Quando uma criança espanca outra, quais lições ficam para os pais?
Nesta semana ferveram nas redes sociais imagens de um caso de violência entre crianças de 8 e 9 anos durante jogo em escolinha de futebol dentro de um condomínio de Campo Grande. As cenas de uma das crianças sangrando, com dentes quebrados, levantou uma série de reflexões, especialmente, nos grupos de WhatsApp. Mas independente dos motivos e das reais circunstâncias, o que fica são os questionamentos dos pais sobre como reagir diante desse tipo de reação exagerada dos filhos, tanto sobre quem bate, como os que apanham.
Os motivos para a violência apareceram aos montes, assim como os ataques aos pais em relação a criação dos filhos.
Para quem insiste em culpar e pedir punição aos pequenos, a psicóloga Salua Omai, com mestrado em Psicologia da Saúde e Saúde Mental e doutoranda em Psicologia pela USP, repete. “As crianças, em primeiro lugar, podem ter atitudes de agressão com base em modelos dentro de casa, que também podem ser uma relação com questões que elas não estão conseguindo expressar”.
O mais importante, na avaliação dela, é que os adultos tenham cautela com a forma como usam as palavras, como julgam as pessoas, o que também pode influenciar como a criança aprende a julgar outras crianças e reagir.
“Uma questão que eu sempre aponto nos cursos, será que os pais ficam cientes do que as crianças sabem ou o que uma criança está falando para outra?”, questiona.
Em casos de violência extrema como a que viralizou em grupos de mensagens em Campo Grande, a psicóloga explica que existe dois modelos de criação que podem ser danosos e levar a casos como esses. Um deles é a educação muito autoritária, onde a criança pode internalizar esse tipo de comportamento e seguir por caminhos como rebeldia, vingança, mentira ou silêncio, em que a criança pode ter um impacto emocional grande a ponto de ter medo de se expressar.
Além da perspectiva autoritária, outro extremo é a educação permissiva, onde pais nunca falam não ou que tentam compensar a ausência com coisas materiais. “Essa criança se torna difícil de ser controlada, ela passa a querer fazer e falar tudo o que quer para os outros, ela pode ter características que pode enfrentar os adultos, ela se torna dominadora”, explica a psicóloga.
Empatia é a chave – O ideal em diferentes casos é o os pais chamarem a criança e promover um diálogo onde eles estimulem a empatia, e fazer com que ela sinta, que ela se coloque no lugar, pensa como se ela estivesse na situação de risco.
“É importante também perguntar o que mobilizou a criança a fazer aquilo, o que está incomodando tanto para poder entender o que ela está querendo dizer com esse comportamento”, sugere.
Para quem fica assistido o burburinho sobre o caso de violência de fora e apontando o dedo para os pais, a dica é que isso também não ajuda em nada, avalia a psicóloga. “Há uma moralização de querer mostrar o certo e o errado. Mas o melhor é evitar o julgamento de algo que a gente nunca sabe exatamente o que está acontecendo, pois isso realmente não colabora, só aumenta o fogo”.
Mais do que isso, na criação, a psicóloga mostra que além do diálogo, o encorajamento é crucial para evitar casos de violência. “Infelizmente, muitas crianças só são lembradas quando cometem erros. É necessário encorajar esses pequenos dentro de casa quando há comportamentos corretos. É válido lembrar que encorajar é diferente do elogiar. Encorajar é valorizar o esforço mesmo que o resultado tenha sido imperfeito”.
Salua finaliza dizendo que, durante a vida, na maioria das vezes, são os pais que ensinam as crianças a olharem para os outros, portanto, “as raízes de tudo isso vem dos modelos parentais”. Em casos de violência, o primeiro questionamento é: a criança aprendeu a agredir com quem? “Mesmo que ela não tenha aprendido em casa, se está agredindo outros, ela não está emocionalmente estável e não está tendo onde descarregar suas emoções. E isso é importante de ser observado e trabalhado junto com a criança”.
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