Templo chama a atenção, mas praticantes explicam: "não é religião"
Sukyo Mahikari não se trata de uma religião, assim como outras, mas praticamente um estilo de vida
Orações e cantos feitos em japonês chamam a atenção de quem passa nas proximidades da sede de Sukyo Mahikari. O local serve de palco para um conjunto de práticas de cunho religioso, ainda que não seja caracterizado como uma religião, conforme os próprios líderes.
O Campo Grande News conversou com pessoas ligadas diretamente à administração da sede, bem como seguidores - de origem japonesa, ou não - que acreditam que as práticas têm até mesmo auxiliado em procedimentos médicos, para tentar entender como se dá essa prática no contexto campo-grandense.
Sem a permissão de fotos no interior do prédio, o evento teve leituras e depoimentos de outros praticantes. A cada vez que alguém subia o altar, havia uma espécie de ritual, junto a reverências.
Uma das praticantes, Giedre Paula da Costa, de 47 anos, cresceu no Bairro Amambai e sempre soube que, atrás de sua rua, havia o que achava ser uma "igreja do Japão", onde algumas pessoas passavam falando na língua japonesa. Foi somente após terminar a faculdade, que foi convidada pelo irmão mais velho para participar da prática.
Ela recebeu seu omytama, acessório sagrado de iniciação, e ouviu uma palestra do então presidente da sede. "Foi falado sobre o principio da purificação e sobre como funciona o princípio do espírito principal, mente obedece e o corpo acompanha. É como um rio, onde a nascente é a parte espiritual, o leito é a parte mental e a foz do rio é a material. Se na nascente existe impurezas, elas chegarão ao leito e a foz do rio".
Não é uma religião – Neste domingo (7), comemorou-se o 12º aniversário deste templo, que chegou a ser o segundo maior em todo o Brasil, atrás apenas de São Paulo. Praticamente um "estilo de vida", esses costumes unem tradições do Japão, que vão do uso de colares sagrados até "passes de luz".
O dirigente da Mahikari da Capital, Dionísio Silva, afirma que não se trata de uma religião, mas sim, de uma “arte” capaz de unir crenças diversas. “Deus é um só e a arte serve para unificar as religiões. Você pode ter uma religião e, mesmo assim, praticar o Mahikari”, diz.
Um dos principais objetos que o grupo utiliza, tradicionalmente, é o omytama – uma espécie de colar purificado, exclusivo de cada pessoa, cujo pingente não pode ser tocado.
Além disso, os passes de luz, segundo ele, são a "arte de imposição das mãos e purificação", de forma a criar uma regeneração espiritual do ser humano, por meio de "purificação espiritual, mental e física".
Dionísio também ressalta que a energia emitida através da imposição das mãos, de alguma forma, ajuda outras pessoas, fazendo se sentirem melhor consigo mesmas e entendendo melhor o propósito de vida de cada um.
Imposição de mão - A representante comercial Cristina Koyama, de 49 anos, é praticante desde que tinha 10 anos, mesmo em outro estado. “Morava em outro estado que não tinha uma sede. Então, a família começou a praticar dentro de casa, quando tinha 5 anos, mas só aos 10 que despertou o interesse e vontade de ajudar o próximo e fazer parte da arte”.
Na época, conta, ela fazia imposição de mãos nos colegas da escola quando se machucavam, e continuou quando adolescente. "O que conta, o que vale mesmo não é nem o tempo em que você está praticando, mas sim, a intensidade e disposição que coloca na missão", diz, “ter uma força maior que a força de vontade”, exemplifica Cristina.
Cristina narra que convenceu a irmã a frequentar o espaço, mesmo sendo cética quanto a isso, e que no mesmo dia em que apresentou os dogmas, ela passou a acreditar. “A irmã foi uma vez e depois fomos ao mercado. Lá, houve uma briga de casal, ela se assustou e fez a imposição de mãos. De repente, o casal parou de brigar, se abraçaram e foram embora.”
No começo de 2018, a participante Giedre Paula da Costa começou a se engajar cada vez mais no movimento, mas passados um ano e dois meses, começou a sentir fortes dores abominais e teve seu esôfago comprometido após uma cirurgia. Ela narra que sentiu que quanto mais se afastou das atividades da Sukyo Mahikari, menor era a recuperação detectada em exames.
Foi então que voltou para as práticas e notou que se sentia mais confiante e que conseguia até produzir melhor as atividades do dia a dia. "Percebi que as atividades que exercia eram as mesmas, mas misteriosamente, conseguia tempo para minha dedicação a Deus". A mulher explica que tem repassado os ensinamentos a outros familiares, em especial, ao filho e sobrinho – este que ela acredita ter melhorado de um problema no rim, após os métodos.
Cerimônia – A cerimônia acontece mensalmente há mais de uma década, mas teve de se adequar durante a pandemia da covid-19. Atualmente, mesmo com índices reduzidos na transmissão da doença, algumas medidas ainda são feitas, tais como limite de metade da lotação e distanciamento de cadeiras. O local fica na Rua Coronel Camisão, no Bairro Amambai.
Vale lembrar que, segundo o Governo estadual, o Estado detém a 3ª maior população de japoneses do Brasil, atrás de São Paulo e Paraná, e Campo Grande está na mesma posição em relação às cidades, já que possui a 3ª maior colônia de imigrantes nipônicos do País, com pelo menos 15 mil descendentes de até 4ª geração.
A arte japonesa foi fundada em 1959, no Japão, por Kotama Okada, e chegou ao Brasil em 1974. Já em Campo Grande, chegou no ano de 1980 e reúne mais de 1,5 mil praticantes em todo o Estado.