Para inspirar, documentário mostra desafios de mulheres no rap
Produção reúne relatos que refletem sobre os espaços, conflitos e possibilidade do gênero em MS
Durante mais de um ano, a fotojornalista Alicce Rodrigues se debruçou sobre a produção de um documentário que une mulheres rappers de Mato Grosso do Sul. Pensando em discutir sobre a invisibilidade de mulheres no gênero musical, além de estar focada em inspirar e deixar registrado o cenário, nasceu “A Cena das Mina”. A produção envolve as histórias de quatro artistas e reflete sobre como os espaços, conflitos e possibilidades permeiam o rap no Estado, nas palavras da diretora.
“Temos uma cena riquíssima no nosso Estado de mulheres artistas, com certeza com muitas histórias que ainda podemos contar e deixar registrado para a posterioridade, inspirando crianças, adolescentes e jovens a fazerem e serem o que quiserem”, diz Alicce sobre novos projetos que podem surgir a partir da primeira edição de “A Cena das Mina”.
Marcado para estrear no dia 22 de agosto no Youtube, o documentário já foi finalizado e aceito para integrar o Festival de Inverno de Bonito.
Em sua sinopse, a responsável pelo projeto apresenta o documentário como uma produção a partir da perspectiva de gênero contanto com relatos de quatro artistas. “MC Anarandá, indígena da etnia Guarani-Kaiowá; Mel Dias, artista preta e periférica de Campo Grande; Serena MC, a primeira mulher sul-mato-grossense a chegar no Estadual da Batalha de MCs e SoulRa, artista douradense com mais de 40 mil visualizações no YouTube”.
Formada em Jornalismo pela UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), ela explica que a vontade de discutir sobre o rap e especificamente o cenário de mulheres no gênero musical em MS se vincula à sua infância. “Ouvia rap desde a adolescência por influência do meu irmão Valdeir e porque cresci num bairro periférico de Corumbá, bairro Guaicurus, onde o rap e o funk tocavam nas caixas de som das ruas todos os dias”.
Com os sons e imagens ainda na memória, ela relembra que “ouvia de longe” algumas artistas como Dina Di e Flora Matos, apesar das vozes masculinas serem maioria. Sem entender o motivo do gênero estar tão presente no espaço em que vivia, Alicce só passou a compreender um pouco melhor quando ingressou na graduação.
Aprendendo sobre gênero, raça e classe, a fotojornalista explica que passou a refletir sobre o que o rap pode significar. “Esse acesso foi fundamental para eu entender o tanto que o rap representava e representa uma ferramenta de poder e transformação das realidades tipo a em que eu cresci. Infelizmente, durante a educação básica que tive, nem o rap e nem a música eram pautas de disciplinas”.
Já sabendo que as músicas que mais consumiu durante a vida envolvem uma forma crítica de observar e apresentar o sistema, surgiu a ideia de trabalhar com o rap em forma de documentário. De acordo com Alicce, ter aprendido sobre gênero e “o quanto as mulheres são invisibilizadas ao longo das histórias em todas as áreas” fez com que o recorte fosse adicionado.
Mas, para o trabalho se tornar realidade, a fotojornalista criou um grupo composto apenas por mulheres para desenvolver o projeto experimental. “Não só no rap, mas em inúmeras produções tais como filmes, séries e documentários, mulheres ocupam poucos espaços de destaque, por isso a escolha pelo produto ser assinado somente com nomes femininos”.
Em relação à produção, Alicce narra que o documentário é independente e, por isso, alguns planos precisaram ficar para projetos futuros. Precisando criar o documentário enquanto TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) e trabalhar, tudo foi intenso.
“Tinha planejado fazer gravações na rua, na orla, nas ruas que as artistas nasceram, em lugares com grafite e que remetessem à cultura hip-hop, mas eu só tinha uma lapela de 80 reais e um sonho”, brinca sobre as condições do projeto. Ainda assim, com as adaptações necessárias, o documentário foi sendo desenvolvido.
De acordo com Alicce, as gravações foram feitas no Museu da Imagem e do Som, “graças a Marinetti Pinheiro, coordenadora do MIS que abriu as portas pra mim de lá. Trabalhei numa campanha política em 2022, o que me ajudou a remunerar a editora, comprar a lapela e um tripé que usamos, porque com a correria de entregar relatório e defender o TCC eu não tinha tempo de editar”.
Pensando sobre a falta de apoio financeiro, ela defende que não ter dinheiro nunca foi um problema. “A vontade maior era de fazer acontecer e acredito que quando temos amor e vontade envolvidos nós fazemos os sonhos acontecerem”.
E, lembrando que o documentário foi um projeto experimental produzido durante a graduação, a fotojornalista comenta que a orientação é um dos destaques. “É importante mencionar que esse projeto foi orientado pela professora Dra.. Daniela Giovana Siqueira, do audiovisual, que foi fundamental pra eu conseguir fazer o documentário com qualidade porque dentro do jornalismo não aprendemos nada sobre vídeo. A minha área sempre foi a fotografia, o fotojornalismo. Mas pra honrar o nome de Projeto Experimental, quis experimentar e me desafiar no vídeo. Ter uma orientadora de audiovisual foi fundamental para sair com qualidade”.
Para acompanhar os trabalhos de Alicce e conferir o documentário no dia 22 é só acessar o perfil do Instagram @aliccerds.
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