Tereré vira antídoto contra tempo seco e quente em Campo Grande
O calor e o tempo seco não têm dado trégua em Campo Grande. As altas temperaturas acompanhadas da baixa umidade do ar formam um par nada perfeito. Não importa a idade e nem mesmo a profissão, todos sofrem com as consequências do tempo seco. É fácil, e mais do que comum, encontrar pessoas com uma guampa e a garrafa de água ao lado.
Com tereré, bem geladinho, é como os campo-grandenses conseguem amenizar o calorão. "Não dá para ficar dentro de casa, é muito quente", disse tranquilo o aposentado Waldomiro Alves de Lima, 62 anos, que tomava tereré na calçada de casa.
Nesta quinta-feira (6), a temperatura máxima em Campo Grande chegou a quase 37°C, de acordo com o setor de meteorologia da Base Aérea. Associada com o índice de umidade do ar, que ficou em 13%, a sensação de calor é ainda maior, beirando os 40 graus.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera como estado de alerta índices entre 20% e 12%. Abaixo desse valor o estado é de emergência. No deserto do Saara, os índices variam entre 10% e 15%. Na quarta-feira, Campo Grande registrou 11% de umidade do ar.
No canteiro de obras ou no escritório, com ar condicionado, as sensações são as mesmas. Garganta e nariz seco, dificuldade na respiração, além de moleza no corpo e problemas respiratórios.
A Secretaria Estadual de Educação informou que as escolas foram orientadas a suspender as aulas de educação física, substituindo-as por atividades que não exponham os alunos ao sol e ao esforço físico. Nas academias de ginástica, alguns alunos passam a malhar em horários mais fresquinhos. “Eu sempre malho às 16 horas, mas com esse tempo passo muito mal. Agora estou indo à noite, às 20h”.
Funcionários de uma grande obra na cidade disseram que só com muito líquido é possível enfrentar o calor. “Eu acabei de tomar três copos de suco. Tem que ser assim, muito suco e muita água”, disse o operador de betoneira Gilmar Machado, 57 anos.
Em frente a construção, Manoel Vicente Barbosa, 43 anos, vende por R$1 cada copo de suco. “Dá para tirar um dinheirinho e amenizar o calor do pessoal”.
O pedreiro Otoniel Ferreira, 33 anos, veio de longe para trabalhar na obra e disse que já está acostumado com tanto calor. “Eu sou de Tocantins e lá é quente e seco como aqui, mas mesmo assim tomo muita água”.
Levando o entulho da obra para o lixão, o motorista Cristiano Elias, 34 anos, lamenta a poeira que precisa encarar. “Garganta e respiração ficam horríveis”. Entre um carregamento e outro o motorista aproveita para tomar um copo de suco.
Com um copo cheio de erva, o personal trainer Fernando Silva, 33 anos, frisa que o tereré está acima de classe social e de outras diferenças. "Eu tomo quase todos os dias. Com esse calor carrego minha garrafa no carro. Todo mundo toma o tereré. Na rua, no trabalho, em casa, em Campo Grande ele está em todo lugar".
Com 81 anos de idade e ainda com disposição, o sorveteiro Julião Maldonado conta com bom humor que durante à noite toma três banhos para aguentar o calor. “Não consigo dormir em casa. Quando chego aqui cochilo durante o dia, embaixo da figueira”, diz se referindo a imensa árvore na avenida Afonso Pena.
No bairro Jardim Campo Verde, as crianças sonham com praia e piscina. “Se pudesse agora eu queria ir para praia”, disse Mateus Felipe, 13 anos. Sem conhecer a praia, a vontade do menino era no fundo se refrescar.
“O vento do ventilador sai quente, não adianta nada”, observa Bruno Grabriel, 12 anos. “Eu queria mesmo um rio”, completou.