Pandemia muda hábito de leitores, até livro de receita é alternativa
Vários pessoas com hábito da leitura mudaram suas preferências por conta da pandemia, falta de concentração também é um reflexo
Lá vou eu dizer de novo que a pandemia mudou tudo. Sério, não aguento mais começar as matérias com introduções genéricas sobre os reflexos da pandemia em nossos hábitos. Mentira, pelo bem do meu emprego, eu aguento sim, tá?
Mas tem uma parada que pouca gente se ligou que são os livros. O que estamos lendo na pandemia? Mudou alguma coisa? A frequência é a mesma? A forma é a mesma? Os temas são os mesmos?
O Lado B perguntou para uma série de pessoas que mantêm o hábito da leitura e, já adianto, a pandemia fez mais vítimas.
Rúbia Sibele Rodrigues, profissional de marketing digital, parou com livros mais densos, que exigem mais concentração. “Estou me preparando para o mestrado e estava lendo alguns livros sobre gênero mais conceituais e teóricos, porém a concentração tem sido um desafio bem grande. Então estou dando preferência para livros mais leves que falem sobre as questões das mulheres e principalmente livros de receitas”.
A mudança no tema vai fazer Rúbia sair dessa pandemia quase uma cozinheira gente. É isso que chamo de aproveitar oportunidades. “Tenho alergia ao trigo e leite e outras restrições alimentares então estou aproveitando para ler e descobrir receitas e ingredientes que não conhecia, como o pão sem glúten de fermentação natural, por exemplo”.
Obras e temas mais leves também foi uma mudança buscada pela psicóloga Clesmânya Silva Pereira. “Busquei livros de ficção com menos conteúdo pesado e também livros com menos número de páginas do que estava acostumada a ler. Como trabalho na área da saúde, existe uma sobrecarga maior diante do cenário atual, e leituras mais leves me ajudaram a não deixar de ler”.
Clesmânya acredita que o hábito de ler em si, independente do que seja, já ajuda. “A leitura faz parte da minha vida e ler é minha paixão. Manter hábitos importantes, como a leitura, também está sendo um jeito de cuidar da minha saúde mental”.
Já o estudante Luiz Augusto Lucas da Silva continua lendo os mesmos autores e temas de sempre, a única coisa que mudou foi a forma de aquisição dos livros. “Eu acredito que não tenha mudado muito do que estou lendo, em relação a livros. Coisas sobre a pandemia eu procuro mais na imprensa”.
Criador do clube de leitura Vórtice Literário, Daniel Rockenbach, jornalista, diz que a principal mudança foi a de ritmo. “Desde que passei a ficar mais tempo em casa, passei a ler mais e com isso venho colocando a lista das pendências em dia. Antes as leituras iam se acumulando pela falta de tempo e eu sempre comprava mais livros e quadrinhos que não dava conta de ler”.
Há também quem tenha passado por mais de uma fase na pandemia, como é o caso da funcionária pública Dayse Ribeiro. “Logo no início, março e abril, eu não li praticamente nada. Mas desde então o que eu tenho lido mudou drasticamente. Antes eu lia mais coisa sobre feminismo, mais coisas teóricas, e agora simplesmente eu não estou conseguindo me concentrar nessas coisas. Então eu tenho lido muita “chick lit” (gênero de ficção feminina bem leve que aborda as questões das mulheres moderna). Tenho retomado, mas nada que exija muita concentração”.
E toda essa mudança no objeto de interesse dos leitores não fica só no âmbito de quem lê e consome, mas de quem vende também. Segundo o gerente da livraria Leitura, Wander Cezar, a despeito das vendas em geral, obras com temas de autoajuda têm saído bastante.
“Nós percebemos que houve um aumento na saída de livros de apoio psicológico, muito sobre desenvolvimento e crescimento pessoal, desses que ajudam as pessoas a enfrentarem desafios sozinhas”.
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