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Consumo

Cada lugar inventa o Uber que precisa, aqui foi do lixo, com direito a ameaças

Ângela Kempfer e Lucas Arruda | 18/09/2015 16:39
Caminhão particular fazendo coleta ontem em Campo Grande.
Caminhão particular fazendo coleta ontem em Campo Grande.

O serviço alternativo de transporte público gera quebra pau por onde passa, mas por enquanto o aplicativo Uber é coisa de metrópole no Brasil. Por aqui, nos restou uma versão emergencial, não como concorrência aos taxistas, mas para dar um destino às pilhas de sacos de lixo espalhadas pela cidade desde o início da greve da empresa de coleta, no dia 9 de setembro.

Muita gente que tinha veículo utilitário na garagem reuniu alguns ajudantes e saiu pela cidade oferecendo a “coleta genérica” por "cincão, dezão, vintão"...É tanta gente procurando que alguns nem aceitam clientes novos.

Não tem como evitar a comparação. Em São Paulo, por exemplo, taxistas interromperam o trânsito em super protestos e até agrediram pessoas quando elas entravam em carros do Uber, que cobram bem mais barato que uma corrida normal de táxi.

Em Campo Grande, quem resolveu ganhar dinheiro com a greve da coleta passou a receber ameaças por telefone. “Depois que publicaram meu número na internet, duas pessoas ligaram dizendo para eu não fazer mais isso”, diz Ismael Lopes Pereira, que desistiu de divulgar o contato nas redes sociais e hoje se vira atendendo na base da indicação boca a boca na região do Aeroporto.

Renato Heimbach, dono da Casa do Chef, diz que foi recusado por 10 pessoas que fazem esse tipo de serviço particular e só conseguiu uma “promessa” de coleta depois que um homem passou pelo local ontem oferecendo o trabalho. “Eles estão sofrendo ameaças, um contou que teve gente ligando para saber onde o cara morava, uma ameaça mais séria”, diz Renato.

Outro empresário, Ricardo Mereb, tem restaurante na avenida Três Barras e já sofre com a “inflação” por causa da procura dos desesperados para por fim aos montes de lixo. “Me cobraram R$ 40,00 para tirar o lixo”, conta.

Wanderson de Oliveira e o pai já atenderam 7 pessoas nesta sexta-feira e amanhã ainda querem trabalhar até 12h. Ele é garçom à noite, por isso não pode se dedicar mais à renda extra.

Com uma Kombi, até então pouco utilizada pela família, pai e filho rodam a cidade recolhendo o lixo. Do Centro até o aterro, na saída para Sidrolândia, eles cobram R$ 50,00, independente da quantidade de sacos.

“Essa greve mostrou que a gente pode dar um jeito em qualquer situação difícil. É como o Uber, um serviço alternativo para resolver uma deficiência na cidade”, avalia.

Ele lembra que na terça-feira quase não encontrou veículos no lixão, mas isso mudou. “Hoje já tinha uma fila boa, não só de quem cobra para recolher, mas pelas pessoas que levam o lixo próprio mesmo”, comenta.

Os trabalhadores da coleta devem retomar o serviço ainda hoje, às 19h30, porque o pagamento atrasado foi depositado. Mas o sindicato da categoria tem medo de que a coisa agora vire festa.

“São oportunistas, não podem sair por ai fazendo algo e cobrando por um serviço que trabalhador qualificado tem de fazer. O povo já paga impostos pra isso”, reclama Wilson Gomes da Costa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Asseio e Conservação.

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