No terreiro da avó, Inês fez baile de 15 anos celebrando Iemanjá
Menina escolheu debutar no terreiro da família, onde o pai era ogã, mas perdeu a vida para a covid-19 em 2020
Os últimos dois anos não foram nada fáceis para Inês Gabriely, que completou 15 anos no dia 21 de janeiro. Em 2020, ela perdeu seu grande herói, o pai, para a covid-19. Ele foi primeira vítima da doença em Anastácio – a 137 quilômetros de Campo Grande. Mas neste ano, ela quis dar a volta por cima no luto e celebrar a chegada do aniversário de um jeito diferente: no terreiro de umbanda da família e homenageando sua mãe espiritual, a belíssima Iemanjá.
Tudo começou quando Inês pediu no início do ano para sua avó, Carolina Rosa, ialorixá do terreiro (mãe de santo) jogar búzios e descobrir de quem ela era filha. Foi quando a menina descobriu ser filha de Iemanjá e Oxóssi (São Sebastião).
A mãe também se emocionou. “Eu não achava que seria Iemanjá, porque ela nasceu no dia de Santa Inês, por isso, o nome dela. Mas quando soube, também foi uma emoção muito grande”, conta Elisângela Martins, de 40 anos, que também é filha de Iemanjá.
Normalmente, no dia 20 de janeiro, a mãe de santo e outros participantes do terreiro costumam dar os parabéns à Inês por conta do Dia de São Sebastião. Mas nesse ano, para celebrar o ano de debutante, ela queria algo maior e que também pudesse homenagear tudo o que ela mais ama e respeita: as tradições da família.
“No começo, eu estava sem tema na cabeça, até que conversando com uma pessoa, ela sugeriu que eu fizesse algo da Umbanda, nesse momento, lembrei-me da minha avó revelando que eu era filha de Iemanjá, então, eu decidi naquele momento”, diz Inês.
Ao falar sobre sua escolha para a mãe, Elisangela diz que não conteve a emoção. “Foi um momento muito emocionante e eu só pude apoiar a decisão dela. Além de realizar um sonho dela, essa escolha é muito significativa para a família. Porque a gente cria o filho para o mundo e para que ele faça as escolhas dele, inclusive, a escolha de seguir a religião que seu coração mandar. Inês tem todo amor pelo terreiro e isso me emocionou muito. Foi uma escolha dela, nunca impusemos nada”, detalha a mãe.
Foi então que começaram os preparativos. Ela escolheu o tecido e levou a uma costureira da cidade para entrar na festa de azul como Iemanjá, com direito a pérolas e colar de conchas.
Na decoração, ela conversou com uma familiar que já tem experiência em festas e levou elementos que representam a divindade, como os tons de azul, as flores, além de docinhos e bolo que qualquer aniversário requer.
O pai, falecido em 2020, era o Ogã do terreiro, médium responsável pelo canto e pelo toque que ocupa um cargo importante e de responsabilidade dentro dos rituais de Umbanda, como o conjunto de vozes e toques do atabaque.
Mas sem a presença dele, o toque do atabaque foi feito por um amigo da família, ogã de outro terreiro que fez questão de estar nesse momento.
Inês entrou ao lado do avô e da mãe. Emocionou-se com as homenagens, com a lembrança do pai e dançou com os convidados. Na festa, estiveram os familiares e pessoas próximas a eles. “Foi lindo, emocionante e mais do que eu imaginava. Cada detalhe foi muito significativo para os meus 15 anos. Fiquei muito feliz”.
A festa foi realizada no dia 22 de janeiro, no mesmo quintal do Terreiro de Umbanda Mãe Candinha, que tem mais de 30 anos de história no interior e é comandado pela avó de Inês. Coincidentemente, hoje (02), é celebrado o Dia de Iemanjá.
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