Do muro para o tecido, amigos lançam marca que une 2 paixões: grafite e moda
As peças não se limitam a um grupo e são feitas para vestir pessoas que valorizam a arte da criação ou criação de arte, tanto faz!
A moda autoral está viva, sim. Mesmo distante dos grandes polos, ideia que nasceu da amizade, do skate, do grafite e, principalmente, da paixão pela cena urbana, hoje estampa peças da Golden Berry. Respirando arte e tendências da moda urbana, trio de amigos emprendedores une preferências e ideias de criação para produzir coleções únicas e de preço acessível.
As peças não se limitam a um grupo e são feitas para vestir pessoas que valorizam a arte da criação ou criação de arte, tanto faz! O trio se conhece há dez anos. Já foram skatistas, grafiteiros e decidiram fazer suas próprias roupas, por falta de opção na cidade.
Para conhecer a marca de perto. O Lado B foi até o ateliê onde as peças tomam forma, no Bairro Mario Covas.
Formado em administração, o sócio-proprietário Hugo Thoy de Souza Lima é, visivelmente, o mais apaixonado por moda. Ele admite que nunca foi desenhista, mas que se desenvolveu no grafite pela liberdade que a arte de rua proporciona.
Ao lado dos sócios ele participa da parte criativa, mas é o mais próximo do trabalho final, junto às costureiras. “Eu comecei a gostar tanto de moda que hoje eu grafito roupa. Além da falta de opção, quando a gente acha uma peça da nossa preferência é muito cara. Então decidimos passar toda a parte criativa dos muros para as roupas. Dei a ideia do nome GoldenBerry, que remete ao simples da fruta e a riqueza do ouro”, explica.
O sócio-proprietário Daniel Magalhães Pereira é o mais ligado à arte e também o responsável por todo o áudio visual e mídia da GB. Ele pontua que a produção tem todo um processo adaptação. “O nosso estilo vai se moldando com a tendência e vice-e-versa. Às vezes tem algo que queremos lançar, por exemplo, animes. Não é a minha cara, mas é a cara do Hugo, então tento unir meu estilo à ideia dele e moldamos para criar uma identidade nossa”, conta.
O terceiro sócio é Fábio Quintela. Afastado da arte de rua e mais ligado à música nos últimos meses, apenas Hugo e Daniel continuam saindo para praticar o grafite. Os dois garantem que fazer arte e pintar juntos ajuda no bom relacionamento durante a criação das peças.
“Quando a gente sai para pintar há uma troca de opiniões do tipo: vamos fazer com essa cor, vamos montar um painel desse jeito. Então, isso ajuda a ter um relacionamento. Quando o Hugo vai falar eu já sei e o quando vou falar ele também já sabe”, garante Daniel.
Inovação – Apesar de se tratar de material de qualidade, a empresa de três anos passa por um processo de reestruturação da marca. A GB ganhará uma linha mais manual e de maior valor. “Estamos pensando numa área mais artística do que comercial”, pontua Daniel.
A marca é genuinamente campo-grandense, mas segundo os proprietários ainda precisa de espaço para apresentação do produto.
“É difícil empreender por aqui. Nós sempre lançamos nossa coleção com eventos culturais. Mas ainda faltam espaços para expor, para divulgar um trabalho que é daqui. Minha renda é 100% artística. Eu tiro do meu trabalho para a marca. Não é que precisamos do dinheiro de alguém, precisamos movimentar a cena”, ressalta Daniel.
“Aqui também não tem um lugar para falar de moda. O único lugar é o Sebrae. Não é só a gente produzindo, tem uma molecada nova querendo produzir também e está difícil para todo mundo”, completa Hugo.
Tudo na raça – A Golden Berry trabalha com coleções e com a grana adquirida nas vendas anteriores, os amigos investem em novas ideias. O trio senta e discute um conceito e só então começa a criação.
“Por exemplo, nossa penúltima coleção tinha o tema: caos. O que entra? Achamos filme, anime, obra de arte. A partir daí do tema a gente consegue criar e ter várias ideias”, explica Hugo.
A GB produz camisetas, camisa de botão e um modelo de short feminino e masculino.
Depois de toda a movimentação, a ideia é entregue à República das Arteiras e a mulherada põe a mão na massa, no estilo slow fashion - traduzido ao pé da letra como moda devagar -, mas que tem o conceito de moda sustentável ou economia criativa.
À frente dos cortes, Ivani Marques da Costa Grance explica que a responsabilidade de produzir uma marca é muito grande. É um trabalho demorado, detalhista, bem diferente dos grandes volumes das costureiras de “facção”.
“Todos os detalhes eu deixo no esboço e vou cortando, conforme o pedido deles. Eles vêm com a ideia e às vezes participamos da produção com informações sobre o que dá certo ou não, afinal, se a marca dele faz sucesso eu também ganho. Se alguém reclamar da peça eu tenho que correr atrás, a responsabilidade é muito grande, é um trabalho mais demorado, detalhista e finalizado à mão, na tesourinha. Diferente das facções, em que as costureiras produzem de forma rápida e em grande volume”, pontua.