No mesmo dia e igreja, casal faz Bodas de Ouro do amor que durou 6 anos em carta
O casal até tentou fazer as mesmas fotos, para relembrar o casamento que superou anos de distância
No sorriso de Heber para Maria Silva mora uma gratidão pela parceria que completa 50 anos de história. Médico ginecologista, os dois lutaram de mãos dadas com a distância e os desafio da profissão. Antes do casamento, foram seis anos de namoro por cartas e ligações telefônicas que demoravam 5 horas de espera. Tempo que muita gente abriria mão nos dias de hoje, mas que faz o casal olhar para trás e dizer o quanto valeu a pena resistir aos obstáculos.
"Eu fazia faculdade de Medicina fora daqui. Naquele tempo era difícil vir para Campo Grande, principalmente pela situação financeira. E carta demorava dias para chegar até aqui. Mas a gente dava um jeitinho", lembra Heber Ferreira de Santana, aos 76 anos.
As bodas de ouro foram comemoradas na Igreja São José e não à toa. Escolheram o mesmo dia e instante do dia em que disseram sim, há cinco décadas. O casal também tem verdadeiro apreço pela região porque foi ali que os olhares se cruzaram quando o amor surgiu. "Naquele tempo não íamos em bailes, mas toda semana, na casa de alguma família haviam eventos com música, bebidas e conversas. Foi em um desses momentos que conheci Heber. Não demorou muito para virar namoro", lembra a esposa Maria Silvia Albuquerque de Santana, aos 71 anos.
Era tudo bem diferente mesmo. Namoro, só se fosse de mãos dadas e na presença da família. "Quando a gente se encontrava, alguém acompanhava ela", lembra Heber. Mas o que ela nem imaginava era encarar um namoro com tanta distância. "Quando começamos a namorar eu fazia Medicina e só nos casaríamos depois de me formar. Ela me esperou por seis anos", diz o marido.
Ansiedade define o passado narrado pela distância. "Naquele tempo uma ligação telefônica demorava horas, eu esperava de quatro a cinco horas para conseguir falar com ele", lembra Maria. No hospital, Heber fazia o mesmo roteiro em busca de alguns minutos com a namorada por telefone. "Eu ía até o PBX daquele tempo, pedia para fazer uma ligação para ela, em seguida voltava ao trabalho e só depois de 6 horas me chamavam para atender a ligação. Era muita espera", diz o marido. Mas a saudade e as palavras de amor também vinham por cartas. "Guardo tudo com carinho até hoje".
Em 2018, nasceu o desejo de comemorar os 50 anos de união com direito a memórias do primeiro "sim". Ao lado do cerimonialista GIl Saldanha, o desafio era fazer com que tudo acontecesse como no primeiro dia. "Normalmente os casais escolhem o sábado ou sexta para as comemorações, mas como tudo tinha que ser como o do casamento, fizemos a festa em plena terça-feira", diz Gil.
Com uma cerimônia de 1 hora e 40 minutos, amigos e familiares celebraram o amor. Entrar 50 anos depois na igreja onde o casal disse sim foi emocionante, lembra Maria. "Principalmente ao ver os amigos e pessoas que estiveram conosco há 50 anos, especialmente, um dos padrinhos do religioso que entrou com alianças e veio de São Paulo especialmente para nossa festa. Isso nos deixou muito feliz".
O padre que celebrou a missa não foi o mesmo porque o padre do casamento, Francisco Agreiter, já faleceu. "Então fizemos questão de prestar uma homenagem na nossa missa, foi muito bonito e diferente".
O casal também ganhou dos amigos uma escultura que reproduz uma das últimas viagens em amigos. Além de mais de 5 mil reais em dinheiro que serão doados ao Hospital São Julião. "Ganhamos muitos presentes da família, mas resolvemos transformar o dinheiro que ganhamos em solidariedade". Por um site, o convidado podia dar o valor que quisesse. "Já temos tudo, nossa casa, nossa família, nossas coisas, por isso escolhemos doar".
Com 3 filhos e 5 netos, agora Heber e Maria só desejam que o perdure por mais algumas décadas. "Hoje em dia as pessoas casam pensando vão separar se algo não der certo. Mas casamento precisa de compreensão, paciência e vontade de superar obstáculos, não se pode desistir no primeiro desafio. Todo mundo é diferente, temos que aprender a lidar com o outro e entender a dificuldade de cada um, isso se chama cumplicidade".
Curta o Lado B no Facebook e Instagram.