Sandy estuda enquanto vende meias para ter diploma e honrar a avó
Equatoriana trabalha vendendo meias, máscaras e cuecas, mas no tempo livre aproveita para estudar
Natural do Equador, Sandy Jacquline Amaguana Ipiales, 19 anos, é uma vendedora que tem o sonho de ser enfermeira. A profissão ela escolheu aos 4 anos após presenciar uma tragédia que levou a avó. Enquanto não ingressa na universidade pública, onde almeja estudar, ela segue trabalhando na barraquinha que montou na Avenida Afonso Pena, próximo a Escola Estadual Joaquim Murtinho, em Campo Grande.
Na calçada, debaixo de uma pequena árvore, Sandy fica de segunda a sexta, das 7h30 às 16h. No local, vende cuecas, máscaras de proteção contra a covid-19, meias infantis, adultas e sociais de diversos tamanhos, estilos e preços que variam entre R$ 5 a R$ 10.
É com a voz baixinha e o jeito manso de falar que ela conta sobre a vida. Há seis anos, Sandy saiu da cidade de Otavalo, no Equador, para morar com o pai no Brasil. “Ele tá aqui faz tempo, faz 11 anos já, eu moro com ele”, explica. Na Capital, ela concluiu os estudos e recorda com orgulho as boas notas que tirava. “Uma vez tirei 10 em química, eu era boa, mas tenho que praticar de novo, porque acho que tô esquecendo”, ri.
Enquanto trabalha, Sandy carrega um caderno grande onde faz anotações do cotidiano. “É para praticar minha memória, escrever o que eu acho, é tipo um diário”, revela. Quando não está escrevendo o diário, Sandy aproveita o tempo livre para estudar português. No dia da entrevista, a vendedora deixou o material em casa, pois havia finalizado a apostila. “Eu terminei o livro de 377 páginas, estava traduzindo ele”, conta.
A tradução de livros foi a forma que ela encontrou para poder aprender o idioma do novo país. Após seis anos, ela recorda o título da primeira obra que traduziu. “Eu peguei emprestado o livro Pássaro Voador. É uma história que dá motivação para estudar e seguir os sonhos”, fala.
Questionada sobre qual é o maior sonho que tem, Sandy confessa que estuda para cursar enfermagem na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Através do trabalho, a jovem pretende ajudar outras pessoas e honrar a memória da avó. “Quando eu era criança minha avó morreu em um acidente de carro e os enfermeiros não chegaram rápido. Então, eu falei: quero poder ajudar por causa da minha vó”, revela.
Pelo segundo ano consecutivo, ela prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e aguarda ansiosa o resultado do vestibular. Enquanto não chega a hora, Sandy continua estudando e recebendo os clientes com muita simpatia.
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