Para não engolir o choro, banheiro vira esconderijo no trabalho
Enquete revelou que 80% das pessoas já choraram no banheiro do serviço
Chorar no ambiente de trabalho é uma experiência que muitos profissionais já vivenciaram uma ou mais vezes. Há quem diga que o ato é falta de profissionalismo e falta de postura do trabalhador. Mas será que quando a vontade de chorar vem, o melhor é engolir as lágrimas? E se você decidir que vai chorar mesmo, qual lugar é o escolhido para lidar com essa situação? Chorar em público é uma opção?
No período que fazia estágio, a jornalista Fernanda Sandoval, 24 anos, nunca chorou no meio do expediente, porém foi no primeiro emprego que ela se viu nessa situação. “Fui ao banheiro chorar e, quando voltei, acredito que por educação, ninguém comentou. Isso no primeiro emprego, mas no último, aconteceu poucas vezes, mas em algumas repararam”, comenta.
Enquete realizada no sábado (18) pelo Campo Grande News revelou que, assim como no exemplo da Fernanda, 80% das pessoas costumam correr para o banheiro quando querem chorar. Já outros 20% responderam que costumam chorar em público.
Na visão da Fernanda algumas pessoas não sabem lidar ao verem outras chorando em público. Para ela, o ato emocional é um tabu na sociedade. “A gente não sabe lidar nem com as nossas emoções, imagina emoções alheias externalizadas assim, de modo tão escancarado. A gente não sabe ver alguém chorando na mesma medida que também não sabemos externalizar esses sentimentos”, opina.
Para ela, sempre existe uma série de circunstâncias que levam alguém a chorar no local de trabalho. “É meio surreal a gente se sentir tão afetado pelo ambiente em que estamos inseridos a ponto de internalizar algumas coisas e chorar escondido por não conseguir lidar com essas situações”, diz.
A estudante Laís Moura Rodrigues, 24 anos, teve a experiência de trabalhar em quatro lugares. Em todos eles, a jovem acabou derramando lágrimas na frente dos colegas. “E nunca senti vergonha de chorar na frente de quem quer que seja. Quando o choro vem, é porque estou no meu limite com algo e não consigo segurar”, conta.
Sem sentir vergonha na hora, Laís confessa que depois acabava se culpando. Nas situações em que chorou em público, ela revela que foi por não conseguir ir até um espaço isolado. “Já chorei no banheiro, mas na maioria, eu não aguentava nem chegar até lá. Sempre foi estresse do trabalho, nunca deixei a vida pessoal me abalar”, ressalta.
Além de chorar no serviço, Laís também presenciou outros colegas em situações vulneráveis. Um desses casos é bem emblemático para ela, pois a colega foi repreendida. “Vi um gerente falar para outra funcionária parar de chorar e fazer drama na frente das pessoas, porque aquilo era antiprofissional”, expõe.
A agente de combate às endemias, Adriana Benedito, 40 anos, é do time que já tentou segurar o choro, contudo, não conseguiu. Mesmo assim, ela também não vê problema em chorar no emprego. “Somos seres humanos movidos por emoções, então, acredito ser normal o choro, mesmo em locais de trabalho. Um momento de choro, que não seja algo cotidiano, é algo normal e compreensível”, defende.
E se para alguns não é um tabu demonstrar sentimentos, outros acabam sofrendo complicações por conterem as emoções. É o exemplo da professora Tainara, 27 anos, que pediu para não ter o sobrenome divulgado. “Tinha vontade de chorar todo dia, mas engolia e seguia. Um dia passei mal de estresse e parei no hospital. Na minha cabeça, o problema era eu. Até que comecei a trabalhar em outro período e percebi que o problema não era comigo”, fala.
O que diz a psicóloga? - Em situações delicadas, como querer chorar no trabalho, o melhor a fazer é procurar um local seguro e confortável. É o que defende a psicóloga Talita Akamine, 27 anos. “O choro está relacionado com as nossas questões emocionais. Às vezes, vem com uma intensidade de desespero atrelado com uma crise de ansiedade. Quando o choro vier, chore, procure um ambiente que te trará um conforto”, diz.
Além de externalizar os sentimentos, a psicóloga também argumenta que é necessário ser uma rede de apoio para o colega que está passando por essa situação difícil. Para quem tem receio de como abordar o colega que está chorando, Talita explica a melhor maneira de agir. “Acolher sem julgamento é o princípio de tudo. Precisamos escutar mais as pessoas, dar espaço para que elas consigam expor em palavras suas angústias, seus pensamentos e respeitar o momento de cada um”, frisa.
Chorar em público, no trabalho ou em qualquer outro lugar não é sinal de fraqueza. A psicóloga enfatiza que, às vezes, a melhor saída, caso a pessoa se sinta confortável, é chorar sem medo de ser julgada ou se arrepender.
Contudo, ela lembra que é necessário estar atento à saúde mental e sempre procurar ajuda profissional. “Quem faz terapia, procurar o profissional, caso não tenha, procurar um familiar ou amigo de confiança. Quando estiver atrelado com algo mais intenso e constante, procure uma ajuda especializada”, conclui.
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