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Consumo

Aos 75 anos, Dona Vitorina toca bar com pagode e caldo de feijão de graça

Ela é proprietária de bar há 13 anos no bairro Silvia Regina e conta com a ajuda do neto e dos clientes

Alana Portela | 29/07/2019 07:11
Com dona Vitorina Rebelo Ferreira é assim, copo na mão e sorriso no rosto (Foto: Alana Portela)
Com dona Vitorina Rebelo Ferreira é assim, copo na mão e sorriso no rosto (Foto: Alana Portela)

Carismática e alegre, o que não falta à dona Vitorina Rebelo Ferreira é disposição. Conhecida na vizinhança como Vitória, aos 75 anos, ela gosta de ser independente, pagar as contas com seu dinheirinho e não tem medo de pegar no batente. “Tenho que pagar água, luz, e outras coisas. Minha aposentadoria não é muita”, diz

De segunda a segunda, das 15h às 00h, ela abre seu estabelecimento, o “Vitor Lanches”, no bairro Silvia Regina, que de lanche não tem nada. Há 13 anos, fez da frente da casa onde mora seu empreendimento que hoje tem até a música ao vivo e caldinho de feijão de graça. “Reformei minha casa. Abri a parede da frente, fiz dois banheiros e fiquei aqui”, contou.

No tempo de crise financeira, o movimento caiu, mas tem uma tática para atrair a freguesia. Ela organiza pagode ao vivo todos os sábados, às 19h30, e ainda serve caldo de feijão.

O grupo de pagode Papo de Samba tocando no "Vitor Lanche" (Foto: Alana Portela)
O grupo de pagode Papo de Samba tocando no "Vitor Lanche" (Foto: Alana Portela)

“O pagode fiz por quatro anos, mas parei no ano passado. Agora decidi voltar com ele por conta do movimento. Acontece nos finais de semana e também faço um caldeirão de caldo de feijão e dou para os clientes”, contou.

A receita do caldo ela mesma criou quando trabalhava em uma pensão. “Cozinhava e no dia a dia fui aprendendo. É preparado com feijão preto, carne, calabresa, bacon e engrosso o caldo com a mandioca. Faço aqui na cozinha”, disse.

Ela é natural de Ponta Porã, mas cresceu em Campo Grande. Quando completou 25 anos, casou e mudou-se com o marido para Brasília. Dez anos depois, descobriu a traição do esposo e para não terminarem o relacionamento, voltaram para a Capital. Entretanto, o casamento acabou em seguida. Por aqui, dona Vitória resolveu seguir em frente, já que precisava criar os filhos, Roberto, Rosimeire e Ana Lídia, ela foi à luta.

“Voltamos pra cá em 1979, mas meu marido foi embora com outra. Peguei dez quintais para carpir e plantar, e passei a lavar roupa pra fora e a noite. Na época, acendia uma lamparina e passava com ferro de carvão. Em 1985 virei faxineira da prefeitura e decidi voltar a estudar. Me matriculei na escola. Terminei o primeiro grau, fiz o magistério e queria continuar estudando. Contudo, meu filho passou no vestibular e resolvi pagar os estudos dele”.

Os outros filhos de dona Vitória também cresceram e estavam entrando para a faculdade. Para bancar os estudos deles, virou “sacoleira”. “Trazia roupa da Bolívia e vendia. Mesmo trabalhando como faxineira, nos fins de semana eu ia carpir os quintais. O dinheiro desses serviços guardava, até que juntei uma quantia e me ofereceram um ponto para comprar e fazer meu bar, com freezer e tudo”. Foi a partir dai que a ideia de investir em um negócio próprio surgiu.

“Fiquei por seis anos naquele espaço, mas começaram a implicar, querer transformar em loja e acabei deixando o bar. Depois vim para a minha casa e decidi recomeçar aqui. Quando mudei de ponto, trouxe meus fregueses também e fui crescendo”, relatou.

