Usando linhas e agulhas, Betho se reinventou após 3 meses na cadeira de rodas
Depois de fraturar o fêmur e ficar imóvel em uma cama sem poder trabalhar, o cabeleireiro encontrou no crochê e costura um jeito de continuar criando.
Nas mãos de Betho, agulha, linha e tecidos coloridos agora são bonecos de pano, bolsas e até lembrancinhas de casamento artesanais. O cabeleireiro redescobriu um talento de infância e a capacidade de criar arte com pontos firmes depois de ficar 3 meses em uma cadeira de rodas, se recuperando de acidente de bicicleta.
“O acidente foi em dezembro, bem na época das festas e por causa do recesso dos médicos e da fila de espera, fiquei 1 mês internado com gesso da cintura para baixo depois de fraturar o fêmur. Mesmo com a cirurgia, foram mais 3 meses na cadeira de rodas sem conseguir colocar o pé no chão e sem poder trabalhar, era um momento delicado em que tudo o que eu sabia fazer parecia não ter utilidade”, explica.
Betho é apelido que virou nome artístico de Humberto Olmedo, de 39 anos. Cabeleireiro há cerca de 20 anos, ele deixou a cidade natal, Amambaí, ainda na juventude para procurar novas oportunidades aqui em Campo Grande. Começou a viver da tesoura e esqueceu o talento de criança.
![O investimento nas máquinas industriais foi recente, até ano passado Betho usava uma máquina de costura de mesa (Foto: Kimberly Teodoro)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2020/03/10/231hyzhna1i8g.jpg)
“Quando eu era mais novo, nunca tive amizade com as crianças da minha idade, mesmo os da escola eram apenas colegas. Sempre gostei de conversar com pessoas mais velhas e essa vizinha pintava, eu comecei a fazer aulas de pintura com ela, mas foram poucas aulas, porque eu morava no interior o dinheiro era pouco. Mesmo assim fizemos amizade, e conversávamos todas as tardes enquanto ela fazia crochê, aprendi olhando ela fazer”, conta.
Depois do acidente, veio o primeiro tapete e Betho nunca mais deu descanso para as agulhas. Além do barbante também passou a comprar metros de tecido para panos de prato e levá-los à costureira que fazia a barra e o acabamento para ele pintar e fazer bico de crochê. Deu tão certo que ele resolveu investir em um máquina de costura reta, dessas comuns para pequenos consertos caseiros e fazer ele mesmo a barra dos panos de prato.
![Companheiros de costura, o gato Chico e a cadelinha Isabela estão sempre por perto (Foto: Kimberly Teodoro)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2020/03/10/jo9841up8pvo.jpg)
As primeiras tentativas tinham emendas tortas e acabamentos soltos, mas com a prática os detalhes ganharam o cuidadoso toque da perfeição.
Hoje Betho voltou a trabalhar no salão de beleza, onde passa a maior parte do tempo, mas não tem planos de abandonar a costura. Os fins de semana, feriados e dias de folga são dedicados ao ateliê que ele mantém em casa, na companhia do gato Chico e da cadelinha Isabela, que além do carinho com o dono também são fonte de inspiração, já que ele adora animais (principalmente os gatos).
O quarto de paredes brancas é simples, muito organizado e decorado com trabalho do artesão. Para o futuro, Betho pensa em investir no próprio ateliê, alugar um espaço maior para receber alunos em casa, e ensinar o oficio da costura para outros artistas que ainda estão descobrindo o próprio talento.
Cada peça é rica em cores e detalhes, carregando um pouquinho do espirito do costureiro, que apesar de reservado é alegre e cuidadoso na hora de escolher a composição dos tecidos, fechos, alças, e todo o tipo de aviamentos. Para ele, trabalhar com criação não tem uma fórmula,"A costura é um conjunto, meu estilo é mais colorido, mas harmonizado. Procuro unir isso aos gostos e preferências das minhas clientes, tento conhecer cada pessoa e desenvolver uma coisa bonita que leve a personalidade de quem encomendou", explica Betho, que também conta se inspirar em fotografias que encontra na internet e sempre visitar feiras de artesanato em São Paulo para trazer novidades.
Para o artesão, mais do que o retorno financeiro que hoje complementa a renda do salão de beleza, costurar é gratificante, principalmente ao ver a expressão de quem recebe as peças, "O prazer de entregar um trabalho e ver a pessoa sorrir e dizer o quanto gostou é uma sensação de realização única", conta.
Os bonecos de panco saem em torno de R$ 80, as bolsas por cerca de R$ 90, tudo depende do tecido e do material usado, com cada molde feito sob encomenda, Betho nunca fez duas peças iguais, o que para ele faz parte do encanto de trabalhar com artesanato. "Mesmo que uma cliente olhe as fotos e diga que quer uma bolsa igual, o modelo sai o mesmo, mas o resultado final é original", diz.
Para acompanhar o trabalho de Betho e encomendar peças, siga o perfil dele no Instagram @bethoolmedo.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram.
Confira a galeria de imagens: