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Comportamento

Tradição vinda do Japão há 63 anos é mantida viva com Fujinkai

Em volta dos ingredientes, grupo de senhoras recria comidas típicas passadas de geração em geração

Aletheya Alves | 26/09/2022 06:20
Grupo de senhoras se reúne para preparar karinto na associação da colônia. (Foto: Marcos Maluf)
Grupo de senhoras se reúne para preparar karinto na associação da colônia. (Foto: Marcos Maluf)

Quando chegou a Mato Grosso do Sul, Hideko Nishiyama não havia completado seu primeiro aniversário. Hoje, depois de 63 anos, ela faz parte do grupo de senhoras, o Fujinkai, que mantêm vivas as tradições da Colônia Jamic (Japan Migration and Colonization) até na gastronomia.

Fundada em 1959, na região de Terenos, a colônia surgiu com a diáspora japonesa após a 2ª Guerra Mundial. Desde então, 35 famílias se empenharam em recomeçar a vida, criaram a Camva (Cooperativa Agrícola Mista de Várzea Alegre) e integram a história da imigração japonesa em Mato Grosso do Sul.

Neste fim de semana, o Funjikai se reuniu com os integrantes da colônia especialmente para produzir as comidas típicas que seriam vendidas na Festa do Ovo. E, durante o preparo que segue as orientações repassadas de geração em geração, a tradição foi renovada mais uma vez.

Liderada pelo grupo de senhoras, a produção de karinto, makizushi, sobá e yakisoba teve, pela primeira vez, a participação do grupo de homens, como conta Hideko. Além deles, filhos e netos, que nasceram em Mato Grosso do Sul, também se dividiram em grupos para os preparativos.

Receita e modo de preparo do doce é passado de geração em geração. (Foto: Marcos Maluf)
Receita e modo de preparo do doce é passado de geração em geração. (Foto: Marcos Maluf)
Homens da colônia também participaram da produção de alimentos típicos. (Foto: Arquivo pessoal)
Homens da colônia também participaram da produção de alimentos típicos. (Foto: Arquivo pessoal)

Integrando o primeiro grupo que chegou à colônia, Hideko narra que poucos japoneses da primeira geração continuam vivos e parte dos descendentes acaba deixando a comunidade para estudar ou trabalhar. Por esses motivos, conseguir repassar os costumes aos filhos e netos é ainda mais importante.

Especificamente em relação ao preparo das comidas, ela detalha que o grupo de homens costumava ser responsável por comidas não japonesas na Festa do Ovo. Mas, devido à idade das senhoras estar avançando, a organização mudou.

“Antes os homens faziam churrasco e espetinho, ajudavam a levar as coisas, mas a gente tinha que fazer a comida e também ir para festa. Agora os homens estão aprendendo também, perguntando sobre como faz e a comida deles ficou muito boa”, diz Hideko.

Em volta do karinto, que estava sendo finalizado quando chegamos, Elena Kurashige, de 57 anos, explicou que a comida sempre está presente nas festas da comunidade. Além disso, detalhou que outras tradições também fazem parte da história na Jamic.

De acordo com Elena, os filhos e netos que nasceram no Brasil tinham aulas de japonês na própria comunidade até o início da pandemia. “Os professores eram as próprias mães, a gente se revezava na escola. No último ano, antes da pandemia, uma das crianças que estudaram aqui virou professora, mas as aulas precisaram parar”.

Hideko Nishiyama, de 63 anos, chegou ao Mato Grosso do Sul com menos de 1 ano. (Foto: Marcos Maluf)
Hideko Nishiyama, de 63 anos, chegou ao Mato Grosso do Sul com menos de 1 ano. (Foto: Marcos Maluf)
Elena Kurashige, de 57 anos, detalha que tradições vão para além da comida. (Foto: Marcos Maluf)
Elena Kurashige, de 57 anos, detalha que tradições vão para além da comida. (Foto: Marcos Maluf)

Assim como o idioma e a culinária, outras artes continuam sendo reproduzidas em solo brasileiro. Elena conta que além da Festa do Ovo, a colônia celebra o aniversário da comunidade em maio com apresentações musicais, dança e teatro. Tudo produzido e encenado pelos descendentes, “quem sabe vai ensinando aos outros, até porque não é fácil”.

O cronograma de festividades da Jamic ainda conta com o Undokai, uma gincana esportiva que envolve a participação de todas as idades, o Bon Odori, feito seguindo rigorosamente a tradição, campeonato de Softbol e a festa de fim de ano.

Além de reunir os moradores que seguem vivendo na colônia, os eventos costumam ter a participação dos descendentes que saíram da Jamic. Um dos exemplos é a nutricionista Silvia Suzuki, de 39 anos, que atualmente mora em Terenos.

Trabalhando na rede municipal, Silvia cresceu na Colônia Jamic, mas deixou a colônia para trabalhar. Com os pais continuando vivendo na comunidade, ela explica que apesar de não morar por ali, o convívio continua forte, principalmente em períodos de festas.

Sobre a passagem das tradições, a nutricionista pontua que manter a cultura tem sido cada vez mais difícil. Mesmo assim, a comunidade segue persistindo.

“Eu estudei desde criança na escola japonesa para aprender o idioma, mas os costumes nós aprendemos em casa. É bastante coisa para mantermos, são muitos detalhes”, explica Silvia.

Cada ingrediente passa pelas mãos dos integrantes da comunidade. (Foto: Marcos Maluf)
Cada ingrediente passa pelas mãos dos integrantes da comunidade. (Foto: Marcos Maluf)
Gerações mais novas também participam da produção dos alimentos. (Foto: Marcos Maluf)
Gerações mais novas também participam da produção dos alimentos. (Foto: Marcos Maluf)

Agora, com as novidades na organização dos eventos e preparo dos alimentos, as integrantes do Fujinkai contam que estão ansiosas para as próximas festas. Até porque, além de se preocupar em manter a tradição, os últimos dois anos foram tomados de medo com a pandemia.

"Nesse ano tivemos só um jantar na comemoração do aniversário da colônia, mas ano que vem tudo deve voltar. Estamos vacinados e vamos poder voltar com as danças, os teatros, as músicas e comida", completa Hideko.

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