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Comportamento

Sabe a angústia do isolamento? É só uma amostra do puerpério

Reclusão sem data para acabar seguido das frases "vai passar" é o que as mães vivenciam nos primeiros meses de vida de um bebê

Paula Maciulevicius Brasil | 12/04/2020 08:55
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Eu jurava ser coisa apenas na minha cabeça. Comparar a quarentena com o puerpério? Deve ser porque eu vivo o isolamento com praticamente dois bebês. Mas não... No clamor de ser ouvida, uma colega jornalista que lida com redes sociais, me chama para conversar. Também não sei quem foi 'reclamar' primeiro. Se fui eu ou ela, mas a gente se encontrou nos lamúrios e lamentações e, mais ainda, em uma constatação: isolamento parece o puerpério.

"Sou só eu ou às vezes parece o puerpério?", me pergunta ela depois de acordar surtada numa manhã desta semana. Por sorte, e amor, a madrinha pegou uma das crianças e deu à mãe um tempo essencial para sobreviver à quarentena. Foram poucas horas, mas que já valeu o descanso. 

Perguntei por que ela pensava assim: "A sensação de enclausuramento, principalmente. Porque no pós parto não dá pra sair com o bebê. Meu maior gatilho é a chuve, antes de ontem choveu de tarde, e eu trancada com dois em casa, morri de chorar. 

Acho que é essa sensação de ficar trancafiada + ter que fazer mil tarefas e ainda cuidar deles + pressão/medo por conta do vírus + cobrança pra ser a mãe perfeita que faz atividades lúdicas".

Se para você a palavra puerpério soa estranho, talvez seja por não ter vivido o pós-parto ou até tenha vivenciado, mas não sabia que aquela angústia sentida entre alegria e tristeza, muito choro e solidão, tinha nome. Puerpério.

O significado é: "período que se inicia imediatamente após o parto e pode durar até o primeiro ano da vida do bebê. Fase marcada por intensas transformações. Quem era só filha, agora se vê mãe de um ser exclusivamente dependente de você", quem descreve a explicação é a psicóloga tão falada aqui, Keyth Gimenez Barros, a quem sempre recorro como paciente, e também jornalista.

"Eu faço essa comparação mesmo lá com o período de puerpério, onde a mãe passa por aquele isolamento social, e muitas vezes ela adoece sim. Ela não fica sem sair de casa por 15, 20 dias, são meses naquele movimento...", acrescenta Keyth.

E junto de todo este misto de sensações, tal qual o puerpério, também na pandemia vem a frase: 'vai passar, vai passar', na tentativa de dizer que tudo passa, que o tempo ajeita, ou deixa as mães mais fortes ou o peso da maternidade mais leve. No entanto, como quem está no meio do furacão no pós-parto, viver uma pandemia é também não acreditar que 'vai passar'.

Gostaria, como mãe e pessoa, que me respondessem: vai passar QUANDO?

Até lá, fiquem em casa. E se surtarem, me escrevam: paulamaciulevicius@news.com.br. Não consegui responder a alguns e-mails, voltou. Então manda seu WhatsApp, vamos montar um grupo? Sobreviveremos à quarentena? Eis a questão.

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