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Consumo

Entre erros e acertos, casal fecha cafeteria e conta o que aprendeu em 10 anos

Apoio ou intransigência de clientes, burocracia e muita pia entupida estão na lista de experiências que ficaram

Danielle Valentim | 06/07/2019 08:15
Diego e Karol durante a inauguração, em 2009. (Foto: Arquivo Pessoal)
Diego e Karol durante a inauguração, em 2009. (Foto: Arquivo Pessoal)

Se despedir de algo ou alguém nem sempre é coisa simples. Principalmente, quando se trata de sonhos. A franquia Fran’s Café ensinou do “zero”, Karoline e Diego Portela, mas agora fechou. Apesar do tchau, a cafeteria serviu de lição para os próximos passos que o casal compartilha no Voz da Experiência do Lado B.

"No dia 4 de julho de 2019, Dia da Independência dos EUA, dia da maioridade de uma nação, foi o dia em que eu e meu marido e parceiro da vida, Diego Portela, também vivenciamos a nossa independência, que nos tornamos maiores e que nos despedimos do nosso maior empreendimento com gratidão.

Quando tínhamos 27 anos, eu e Diego decidimos dar um passo maior em nossas vidas como empresários (já tínhamos uma pequena empresa de faturamento médico-hospitalar): compramos uma franquia no ramo da alimentação.

Inexperientes no ramo, porém com muita garra e força de vontade, trouxemos para Campo Grande-MS, o Fran´s Café, a maior rede de cafeterias do Brasil, naquela época, considerada grande rival da Starbucks, que estava aterrizando no país.

Batalhamos e lutamos muito, desde o primeiro dia da assinatura daquele contrato de franquia em 2008, para que a cafeteria fosse um sucesso.

Já durante as obras de adequação do ponto, enfrentamos nossos primeiros gigantes: o peso do Estado brasileiro, as dificuldades de acesso a financiamentos – em tempos de distribuição sem limites aos amigos do rei – e a nossa própria falta de experiência de vida.

Quando o financiamento não saiu, vendemos nossos bens (um carro simples e um terreno), recebemos a ajuda de nossos pais, familares e amigos, e seguimos em frente, apostando tudo em nossa empresa.

Éramos nós dois, cheios de sonhos, compromissos assumidos com muitos, passeando por entre aquelas paredes que se levantavam, por entre aquele mobiliário tão elegante que chegava, namorando a linda cascata que foi construída num canto do salão. Se fecho os olhos, sou capaz de sentir o cheiro daquela loja novinha, pronta para abrir.

Abrimos o Fran´s Café em 2 de dezembro de 2008, com quase 30 funcionários, funcionando 24h todos os dias – uma grande inovação para a capital –, recebendo incontáveis clientes que formavam filas na porta diariamente no primeiro ano. Éramos nós dois, aprendendo tudo do zero.

Ao longo dessa aventura descobrimos o que é liderar uma equipe, como gerenciar estoque, como operar a logística, como trabalhar com franquia, como suportar o peso dos tributos, como lidar com a intransigência de alguns clientes, como funcionar 24 horas sem parar. Nós dois, com menos de 30 anos.

Hoje, no encerramento das atividades do Fran´s Café em Campo Grande-MS faço uma varredura em nossas lembranças e percebo o quanto crescemos.

Erramos por falta de experiência, por falta de referências, por adversidades que não soubemos contornar. No entanto, aprendemos a conviver com os problema insolúveis, com as diferentes personalidades dos nossos funcionários e clientes. Ganhamos persistência, força e paciência.

A partir da nossa cafeteria, pudemos compartilhar das alegrias dos nossos funcionários: uns tiveram filhos, outros ingressaram no tão sonhado primeiro emprego, alguns chegaram cheios de sonhos do interior, entraram na faculdade e saíram formados, vários compraram suas casas e seus carros.

Choramos juntos com aqueles que perderam seus filhos, seus pais e outros entes queridos. Corremos juntos para tratar daqueles que adoeceram. Dia após dia, construiu-se a nossa equipe campeã, feita de pessoas com quem se pode contar.

Descobrimos a duras penas como para vender café, às vezes, é preciso desentupir pias, consertar calhas e remendar canos.

Realizamos saraus de piano, recebemos corais, flautistas, violinistas. Compartilhamos da alegria de um escritor que lança seu primeiro de livro, das expectativas de artista que organiza sua primeira exposição.

Fomos testemunhas de negócios que nasceram aqui, dos namoros e casamentos que começaram e terminaram em nossos sofás. Presenciamos a celebração do nascimento de muitos bebês na Maternidade Cândido Mariano, através da presença dos papais e familiares na cafeteria.

Fomos cenário de filmes, de programas de televisão, de propaganda de plano de saúde, de álbum de casamento, de aniversário de 15 anos. Fomos o lugar preferido de muitos cãezinhos que se refrescaram com a nossa tigela de água fresca.

É claro que houveram muitos dias em que pensamos em desistir, que pensamos que seria o último, tamanho eram os desafios que nos cercavam. Dias que o atendimento não encaixava, que os clientes não entravam, que o fornecedor não chegava, que uma árvore despencava em nossa fachada, que a energia do bairro acabava, que o ônibus não passava.

Soubemos o que é ser roubado, traído e difamado gratuitamente. Mas, também, soubemos o que é ser amado, defendido e elogiado publicamente.

Muita coisa não saiu como tínhamos imaginado, mas tantas outras nos deram mais do que pedimos. Vivemos um sonho grande, acordados.

É o fim de um ciclo e, por isso mesmo, dia de gratidão por essa jornada, por todo esse aprendizado proporcionado por cada um de vocês, clientes, funcionários, donos da franquia e todos aqueles que em nós apostaram.

Este sonho acabou, a nossa loja se encerra, mas não paramos de sonhar. Agora a força é redobrada, alimentada por toda a bagagem que adquirimos no ramo.

Estamos maiores do que éramos há 10 anos e, por isso, olhamos para tudo com serenidade, dizendo com orgulho que valeu cada segundo, cada xícara de café vendida, cada vida transformada no ambiente que construímos.

O último laço que nos prendia foi cindido. É dia de independência. Nosso novo grande sonho nos espera, uma nova empresa, tudo do zero, tudo de novo, no além mar.

Esta encerramos, mas obrigado, valeu demais!

Ass.: Karoline Grubert e Diego Portela

PS: A quem interessar possa: sonhem, planejem, arrisquem, por mais que as perdas se apresentem. Dêem tudo de si, nada economizem. Façam valer a pena!

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