"Rei da gambiarra" ensina pobre a proteger a casa dos ladrões
"Braddock", como é conhecido, protegeu a casa toda com espelho, retrovisores e ensina até preservar carro
Rico gasta fortunas com câmeras, fechaduras eletrônicas e um aparato de segurança. Mas como assalariado mal consegue pagar as contas, um "especialista" em gambiarras criou soluções que vão muito além dos cacos de vidro espalhados pelos muros.
Aos 63 anos, Braddock adora o apelido que ganhou depois do filme de mesmo nome, lançado em 1984, com Chuck Norris como protagonista. Uma espécie de concorrente do Rambo, com a velha trama do prisioneiro de guerra no Vietnã que lidera uma missão para resgatar seus compatriotas. "Eu era barbudo como ele e me achavam parecido. Porque meu nome mesmo é feio pra dedéu, minha avó que deu: Epaminondas Almeida Lima", explica o ex-policial militar.
No Bairro Caiçara, ele mesmo avalia que "não bate muito bem da cabeça". Conta que até já saiu atirando na rua quando vizinho exagerou no volume do som e até hoje responde processo por isso.
Ele encarnou mesmo o personagem de cinema, só que bem mais parecido com MacGyver, o cara da série de TV que terminou em 1992, "herói" que resolvia os problemas mais complexos do mundo ao criar coisas até com casca de banana.
O nosso Braddock também é um inventor do ramo de segurança. A área externa da casa é cheia de espelhos, garrafinhas e retrovisores velhos, colocados em pontos estratégicos para nenhum bandido pegá-lo de surpresa. "Comecei no Exército, depois fui para a Polícia Militar, então entendo muito como ladrão pensa", justifica.
Na fachada, retrovisores velhos foram instalados em pontos estratégicos para visão dos dois lados da rua, inclusive de bar que fica perto. Dentro, além do cachorro bravo, pedaços retangulares de espelho estão por todo o muro da casa, para que, da janela, Braddock veja se algum estranho perambula pelo quintal.
Isso sem contar os cadeados e os pesos nos portões para dificultar alguma invasão e alertar o proprietário com o barulho. Também a cada meio metro de muro, uma garrafinha de plástico "protege a casa de raios", diz, sem nenhuma explicação científica.
As imagens de Nossa Senhora Aparecida em um cantinho da sala e a tatuagem de uma águia protetora no braço direito também ajudam na defesa dele e da casa onde ele vive com a esposa, comenta
Mas não é só nesse tipo de segurança que Braddock investe, o aposentado também criou estratégias para poupar duas "preciosidades" do desgaste. Na garagem, o que chama atenção é uma placa branca de papelão em cada roda do Siena estacionado.
"Vou te ensinar uma coisa: cachorro macho fica urinando no pneu e a roda acaba enferrujando. Por isso que acontece acidente na estrada. O povo diz que estava fazendo uma curva e a roda quebrou. É por isso", garante.
Outra relíquia de Braddock é um Fusca, ano 77, escondido no quintal. Nesse caso, a tampa de uma caixa d'água é a estranheza no cenário. "É porque fica no sol e, quando a gente deixa o carro no sol, o combustível evapora. Então, sempre tem de proteger".
O amarelinho já está bem machucado pelo tempo, mas depois de seis tentativas frustradas e cheiro forte de gasolina, o motor prova que o companheiro das antigas ainda aguenta uma batalha. No interior, tudo é desgastado, mas original, um xodó sem dinheiro para o conserto.
"Eu comprei para recuperar, mas a aposentadoria é quase nada. Mal dá para sustentar a casa. São 2.700 e pouco por mês líquido", diz. Por isso ele resolveu dar para o filho, que até hoje não foi pegar.
Braddock diz que gostava de ser PM, mas fala que tem um orgulho maior: "Nunca matei ninguém". Para não ter de enfrentar o confronto, garante que sempre foi motorista e mostra a posição que normalmente ficava na viatura, para se proteger de eventuais disparos. "Ficava assim no cantinho, encostado na janela, porque bandido chega atirando no vidro da frente e desse jeito eu meio que me escondia", diz.
Contraditório, mesmo contando a história do dia em que deu dois disparos na calçada para acabar com o som alto do vizinho, ele defende o desarmamento. "Não adianta dar arma para quem não sabe atirar e acha que vai conseguir se proteger. Arma nesses casos sempre vai servir só pra matar", justifica.
A aposentadoria veio cedo, segundo ele, um dia saindo do trabalho, sofreu um acidente de moto. "Foi feio, até hoje não consigo movimentar meu dedo direito e tive de colocar um pino no pé". Parou com as rondas, mas não abriu mão de um dos dotes de Braddock: o preparo físico.
Fez fisioterapia, recuperou os movimentos do pé e aos poucos começou a treinar. Hoje é maratonista, conta, exibindo orgulhoso uma caixa de medalhas e troféus de competições pelo Brasil. "Mas onde eu mais gosto de correr mesmo é em Ponta Porã. Enquanto eu estou dormindo pra me preparar para o outro dia, o povo tá bebendo e curtindo, aí fica fácil ganhar", detalha outra estratégia que usa na vida.
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