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Comportamento

Tiozão na antiga D-Edge, Hamilton nem imaginava ficar “famoso”

Quem foi cliente fiel da D-Edge, uma das principais casas de música eletrônica que a cidade já teve, não esquece do seu Halmilton

Thailla Torres | 13/04/2020 06:10
Em seu veículo estacionado, Hamilton posa para foto e lembra de quanto se tornou gerente de casa noturna ganhando muitos amigos e até inimigos. (Foto: Henrique Kawaminami)
Em seu veículo estacionado, Hamilton posa para foto e lembra de quanto se tornou gerente de casa noturna ganhando muitos amigos e até inimigos. (Foto: Henrique Kawaminami)

Poucos rompem com a impessoalidade imposta por uma ligação telefônica numa entrevista. Mas alguns minutos de conversa com Hamilton Martins, de 69 anos, é como um bate-papo olho no olho. Simpático, bem-humorado e expressivo, ele é o ex-gerente de uma das casas noturnas que mais fizeram sucesso na cidade, a D-Edge, e se tornou uma figura entre os antigos clientes.

Recentemente uma foto dele foi parar na rede social de um dos antigos clientes. A fotografia, claro, rendeu muitos de comentários, maioria do tipo: “Seu Hamiltonnnnnn, que saudade”. E olha que ele conta que alguns têm motivo de sobra para odiá-lo ou esquecê-lo. “Eu virei o paizão e o tiozão na balada, então eu castigava alguns. Naquela época muita gente usava ecstasy. Quando eu pegava alguém usando, deixava dois fins de semana sem entrar na balada. Eu barrava mesmo. Eles queriam morrer comigo”, conta rindo.

Atualmente ele é motorista de aplicativo. Há poucos dias, transportou um passageiro que o reconheceu logo de cara. “O cliente era um dos que já foi castigado por mim, mesmo assim me tratou com tanto carinho, disse que nunca tinha me esquecido e já tinha família. Fiquei todo feliz”.

Natural de Uberaba (MG), Hamilton reside em Mato Grosso do Sul há quase três décadas. “É o estado da minha esposa, ela é de Antônio João e estamos juntos há 45 anos”, afirma.

Mineiro que vive em MS há quase 30 anos se orgulha dos amigos que fez. (Foto: Henrique Kawaminami)
Mineiro que vive em MS há quase 30 anos se orgulha dos amigos que fez. (Foto: Henrique Kawaminami)

A história dele com a antiga boate, que era um dos pontos mais fervidos na cidade, criada pelo empresário e produtor cultural Renato Ratier, herdeiro de um clã de fazendeiros no Estado, começou nos anos 90. “Faltava pouco para eu chegar nos meus 50 anos e estava desempregado. Um amigo do meu filho falou que a casa estava precisando de um gerente e perguntou se eu topava. Na hora eu não quis, Deus me livre ser gerente daquele barulho louco”, pensava.

Não demorou para Hamilton aceitar a proposta. “Eu me achava velho para o serviço, mas por pressão acabei acatando. Eu ouvia Nelson Gonçalves e fui parar no fim do mundo da tecneira”.

Casa noturna movimentou cena eletrônica.
Casa noturna movimentou cena eletrônica.

Foram quatro anos como gerente da casa. Hamilton atribui ao povo mineiro a simpatia que carrega até hoje e o fez ser um dos destaques da casa, tanto quanto os DJs que se apresentavam, brinca. “Lá em casa somos muito beijoqueiros e gostamos de abraçar, então fui muito bem recebido na balada. Eu passei a ser o vozão, agia também como tiozão e paizão daquela turma. Acho que por isso fiquei conhecido mundialmente. Tem gente que mora fora e deve lembrar de mim. Sou metido mesmo”, se gaba.

O motorista diz que se orgulha do ofício antigo e dos amigos que ele levou para a vida. “Foi uma fase de muito aprendizado. Me deu experiência para trabalhar em outras boates como Tango e House. Também fui gerente no antigo Pitanga, bar que bombou na Rua 15 de Novembro. Lá, também fiz muitos amigos”.

Casado, com filhos e netos, Hamilton se orgulha não só da fama, mas da família. “Sou um homem feliz com a vida e a família maravilhosa que eu tenho, que também sente muito orgulho de mim”.

Se pudesse, acrescenta que reuniria toda a turma de clientes antigos para matar a saudade. “Eu me gabo desse carinho da meninada que hoje são doutores e pais de família. Dá uma polida na minha maneira de ver o mundo e as pessoas. Além disso, sei que onde você falar o meu nome, vai ter alguém sentido falta de mim”, ri. “Se eu pudesse abraçava todo mundo de novo. Isso melhora meu dia a dia”, finaliza.

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