O amor pela família do coração fez João viver por mais 45 anos
João não tem documento oficial que comprove, mas família jura que ele viveu até os 110 anos
“Você não quer levar para tratar? Se não a família vai jogar no Sete Quedas”. Essas foram as palavras que definiram o rumo de João Francisco de Garaz. O Lado B o conheceu por meio de sugestão de um leitor. A mensagem era: Tem um japonês, mais de 100 anos de idade, que todos os dias, está no espetinho da Fátima, ali no Guanandi II.
Única coisa é que de japonês, João não tinha nada. Ele era mesmo um paraguaio que morou por um tempo na cidade de Mundo Novo, há 463 km de Campo Grande. Foi lá que o pai da Maria de Fátima da Silveira, 54 anos, acolheu João como se fosse da família.
“Conheci ele quando eu tinha 9 anos. Ele estava doente, era anemia profunda pela falta de alimentação adequada. Até no dia que fizeram essa pergunta ao meu pai, João já tinha muita falta de ar. A cor dele não era normal e para completar, naquela época, nem existia o SUS”, contou Fátima.
Um médico de Mundo Novo ficou sensibilizado com a história e acabou ajudando, mas mesmo depois de todo atendimento, João recebeu um prazo de vida, só mais 4 dias. Não se sabe quantos anos ele tinha na época, porque João nunca teve um documento oficial. Mas baseado nas informações passadas por Fátima, devia ser 65 anos. Isso porquem há dois anos, João faleceu vítima de covid, com 110 anos.
A convivência entre João e Maria de Fátima deve ter sido de pelo menos 43 anos. Nesse tempo, ele ensinou a ela sobre amor, boa vontade, honestidade. “Sinto falta. Eu acordava e era meu primeiro bom dia. Já se passaram dois anos, mas ainda ando pela casa e lembro dos lugares que ele gostava de ficar, quando vejo, estou falando em voz alta 'Ê, Beca'”, recordou Maria de Fátima.
Beca era o apelido que a família toda o chamava. E não teve uma pessoa que não o ajudou com cuidados. E João amava o espetinho, comia com gosto. Estava sempre por lá apreciando, conversando com a clientela. “Tinha alguns até que tiravam fotos com ele. Quando dava 22h, o pessoal trazia para dormir e isso era muito legal, porque tem muita gente que enxerga idoso como estorvo.”
João sabia cativar as pessoas com seu jeito de ser. Alegre! Mas tinha seus dias de estresse e quando isso acontecia, bastava dar uma volta com ele pela vizinhança que começava a conversar, rir e o dia ficava outro. “No finalzinho da vida, ele já usava cadeira de rodas, quando a gente saía por aqui, ele falava: ‘Aqui mora fulano, aqui beltrano’, conhecia todos”, revelou dona Maria de Fátima.
A irmã do coração teve a oportunidade de fazer um último bolo em comemoração ao seu dia. O gesto revela todo o carinho que ela e todos tinham por ele. Segundo Maria de Fátima, João partiu sem nenhuma ferida pelo corpo e se pudessem, passariam muito perfume como ele gostava.
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