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Comportamento

Se afeto é revolução, Ilda fez a dela na escola e no Aero Rancho

Morte precoce inundou caixas de mensagens da filha com relatos de como a mãe professora será lembrada

Por Cassia Modena | 24/10/2023 06:51
Além de ensinar o a-bê-cê, não economizava nas palavras e gestos de carinho distribuídas aos alunos. 
Além de ensinar o a-bê-cê, não economizava nas palavras e gestos de carinho distribuídas aos alunos.

Ilda Magalhães começou a trabalhar ainda muito jovem como professora, em Miranda. Foi seu primeiro emprego. Aprendeu na prática a alfabetizar crianças numa época em que universidades eram escassas.

Além de ensinar o a-bê-cê, não economizava nas palavras e gestos de carinho distribuídas aos alunos. Ficou eternizada na memória de muitos como alguém que mostrou o valor das coisas simples da vida.

Sair com a turma da pré-escola por alguns minutos para deitar na quadra da escola e observar o céu, por exemplo, foi uma experiência inesquecível que a professora proporcionava. Depois, todos tinham que fechar os olhos para ouvir uma historinha.

Alunos daquela época gostariam de abraçá-la novamente, como a Paula Maciulevicius (Foto: acervo pessoal)
Alunos daquela época gostariam de abraçá-la novamente, como a Paula Maciulevicius (Foto: acervo pessoal)
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
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Gostava de cantar junto aos alunos e estava sempre bonita e bem arrumada na escola. Uma vez, o visual chamou mais atenção porque fez luzes no cabelo, e ela achou graça dos alunos quererem ver de perto e tocar os novos fios loiros.

No seu casamento, as crianças da escola se vestiram de branco e foram pajens da professora querida. Duas filhas vieram daquela união, e com elas o diploma do magistério, enfim.

A mudança de Miranda para Campo Grande na década de 90 em nada mudou educadora carinhosa, paciente e muito criativa que Ilda era. Só fez aumentar o número de corações conquistados. O Lado B mostrou um deles aqui, no último Dia dos Professores.

A professora segurando um de seus canudos na mão (Foto: acervo da família)
A professora segurando um de seus canudos na mão (Foto: acervo da família)

Depressão e mudança de profissão - Por causa de uma depressão pós-parto que acabou se prolongando, Ilda começou a ter lapsos de memória pouco depois de começar a morar na Capital. Abandonar as salas de aula foi inevitável. Até o nome dos alunos era difícil lembrar.

Ela então se tornou agente comunitária de saúde no Bairro Aero Rancho. A nova profissão também tinha muito a ver com seu jeito de ser. Jeito de quem fazia do trabalho um instrumento para dar afeto e ajudar o próximo.

Mas acabava tomando para si a dor e a dificuldade do outro, de uma forma que a adoeceu mais. Nas casas que vistoriava, entendia como a desigualdade social poderia castigar famílias e se entristecia. Sempre fazia tudo o que estava ao alcance para ajudar.

Quis trocar novamente de profissão e formou-se no curso técnico de enfermagem. Trabalhou até a aposentadoria no centro de esterilização da Santa Casa de Campo Grande. Foi dedicada, gentil e amorosa em todos os lugares onde trabalhou.

Mãe e avó - Quem narrou a história de Ilda até aqui foi a filha Dyovana. Ela juntou recortes do que sabe sobre a história da mãe a relatos que inundaram suas caixas de mensagem no dia em que Ilda morreu.

Fora tudo o que conseguiu ser no trabalho, ainda conseguiu ser uma mãe e avó maravilhosas em casa. "Ela deixava de lavar roupa ou de fazer qualquer outra obrigação em casa para tomar banho de chuva com a gente", lembra. Dyovana tem uma irmã.

Deixou três netos: a filha de Dyovana e outros dois, da irmã. Sua vida foi interrompida enquanto cuidava do mais novo, ainda recém-nascido.

Ilda morreu aos 52 anos em abril de 2021, devido a complicações da covid-19. "Não sem antes levantar corrente de orações e muita torcida por sua vida na família e por parte de quem ela tocou o coração por onde passou", lembra a filha. Foram 15 longos dias de internação até o ponto final de sua história.

O que ficou de quem partiu - Dyovana acredita que mostrar o poder do afeto foi a maior herança da mãe e uma pequena revolução dela em tempos em que o individualismo reina.

"Ela era só amor pelo próximo, doação mesmo. Uma pessoa muito querida por todos e que deixa saudades demais". O conforto dela e da irmã é saber que Ilda deixou memórias vivas e plantou amor em muitos corações espalhados por aí.

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