Os anos formam se passando, até que seu filho Roberto, que é músico, decidiu ajudar a mãe no estabelecimento. “Ele é pagodeiro e quando começou a tocar e encheu de gente. Porém, em 2017, ele mudou de país, por isso parei com o som”, falou.

Dona Vitória prepara caldo de feijão para servir aos clientes (Foto: Alana Portela)
Dona Vitória prepara caldo de feijão para servir aos clientes (Foto: Alana Portela)

Dona Vitória afirma que o “Vitor Lanche” é para famílias e por meio do trabalho, fez boas amizades. Questionada sobre a carga de trabalho, ela responde. “Dependo de mim mesma. Não paro, mas quando estou cansada os clientes entram, pegam a bebida e pagam. É um ambiente familiar, quero respeito. Não bebo, não danço, mas eles podem dançar quando têm música".

Depois de tanto tempo só vendendo bebebidas, agora ela pretende fazer sopa paraguaia, coxinha e quibe para vender no local. “Consegui autorização da vigilância, agora pode. Já fazia essas comidas, mas não era para vender. Dava para os clientes que são meus amigos, porque eles traziam os ingredientes”.

AjudaO neto de 21 anos, Alexssander Ferreira é um dos companheiros fiéis de dona Vitória. Ele é militar e quando não está no quartel, está trabalhando com a avó. “É um prazer ver ela feliz. Não quer parar de trabalhar mesmo aposentada. Ela é minha avó, mãe, pai. Me cuida desde pequeno, pois minha mãe se mudou para Portugal. Sempre fui apegado a ela”, contou.

O padeiro, Francioli Leguizamon Canhete contou que frequenta o local há anos (Foto: Alana Portela)
O padeiro, Francioli Leguizamon Canhete contou que frequenta o local há anos (Foto: Alana Portela)
O recepcionista, Vander Márcio dos Santos Gomes, é mais um dos clientes antigos (Foto: Alana Portela)
O recepcionista, Vander Márcio dos Santos Gomes, é mais um dos clientes antigos (Foto: Alana Portela)
A assistente social Nilza Fogaça, ao lado de uma amiga comentou sobre a admiração por dona Vitória (Foto: Alana Portela)
A assistente social Nilza Fogaça, ao lado de uma amiga comentou sobre a admiração por dona Vitória (Foto: Alana Portela)

Amizades - Nesses 13 anos no Silvia Regina, dona Vitória ganhou muitos amigos, que a admiram pela dedicação, como a assistente social Nilza Fogaça, 60 anos. “É uma guerreira, trabalha até tarde. Fico preocupada e ajudo quando posso. Frequento há quatro anos, sempre dando apoio. Venho todos os finais de semana, até meu neto de quatro anos vem. É um local aconchegante”.

O recepcionista, Vander Márcio dos Santos Gomes, é um dos clientes antigos que fez do espaço sua segunda casa. “Conheço ela há 14 anos. A relação é de mãe para filho, desde que a conheci me recebeu bem e estamos sempre juntos, de domingo a domingo. Moro perto, por isso, toda vez passo aqui para ver se ela precisa de alguma coisa. É durona, mantém tudo sozinha, essa disposição não tem igual”, afirmou.

O padeiro, Francioli Leguizamon Canhete, 42 anos, também é conhecido das antigas. Recentemente, após um pedido de dona Vitória, começou a vender espetinhos de carne, frango e suíno a partir de R$ 4,00, na calçada do local. Ele virou o cliente fiel. “Estou com ela desde o outro estabelecimento. Venho todos os dias, é uma pessoa boa. Ela é como uma mãe e vou continuar com ela”, disse.

Endereço - O Vitor Lanches está na Rua Pintaiba, 365 – bairro Silvia Regina.

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Alexssander ajuda a avó no estabelecimento (Foto: Alana Portela)
Alexssander ajuda a avó no estabelecimento (Foto: Alana Portela)
Os clientes sentam no bar para beber e ouvir música (Foto: Alana Portela)
Os clientes sentam no bar para beber e ouvir música (Foto: Alana Portela)
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