Sem paz até no Carnaval, travestis e trans desabafam sobre assédio
Depoimentos sobre importunação sexual continuam frequentes apesar de campanhas e criminalização
Apesar de campanhas contra a importunação sexual e divulgação de que o ato é crime, transsexuais e travestis desabafam que os limites continuam sendo cruzados. Sem paz até no Carnaval, os depoimentos são de que muita gente ainda acha que o corpo alheio é público.
De acordo com o Código Penal, a importunação sexual é caracterizada pela Lei 13.718 e se encaixa em casos de beijo “roubado”, toque em partes íntimas ou outros casos semelhantes. “Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro”, descreve o texto.
Gerente do Ponto Bar, Dannieli Andrade, de 27 anos, se identifica como travesti e comenta que seja no Carnaval, passeando pelas ruas ou trabalhando, a importunação sexual e o preconceito estão sempre por perto. “Isso acontece o tempo todo, é só você sair de casa que as pessoas entendem que você é um produto sexual”.
Olhando as situações como um todo, a gerente explica que ainda hoje se sente parte de um grupo que só é “aceito” nas esquinas. “Se a gente não está no lugar para sexo, a gente é descredibilizada para qualquer outra coisa. É como se a gente só servisse para satisfazer os desejos particulares dos outros, não servimos para estar na rua andando de mãos dadas, para curtir uma festa, para nada disso”, diz.
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Além de precisar viver em uma constante defensiva, ela detalha que essa visão envolvendo travestis e pessoas transsexuais permanece até na hora de ser validada no mercado de trabalho.
“A gente é muito procurada nas esquinas, mas para outros trabalhos nós somos deixadas de lado simplesmente por sermos travestis, mulheres e pessoas trans, independente da nossa capacitação, da nossa inteligência”, argumenta Danielli.
E, sem esperar que um milagre aconteça, Danielli pontua que o movimento por direitos básicos tem ficado cada vez mais forte. “A nova geração de trans e travestis está tentando mudar a perspectiva que o mundo tem de nós. Estamos tentando mudar essa visão marginalizada, mostrar que podemos trabalhar em vários nichos, aproveitar a vida e ocupar lugares cada vez mais diferentes”, detalha.
Em resumo, sua opinião é de que nenhum dia é fácil, mas os grupos precisam se posicionar, e tem feito isso, para mostrar que a comunidade “não é bagunça”.
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Assim como no relato de Danielli, Nemesis Hands Up, de 22 anos, explica que o alerta é parte do cotidiano. Se identificando como uma pessoa trans não-binária, ela comenta que as violências acontecem até mesmo em eventos que são voltados para a comunidade LGBTQIA+.
Exemplificando, ela comenta que tem participado dos blocos de rua e durante o primeiro dia na Esplanada Ferroviária, com bloco LGBTQIA+, foi assediada. “É uma situação muito chata, eu vim tranquila sabendo que era o Carnaval LGBT e quando aconteceu isso fui até embora mais cedo”.
Para Nemesis, ser trans implica precisar lidar com uma violência muito específica. “As pessoas acham que o corpo da gente é público, querem tocar na gente sem pedir permissão, como se fosse assim mesmo”, diz.
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