Tradição vinda do Japão há 63 anos é mantida viva com Fujinkai
Em volta dos ingredientes, grupo de senhoras recria comidas típicas passadas de geração em geração
Quando chegou a Mato Grosso do Sul, Hideko Nishiyama não havia completado seu primeiro aniversário. Hoje, depois de 63 anos, ela faz parte do grupo de senhoras, o Fujinkai, que mantêm vivas as tradições da Colônia Jamic (Japan Migration and Colonization) até na gastronomia.
Fundada em 1959, na região de Terenos, a colônia surgiu com a diáspora japonesa após a 2ª Guerra Mundial. Desde então, 35 famílias se empenharam em recomeçar a vida, criaram a Camva (Cooperativa Agrícola Mista de Várzea Alegre) e integram a história da imigração japonesa em Mato Grosso do Sul.
Neste fim de semana, o Funjikai se reuniu com os integrantes da colônia especialmente para produzir as comidas típicas que seriam vendidas na Festa do Ovo. E, durante o preparo que segue as orientações repassadas de geração em geração, a tradição foi renovada mais uma vez.
Liderada pelo grupo de senhoras, a produção de karinto, makizushi, sobá e yakisoba teve, pela primeira vez, a participação do grupo de homens, como conta Hideko. Além deles, filhos e netos, que nasceram em Mato Grosso do Sul, também se dividiram em grupos para os preparativos.
Integrando o primeiro grupo que chegou à colônia, Hideko narra que poucos japoneses da primeira geração continuam vivos e parte dos descendentes acaba deixando a comunidade para estudar ou trabalhar. Por esses motivos, conseguir repassar os costumes aos filhos e netos é ainda mais importante.
Especificamente em relação ao preparo das comidas, ela detalha que o grupo de homens costumava ser responsável por comidas não japonesas na Festa do Ovo. Mas, devido à idade das senhoras estar avançando, a organização mudou.
“Antes os homens faziam churrasco e espetinho, ajudavam a levar as coisas, mas a gente tinha que fazer a comida e também ir para festa. Agora os homens estão aprendendo também, perguntando sobre como faz e a comida deles ficou muito boa”, diz Hideko.
Em volta do karinto, que estava sendo finalizado quando chegamos, Elena Kurashige, de 57 anos, explicou que a comida sempre está presente nas festas da comunidade. Além disso, detalhou que outras tradições também fazem parte da história na Jamic.
De acordo com Elena, os filhos e netos que nasceram no Brasil tinham aulas de japonês na própria comunidade até o início da pandemia. “Os professores eram as próprias mães, a gente se revezava na escola. No último ano, antes da pandemia, uma das crianças que estudaram aqui virou professora, mas as aulas precisaram parar”.
Assim como o idioma e a culinária, outras artes continuam sendo reproduzidas em solo brasileiro. Elena conta que além da Festa do Ovo, a colônia celebra o aniversário da comunidade em maio com apresentações musicais, dança e teatro. Tudo produzido e encenado pelos descendentes, “quem sabe vai ensinando aos outros, até porque não é fácil”.
O cronograma de festividades da Jamic ainda conta com o Undokai, uma gincana esportiva que envolve a participação de todas as idades, o Bon Odori, feito seguindo rigorosamente a tradição, campeonato de Softbol e a festa de fim de ano.
Além de reunir os moradores que seguem vivendo na colônia, os eventos costumam ter a participação dos descendentes que saíram da Jamic. Um dos exemplos é a nutricionista Silvia Suzuki, de 39 anos, que atualmente mora em Terenos.
Trabalhando na rede municipal, Silvia cresceu na Colônia Jamic, mas deixou a colônia para trabalhar. Com os pais continuando vivendo na comunidade, ela explica que apesar de não morar por ali, o convívio continua forte, principalmente em períodos de festas.
Sobre a passagem das tradições, a nutricionista pontua que manter a cultura tem sido cada vez mais difícil. Mesmo assim, a comunidade segue persistindo.
“Eu estudei desde criança na escola japonesa para aprender o idioma, mas os costumes nós aprendemos em casa. É bastante coisa para mantermos, são muitos detalhes”, explica Silvia.
Agora, com as novidades na organização dos eventos e preparo dos alimentos, as integrantes do Fujinkai contam que estão ansiosas para as próximas festas. Até porque, além de se preocupar em manter a tradição, os últimos dois anos foram tomados de medo com a pandemia.
"Nesse ano tivemos só um jantar na comemoração do aniversário da colônia, mas ano que vem tudo deve voltar. Estamos vacinados e vamos poder voltar com as danças, os teatros, as músicas e comida", completa Hideko.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Confira a galeria de imagens: