Esqueça o que você sabe sobre o Paraguai, caso nunca tenha passado de Pedro Juan
No comércio da capital Assunção, não há mulheres ultra maquiadas, com cara de poucos amigos, sem paciência para atender aquele cliente caroço. Esta aí uma das vantagens para o turista ao avançar no país vizinho. Já os preços, decepcionam.
No “Del Sol”, principal shopping center da cidade de cerca de 600 mil habitantes (sem contar a região metropolitana), o design indica sofisticação. Há muitas lojinhas multimarcas, mas também algumas de grifes poderosas, como Carolina Herrera, com bolsas lançamento a partir de 851 dólares e vestidos de cerca de 900 dólares.
Na parte esportiva, Nike, Puma, Adidas, New Balance oferecem uma cartela de produtos muito superior a apresentada em Pedro Juan. O estoque não é feito de falsificações ou coleções passadas dessas marcas. Mas os valores não são muito menores que os das lojas brasileiras.
A economia pode ser de R$ 30,00, R$ 20,00 no preço inicial, ou nenhum. No entanto, todo o turista consegue, no mínimo, 10% de desconto nas lojas, mas tem de pedir. Para uma mostra sobre preços, o Galaxy S4, por exemplo, custa mil reais. Já o perfume Allure, da Chanel, sai por R$ 215,00.
Na mesma região, em uma das mais privilegiadas de Assunção, também está o Shopping Mall Excelsior, bem mais simples, mas com lojas especializadas em eletrônicos e instrumentos musicais. Ao redor, uma dezena de vendedores ambulantes são a única semelhança com as ruas movimentadas da fronteira com Mato Grosso do Sul.
Pelas ruas, longe dos shoppings, perfumes e cosméticos têm valores menores em redes de farmácias, onde o desconto pode chegar a 25%, depois de um rápido cadastrou ou apenas a apresentação do RG brasileiro.
Preços populares estão no Mercado 4, uma região na periferia de Assunção também bem parecida com os becos de Pedro Juan Caballero. “É um lugar pitoresco, mas tem de ir com cuidado porque não é seguro”, avisa Heleno, um paraguaio que hoje mora em Minas Gerais, mas vira e mexe volta à Assunção para ver os amigos.
De saída, a propaganda do mercado mais tradicional da cidade é engraçada: roupas das melhores marcas, eletrônicos e "animais selvagens”. Há de galinha a celular. Apesar dos preços serem bem menores, não há qualquer garantia de procedência, as ruas são sujas, mas para os corajosos é possível experimentar a popular culinária paraguaia.
No Centro, na feirinha da Plaza de La Libertad, há bem menos barracas. É um lugar de artesãos, com redes coloridas, alguns produtos em couro e até bancas de tatuagem ao ar livre.
O tatuador é honesto, diz que não sabe fazer o trabalho como gostaria e reclama da falta de oportunidades no Paraguai. "Todo mundo tem de arrumar um trabalho. Eu tento fazer, mas aprendi na prática, sem curso. Por aqui não há treinamento, aprendemos fazendo", conta sob o olhar tenso do rapaz sentado e sofrendo com as agulhadas para ter nas costas a imagem de um Jesus Cristo todo torto, por R$ 60,00.
Ao lado, outro homem apresenta um calhamaço de desenhos a serem tatuados e em frente senhores passam os dias jogando dama e tomando tereré. Uma imagem muita parecida com a dos grupos da praça Ary Coelho, em Campo Grande.
Para comer, sempre tem algum vendedor com grandes bacias carregadas de chipa na cabeça e alguém vendendo gelo e água de tereré em cada esquina.
Quem tem mais dinheiro, pode parar para almoçar em uma das principais churrascarias da cidade pelo preço de R$ 25,00. Depois, sentar para tomar um café e comer uma sobremesa cheia de doce de leite, o gosto mais comum nas confeitarias de Assunção. De brinde, leva o acesso à internet. Parece regra, todos os locais em que entramos ofereciam wi-fi gratuita.
Nas lanchonetes mais sofisticadas e sorveterias, tudo é muito bem feito e limpo. Os preços deixam o cliente feliz. O expresso custa R$ 2,00, um pedaço de torta grande sai por cerca de R$ 4,00 e uma empanada vale entre R$ 2,00 e R$ 6,00, com muito recheio e fresquinhas.
Há redes especializadas em chipas, com a versão de milho, além da receita tradicional, conhecida pelos sul-mato-grossenses. Nessas casas, que estão em todos os bairros, aparentemente, a chipa é recheada com carne, com frango, com presunto e queijo ou é vendida aberta, tipo uma esfirra, com 4 sabores diferentes de queijo. Para acompanhar, uma Fanta Guaraná, que só encontramos ali.
O sorvete artesanal custa R$ 4,00, outro produto bem mais barato que o vendido no Brasil e de sabor idêntico.
Contraste - Triste é comer em um lugar cercado por vidros, tendo como paisagens famílias inteiras pedindo dinheiro nas ruas. São crianças, mães, uma escadinha de irmãos, sempre nos poucos semáforos instalados na cidade. Uns limpam carros, outros apenas pedem em um cenário urbano sujo, de prédios abandonados e patrimônio histórico sem cuidado.
O contraste também tem veículos com ferrugem evidente ao lado de carrões importados. No caos do trânsito sem regras, todos parecem sobreviventes.
Com a frota caindo aos pedaços, o transporte na cidade é uma atração para quem tem bom humor.
No ônibus velhos, todos enfeitados, a passagem custa R$ 1,00. Quando você não tem troco, o motorista/cobrador não faz questão de ser simpático. Com 4 passageiros entrando só com notas altas, o condutor fecha a cara e manda todo mundo sentar ser pagar um centavo.
Em 3 dias, encontramos também todo o tipo de taxista: o conversador, o caladão, o grosseiro, o lento, o apressado e o golpista.
Carlos tem um táxi que parece um avião "teco-teco" com uma ave na turbina. Anda em segunda, cospe para fora do carro e só fala o nome se alguém perguntar, sem soltar nenhuma outra palavra até fazer a cobrança: “40 mil guaranis”, cerca de 20 reais por 15 minutos de corrida.
Daniel é o esquentado. Manda todo mundo entrar no táxi fumando, porque no Paraguai “isso não importa”. Não ensina como fechar o vidro porque “isso não importa” e manda o passageiro descer uma quadra antes do destino porque precisa virar à direita.
O quietão, que parece um senhorzinho exemplar, no meio do trajeto diz que não sabe o endereço, que não conhece pontos históricos como a catedral que fica nos fundos do hostel. Roda boa parte do Centro, pede informações e no fim ainda cobra o valor cheio, incluindo o tempo que ficou "perdido" pela cidade.
O único conversador sugere passeios, passa pela embaixada do Brasil e vai fazendo gracinhas em pouco português até o fim da viagem. No meio do caminho reclama do Paraguai, diz que o país está "14 anos atrasado" e ponto final, sem entrar em detalhes sobre como chegou a essa conclusão.