de 2 filhos, Natálio se diz um homem dedicado a família e a Campo Grande. "É a minha cidade do coração e tudo que eu puder fazer para atendê-la estarei aqui", afirma.
Se aposentar? Só quando o tempo trouxer a resposta. "Enquanto eu me sentir bem, continuarei contribuindo. Tenho muito orgulho dessa profissão".
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