Se perder um filho é difícil, imagine a dor de quem se despediu do neto
Neto de Romilda morreu aos 9 meses, e assim ela descobriu como é viver a tristeza em dobro.
Aos 53 anos, a funcionária pública Romilda Herebia admite que não havia percebido o quanto amor de avó é forte. Para ela, só o sentimento de mãe era incondicional. Mas então vieram os netos. Foram 9 meses da chegada do último deles, Luiz Gustavo, até o momento da notícia que destroçou a família. O menino morreu, após uma série de diagnósticos que ainda deixam a família em dúvida. Foi assim que Romilda descobriu como perder um neto é viver a tristeza em dobro.
"Todo mundo falava que amor de avó é dobrado, mas nunca achei isso, porquê acreditava que só o amor de mãe é divino", diz. Mãe de 4 filhas e avó de 6, cuidar dos netos para ela era o maior tesouro do dia. "Cuidar deles sempre foi uma alegria. Sei que para as minhas filhas essas crianças tem valores inestimáveis e são tudo o que elas têm de mais sagrado".
Quando a tristeza tomou conta, veio à tona o sentimento que até então ela não compreendia, pela própria perda e ao ver a dor sentida pela filha.
O neto foi internado pela primeira vez no dia 3 de maio com diagnóstico de meningite. Após cinco dias de internação, voltar para a casa nos braços da mãe mãe Alessandra Herebia de Oliveira, de 27 anos, mãe de gêmeos, Luiz Gustavo e Benjamin.
O bebê se alimentava bem, brincava e sorria para alegria de toda família. Mas em junho, a febre alta voltou e foi o alerta de que alguma coisa não estava bem. "No dia 23 de junho levamos ele ao hospital e fizeram inalação. Nesse dia, pela primeira vez, ele teve uma reação, o corpinho ficou avermelhado e trêmulo", descreve a filha de Romilda.
As horas seguintes deram início à luta da família pela vida de Luiz Gustavo. O menino foi internado no mesmo dia, após receber o diagnóstico de asma. Não demorou muito e a mãe recebeu a notícia de que era pneumonia. Dali em diante a criança não respirava bem, precisou oxigênio e sofreu uma parada cardiorrespiratória. "Ele ficou 26 minutos sem respirar. Para uma criança, esses minutos podem ser decisivos", diz a avó.
A criança ficou dias em um hospital particular da cidade até ser transferida para um hospital público que possui UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Mas o processo demorado só aumentou a angustia e a dor da família, que ao lado de Romilda, assistia o sofrimento do neto que não respirava mais sozinho e nem respondia aos estímulos da equipe médica.
Alessandra não perdeu a esperança, nem por um minuto. No dia 2 de julho, durante a última visita, os batimentos cardíacos e a saturação variada do filho davam a ela a sensação que em breve o levaria para a casa. "Eu não acreditava que ele ia morrer, eu achava que íamos vencer aquele momento difícil. Mas no último dia, a situação dele piorou e a médica me disse que poderia me ligar a qualquer momento", conta a mãe.
Naquele mesmo dia, Alessandra viu o filho partir, enquanto Romilda recorda que levou uma porrada em dobro, sem o direito de desabar. "Acho que não fui capaz de dar conforto a ela. Mas eu me mantive firme como se aquilo fosse capaz de ser superado. Então senti aquela porrada forte e me mantive para que ela pudesse chegar em mim e ter o amparo que precisava. Nesse instante, descobri o quanto o amor de avó é algo intenso".
Cada vez que a filha chegava perto de Romilda, era ainda mais doloroso ver o que ela sentia. "Ela vinha para o meu lado como se eu fosse um Deus, capaz de resolver tudo aqui, mas eu sabia que não era. Naquele momento, intensamente dolorida, o maior sofrimento é ver a dor da sua filha e, ao mesmo tempo, a dor do seu neto".
Os sentimentos de tristeza e revolta ainda rodeiam os dias da família. Ninguém sabe o dia que essa dor passará, mas o que alimenta as forças de Romilda é entender que esse amor incondicional existe e que não há espaço para cobranças sobre quem ama mais ou deixa de amar. "É um amor que não tem como descrever. Hoje eu sei que ele ultrapassa qualquer sentimento, porque aquela criança é tão importante pra mim como para minha filha".