Sem aceitar “corpo mole”, Nilson chegou a ter 20 lojas com boa fama
Dono de uma das lojas mais antigas, Nilson Franzini foi levado pela covid e deixou muitas histórias à família
Pai carinhoso, marido companheiro e empresário rígido, essas foram as marcas que Nilson Franzini, falecido aos 76 anos. Dono da famosa loja de roupas Dunil, Nilson morreu de covid-19 na semana passada.
Para a família, o empresário não deixa apenas a loja. Com o negócio, fica a história de um homem que venceu a pobreza com esforço próprio, viveu a vida intensamente e passou os mesmos valores ao filhos, como conta a filha, Fabiana Franzini, uma das quatro.
“Geralmente , porque vivemos numa sociedade machista, vemos a mulher trabalhar muito mais que o pai. Não foi assim com meu pai, ele cuidou da gente tanto quanto minha mãe. Apesar de trabalhar muito, ele fazia questão de estar com a gente, nós quatro disputávamos o colo dele na hora do Jornal Nacional, que ele não perdia um”.
Nilson nasceu em Presidente Bernardes, interior de São Paulo, numa família humilde, de seis irmãos. Chegou a fazer parte do curso de história, mas não terminou.
No último trabalho de empregado, ainda em São Paulo, Nilson decidiu sair, pegar o dinheiro da rescisão e montar seu negócio próprio em outra cidade, maior, isso há quase 50 anos.
“Ele queria ir para Rondonópolis, mas parou em Campo Grande por algum motivo e gostou da cidade. Passando pela Rua 7 de Setembro, viu o ponto onde abriu sua primeira loja e decidiu alugá-lo”, conta a filha falando do ponto que ficou com o pai até o fim da vida.
A loja não tinha nome e Nilson vendia de tudo, não só roupa. Ele morava nos fundos. “Meu pai fazia uma refeição só por dia, trabalhava sozinho”.
A esposa e grande amor de Nilson, Sandra Franzini, era atendente de uma padaria perto da loja e sempre passava frente. Ele puxou conversa, a relação começou a prosperar, até que veio o casamento.
Desde seu primeiro dia a “loja do Nilson”, como era conhecida até então não parou de crescer. Ele acabou comprando o ponto e passou a vender apenas roupas.
“Foi com a fama que ele resolveu colocar nome na loja de “Dunil”, que era a junção da preposição adaptada “do”, com a primeira silaba de seu nome “Nil””, explica a filha.
A Dunil marcou época nos anos 90, chegando a ter mais de 20 lojas, não só em Campo Grande, mas em cidades como Presidente Prudente (SP), Cuiabá (MT), Aquidauana, Ponta Porã.
As unidades nas outras cidades foram fruto de sua parceria empresarial com as irmãs, que entraram como sócias no negócio. “Meu pai era o único homem da família, e sempre sentiu a responsabilidade de ajudar a todos”.
Com o tempo, por divergência de pensamentos algumas sociedades foram desfeitas. Também por conta da idade, Nilson decidiu abrir mão da administração da maioria de suas unidades e acabou por ficar apenas com a loja na rua 7 de Setembro.
O empresário era conhecido por sua rigidez nos negócios. Não aceitava “corpo mole” e sempre tinha uma lição a dar. “Por ser muito trabalhador, meu pai sempre cobrava o mesmo empenho do funcionários, mas uma coisa que ele sempre fazia quando chamava atenção, era argumentar, explicar porque estava fazendo aquilo e mostrar como seria o certo”.
O sobrenome “Franzini” é italiano, origem da qual Nilson sempre se orgulhou. Os bisavós vieram fugidos da Segunda Guerra. “Quando o dólar estava muito próximo do Real, há alguns anos, ele levou meus avós para conhecer a Itália”.
A relação com a vaidade e, por consequência, com as vestimentas, nasceu de sua vó, sempre bem vestida. “Ele sempre citava a vó dele como exemplo de estar bem cuidado, ele admirava muito isso nela”.
"É isso que ele deixa pra gente. Sempre dizia que “tudo na vida passa”. Eu meus irmãos tivemos vários recomeços em minha vida, em todos ele nos ajudou", finaliza.
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