Eliane teve sorte de aprender a fazer pulseiras em rua luxuosa de Los Angeles
As experiências de vida da design ganharam novo sentido como os nós do couro que unem as pedras e metais para dar forma a criações únicas
Os acessórios fazem toda a diferença até nos visuais mais básicos, a escolha de cada peça transporta a personalidade de quem usa, ganhando significados diferentes para em cada estilo. No caso de Eliane Daian, eles fazem parte, inclusive, das memórias de infância da artista visual que em parte se reencontrou, em parte descobriu um pouco mais de si mesma na arte de fazer pulseiras.
Eliane sempre teve uma ligação muito forte com os acessórios, que quando criança eram representados pelos brincos da avó, uma mulher clássica que no dia a dia era adepta de roupas mais básicas com cores sóbrias, mas que ganhavam vida nos acessórios que usava. "Me lembro dos cabelos dela, curtos e já brancos na época, e dos brincos que ela usava: eles eram de ouro, com uma argolinha delicada e só aquela bolinha na ponta, era um formato esférico que reluzia na luz. Quando ela ia sair ou tinha algum compromisso, ela prendia parte do cabelo em uma presilha de strass verdadeiros, com muito brilho, um relógio tão fino que parecia uma pulseira, um cinto e um sapato que era o glamour do look. Eu achava lindo".
Para ela, as pulseiras sempre se destacaram por serem os únicos acessórios que as pessoas vestem para si mesmas, uma vez que brincos e colares ficam fora da área de visão de quem usa, a menos que ela esteja de frente para um espelho. Parte do encanto, também está ligado ao fato da peça mexer com os sentidos, a visão das cores, a textura sob o toque dos dedos, a audição com os sons de cada movimento.
Formada em Artes Visuais, Eliane veio de São Paulo para estudar na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, onde mais do que uma formação, ela encontrou o amor e criou raízes. Por muitos anos, o conhecimento adquirido na formação ficou adormecido, enquanto a vida de casada e a rotina de mãe passaram para o primeiro plano na vida dela, mas o talento Eliane nunca perdeu.
O reencontro profissional veio em 2014, durante uma viagem em família para a Califórnia, onde em um passeio pela Rodeo Drive, rua de Los Angeles famosa pelo luxo das grandes marcas e pelo estilo fashion dos frequentadores, uma vitrine em especial chamou a atenção: uma infinidade de acessórios coloridas, nos mais diversos tamanhos e estilos da design de moda Chan Luu, conhecida pela técnica manual de fazer pulseiras, para as quais ela trouxe experiências da vida no país de origem, o Vietname.
Dentro da loja, Eliane teve a oportunidade de conhecer a criadora da marca que leva o próprio nome, ouvir a história de uma mulher que para ela se tornou inspiração e descobrir as pulseiras, que tem como característica a longa corrente feita para dar várias voltas no pulso e por combinar diversos materiais.
Aquela tarde na Rodeo Drive hoje parece uma forcinha do destino para que Eliane entendesse a maneira como cada uma das experiências vividas até o momento se encaixavam, como os nós da pulseira se unem em torno das pedras para formar uma peça única. Decisão alimentada pelo sentimento de pertencimento, ela foi atrás de cursos online com a técnica Chan Luu e junto com as pulseiras, criou a marca Lili Daian, a parte artística de Eliane que transbordou em cores, textura e sons.
No começo, as primeiras peças foram aprendizado e descoberta, ali ela encontrou os materiais preferidos, as cores, começou a estudar as formas e moldar a imagem das pulseiras sem nem imaginar que o hobby se tornaria uma marca. Era uma maneira de ter peças exclusivas e até de reaproveitar partes "quebradas" de acessórios danificados pelo tempo, mas dos quais o valor afetivo continuou o mesmo, como foi o caso da segunda pulseira feita por ela, em que as pedras vieram de um colar partido da Le Lis Blanc, que já foi o favorito de Eliane e hoje ganhou novo significado. Desde lá adaptações foram feitas, como o fecho original que era em botão, hoje é personalizado para facilitar o ajuste no pulso.
Não demorou para as amigas se interessarem pelo trabalho, começarem a perguntar sobre a origem das pulseiras e a fazer encomendas que cresceram no "boca a boca", reafirmando aquilo que Eliane já sabia: com o hobby nasceu também um sonho no qual valia a pena investir.
A montagem de cada pulseira leva entre 30 minutos e pode chegar a até 4 horas. O ateliê é em casa, onde ela trabalha cerca de 8h diárias, fazendo os próprios horários e sem se afastar da família. Apesar de criar e montar as peças sozinha até o momento, ela também arranja tempo para atender encomendas e adora transformar os acessórios "partidos" das amigas em criações exclusivas.
No começo, a ideia era trazer regionalidade para a marca, mas Eliane entendeu que pertencer ao mundo fazia parte da história da Lili, e decidiu que essa característica deveria vir primeiro.
Hoje ela trabalha com couro importado dos Estados Unidos, da Grécia e alguns metais da China, pedras de diferentes países e em diferentes formatos, mas principalmente os esféricos, que são os favoritos por causa das lembranças da avó. Coleções que mostre o Brasil e Mato Grosso do Sul, com materiais encontrados aqui mesmo como o couro de peixe, sementes e pedras brasileiras são planos para o futuro.
As peças estão chegando ao mercado agora, com a colaboração de revendedoras e a vitrine da loja Carol Lúcio com preços que variam entre R$ 35,00 e R$ 280,00. Para conhecer a coleção e ver mais sobre o trabalho da artista basta segui-la pelo instagram.
Curta o Lado B no Facebook e no Instagram.
Confira a galeria de imagens: