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Comportamento

Prestes a realizar um sonho com os filhos, câncer mudou a vida de Roberto

Thailla Torres | 08/06/2018 08:07
Aos 63 anos, Roberto é um forte que superou grandes dores ao descobrir o câncer. (Foto: Saul Schramm)
Aos 63 anos, Roberto é um forte que superou grandes dores ao descobrir o câncer. (Foto: Saul Schramm)

O campo-grandense Roberto Lourençone, de 63 anos, desembarcou de um sonho direto o para o Hospital de Amor, em Barretos (SP), para o tratamento de um câncer colorretal. Depois de passar o ano passado inteiro juntando as economias para uma grande viagem de férias com os filhos e a esposa, veio a notícia que fez a família mudar os planos e a rotina para fim de ano. Acometido por um tipo de câncer bastante comum entre homens, Roberto se manteve discreto, falou pouco da doença para desconhecidos e guardou durante muito tempo suas maiores dores. Hoje ao superar cada etapa do tratamento, ele decidiu contar sua história no Voz da Experiência para que outros pacientes não deixem de lutar, principalmente, que os homens não abandonem sua saúde.

Bolsa de colostomia hoje faz parte da rotina. (Foto: Saul Schramm)
Bolsa de colostomia hoje faz parte da rotina. (Foto: Saul Schramm)

Eu sempre fui um cara muito saudável, há anos não ia ao médico e nunca fui freguês de médico. Meus filhos todos têm plano de saúde e eu não tenho. Achava desnecessário pagar um plano e até brincava com meus amigos que nem ressaca eu tinha, me sentia forte.

Em março do ano passado comecei a perceber uma diferença quando ia ao banheiro. Sempre tive o costume de olhar o vaso depois das necessidades, uma vez ouvi um médico dizer que nossa saúde também está nas fezes. Ali que você percebe se está saudável.

Um dia vi uma mancha escura, pensei no primeiro momento que fosse algum alimento diferente. De uma, surgiu três manchas. Comecei então a mudar minha alimentação e felizmente quem cozinha em casa sou eu, sem uso de frituras e doces. Mas quando foi em abril passei a perceber que aquelas manchas eram sangue. Logo depois veio a diarreia.

Eu sempre durão achando que aquilo era apenas um desequilíbrio intestinal, cheguei em um ponto que comecei a sentir dores e mais sangramento. Só então fui ao médico.

Fiz diversos exames e fui diagnosticado com retocolite ulcerativa, uma doença intestinal inflamatória e crônica que provoca inflamação no trato digestivo. Em casa pesquisei o problema e os sintomas eram bem parecidos, mas aquilo não me causaria tantas dores como eu estava sentindo. Mas sem reclamar segui o tratamento e achava que dominaria aquilo com segurança.

Tomando os remédios percebi que nada fazia efeito. Voltei ao médico para pedir uma colonoscopia. Sou do tipo curioso que pesquisa tudo antes de ter certeza e cheguei a pensar que estava com um tumor no reto, antes de fazer o exame.

O diagnóstico veio em setembro. Logo após o exame, o médico veio com a coleta para fazer a biópsia e me disse que eu estava com tumor. Sem muitas expectativas, imaginei que o câncer seria maligno e realmente isso se confirmou.

Mudanças - Não me desesperei e não entrei em pânico, mas lembrei dos planos que foram todos mudados naquele momento. Nós estávamos economizando desde o início do ano para levar os três filhos pequenos à praia pela primeira vez. Eles já estavam vivendo a expectativa de sentir o mar e areia nos pés, contando os dias para a praia que nunca foram. Mas tivemos que interromper porque não sabia o que seria pela frente.

Eu pedi sigilo para minha esposa e só comentamos sobre a doença com pouquíssimas pessoas da nossa família para saber como eu iria resolver isso.

Encontrei ajuda com um grande amigo meu que tinha duas filhas que estavam fazendo residência no Hospital de Amor, em Barretos. Mandei minhas documentações e por sorte consegui uma vaga para me tratar lá.

Mas nenhuma dor apaga sua fé na cura. (Foto: Saul Schramm)
Mas nenhuma dor apaga sua fé na cura. (Foto: Saul Schramm)

Tive de custear os gastos com viagem e em 15 dias cheguei lá para começar o tratamento. No hospital eles refizeram todos os exames e então veio a necessidade de fazer 10 sessões de quimioterapia e 28 de radioterapia, para combater as células e evitar a metástase.

Todo mundo reclamava muito da quimioterapia. Realmente ela baixa sua imunidade, você fica muito frágil e eu fiz cinco sessões de quimioterapia e cinco radioterapia em cinco dias. Isso foi altamente agressivo, é precisa estar muito preparado emocionalmente e fisicamente para aguentar isso. De tão agressivo foi necessária uma transfusão de sangue para conseguir suportar.

Eu suportei, apesar de perder peso e sentir os efeitos de dois meses de tratamento. Cheguei ao ponto de ir ao banheiro 30 vezes por dia e sentir muitas queimaduras.

Mesmo com todas essas dificuldades eu era lembrado como o homem que acabava com a tristeza. Tentei durante o tratamento manter o bom humor e a fé de que logo sairia do hospital para continuar minha vida ao lado da família.

Um dia, com muita dor e queimação, eu rezei e pedi a Deus para que tirasse aquela dor de mim e me deixasse ir à igreja. Sabia que já estava carregando o fardo, mas o ombro não estava aguentando. No outro dia consegui ir até a igreja e dias depois fiz as últimas sessões de radioterapia.

Me deram dois meses de prazo para me reestabelecer e encarar a cirurgia de colostomia, onde seria colocado uma bolsa para eliminar os gases e as fezes. Fiz com um sistema robotizado que é menos agressivo e no pós-operatório, pedi ao médico que não me dessem tanta morfina. Queria estar consciente e suportar a minha dor. Graças a Deus suportei.

A colostomia requer cuidados especiais e principalmente consciência do paciente. Mas a maioria das pessoas nem gostam de falar do assunto, afinal, é um procedimento invasivo e muitas vezes difícil de aceitar.

Mas sempre fui muito esclarecido sobre as minhas condições. Passei a olhar a doença com outros olhos e nunca perdi a fé de que em breve vou me recuperar também desta cirurgia. Há 50% de chance de recuperação e outra 50% de ficar com bolsa eternamente. Mas seja qual for o caso, eu continuarei lutando do mesmo jeito.

As pessoas ficam surpresas com a minha força. Mas quando enfrentei todas as minhas dores, pensei muito na vida, na minha família e na chance de recuperação que eu estava tendo. No hospital, muitos companheiros que estavam na mesma condição que a minha partiram antes de ver o sucesso.

Hoje sou muito agradecido, primeiramente à Deus, a minha família e ao hospital, um lugar em que as pessoas trabalham conforme o nome, totalmente influenciados pelo amor. Lá tive um acompanhamento que não imaginava, na sala de quimioterapia formamos uma nova família, todo mundo torcendo pela vida do outro. E sem perder a fé conseguir voltar para a casa e hoje tenho certeza que estou curado.

Pelo hospital serei acompanhado durante cinco anos, só então é considerado cura. Mas no meu coração eu sei que o tumor não me vencerá. Quanto a minha saúde, continuo levando uma vida saudável e não importa a idade, é necessário ter um olhar especial para nossa saúde.

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