"Pastor" acorda vizinhos aos berros e espalha placas apocalípticas em ruas
Moradores reclamam que ele não economiza no volume do som às 5h e espalha frases dizendo que mundo vai acabar
Até quem não sabe ler se espanta com dezenas de placas espalhadas entre os bairros Colibri e Jardim Canguru. A diarista Diva Muritiba descobriu que na maioria delas a palavra em letras garrafais é “apocalipse” e levou um susto. “Nossa Senhora, eu nunca percebi porque eu não sei ler. Pra que alguém quer colocar medo na gente?”, questiona.
Em pedaços de papelão e placas velhas de madeira, frases citam versículos bíblicos do Novo Testamento, principalmente dos livros de Apocalipse, Lucas e Coríntios.
Os recados deixados pelo responsável pelas mensagens são do tipo: "Tenham cuidado, para não sobrecarregar o coração de vocês de libertinagem, bebedeira e ansiedades da vida, e aquele dia venha sobre vocês inesperadamente. Porque ele virá sobre todos os que vivem na face de toda a terra”.
A maioria das pessoas que passa pela Rua Francisco de Souza, continuação da Rua Catiguá, diz que percebeu a presença dos recados há pouco tempo. “Passo todo dia para ir ao trabalho e só vi agora”, diz a Maísa Teodoro, de 21 anos.
Mas outras observadoras falam de pelo menos 2 anos de espanto com o que consideram “maluquice”. “Sou religiosa, mas tem de ser muito maluco para ficar falando de fim do mundo, ainda mais agora que todo mundo anda brigando por política”, avalia a professora Eunice Santana, de 43 anos.
O material está preso em árvores e cercas em uma área de mata que parece lixão e cita livros, capítulos e versículos. É preciso abrir a Bíblia para ler textos como “não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus”.
Do outro lado da rua, os recados continuam, mas em frente à Igreja Missionária a Última Trombeta.
O pastor responsável pelo lugar, João Faria, diz que já não aguenta mais responder que não tem nenhuma relação com os atos que diz ser, no mínimo, “poluição visual”.
“Já falei mais de 10 vezes com o homem que espalha isso. Ele diz que é para evangelizar, que é um missionário nômade, mas acho que ele odeia igreja. Quando me perguntam, sempre digo para as pessoas que Jesus é muito maior e que não é pra ligar para aquilo”.
Mas em alguns casos, não tem como fingir não ver ou ouvir. A 4 quadras do local onde as placas começam, a fachada de uma casa deixa claro de onde partiram as placas apocalípticas, exibindo outras citações como: “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa.”.
Poluição sonora
Tem dias que os vizinhos acordam com o som do tal pastor, que ninguém sabe o nome. “Todo dia, 5 horas da manhã, ele coloca o cachorro e o Corolla dele na rua e liga o som no último volume com pregação. Ninguém aguenta”, diz morador que pediu para não se identificar.
Outro conta que também nunca descobriu o nome do homem que se apresenta apenas como pastor. "A filha dele que morava aí. Ela saiu e ele se mudou pra cá há pouco tempo", garante.
Na casa, o tal Corolla realmente estava estacionado na manhã de ontem, mas apesar de muitos chamados, da porta estar aberta e de parecer movimento dentro do imóvel, o dono da casa resolveu não sair para “evangelizar” a equipe do Lado B.
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