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Consumo

Motel vira mecânica e sex shop usa nomes femininos para sigilo dos clientes

Thailla Torres | 20/06/2016 06:10
Mesmo que ninguém deva nada, clientes envergonhados pedem sigilo na hora de comprar em sex shop. (Foto: Alcides Neto)
Mesmo que ninguém deva nada, clientes envergonhados pedem sigilo na hora de comprar em sex shop. (Foto: Alcides Neto)

Na hora de pagar o cartão de crédito surge no extrato uma mecânica que você nunca ouviu falar. Mas logo o susto se desfaz porque vem à memória aquela noite de amor e você lembra que na verdade o carro entrou foi no motel, não na oficina. Mais velhas do que fazer as coisas na surdina são as estratégias que esses locais usam para não perder cliente e assegurar sigilo.

Tem gente que pensa uma ou duas vezes antes de entrar em sex shop, motel ou casas de striptease na cidade. Se for para pagar com cartão então, a coisa complica um pouco mais. A preocupação é tanta, que o jeito foi mudar o nome da empresa no extrato.

Além do motel que aparece como mecânica em Campo Grande, tantos outros surgem no extrato como se fossem outro posto de serviço. Difícil é tirar dos donos dos motéis quais serviços falsos são esses. Divulgar o ramo usado por eles para esconder a verdade comprometeria todo o sigilo, claro.

Em motéis da cidade, tem cliente que exige saber até antes de entrar no estabelecimento qual nome vai aparecer no extrato. Dono de motel, o empresário Carlos Neto comenta que teve que mudar o nome para não perder clientes. “Eu abri com o nome normal, depois que um ou dois clientes vieram reclamar, eu tive que colocar outra identificação”, explica sem revelar que tipo de identificação costuma utilizar.

Mas não é só com o extrato a preocupação, até o atendimento dos funcionários tem regras para que ninguém fique na dúvida.

Dono de motel há 17 anos, Valdemar Menin explica que falar pouco também é uma estratégia. "Eu sempre digo as minhas funcionárias para atender o cliente sempre como se fosse a primeira vez. E sem cumprimentar ou puxar assunto", comenta.

A cautela é regra máxima nessa ramo. Até porque, mesmo com nome diferente da empresa no documento do cartão, tem gente que desconfia e liga no local para confirmar se é mesmo um posto de combustível, por exemplo. "Mesmo com outro nome, as vezes a pessoas liga para confirmar, eu oriento a dizer que é realmente o nome que está no extrato, caso a pessoa não acredite, aí já é com ela. Nosso papel é só manter o sigilo", garante. 

Na Casa de Shows Mustang, o empresário Junior Cardenas, de 37 anos, comenta que é impossível identificar o local e todo sigilo ainda é pouco, já que até casais costumam frequentar o local. “As vezes a pessoa que frequenta a casa é casada e também recebemos casais aqui. E se a gente não muda o nome, acaba perdendo o cliente. Então o sigilo é o que garante que ele volte para aproveitar”, esclarece.

E até sex shop sofre com gente que não quer assumir aonde foi.

Há 2 anos como proprietária da Discret Sex Shop, Mary Paula Gonçalves, de 25 anos, diz que não colocar o nome é uma maneira de deixar o cliente à vontade. “Aqui em Campo Grande as pessoas tem a mente um pouco retraída em relação a isso. Não há problema nenhum em consumir em uma sex shop, mas muita gente ainda tem receio”, esclarece.

Para que ninguém fique envergonhado, o nome da loja não aparece e no lugar ela optou por um nome comum e feminino. E os tabus que o serviço envolve tem efeitos que não param por aí, até na hora de escolher os produtos tem gente que trava. “Os homens são os mais tímidos, alguns tem medo que alguém os veja entrando na loja e até hora de escolher os produtos surge a vergonha”, diz.

Por isso o único jeito é não identificar e aos poucos, a experiência como vendedora mostra aos clientes que ali não há nada de errado. “O jeito é ir conversando com o cliente até quebrar o gelo na hora da compra. Mas o sigilo não tem jeito, isso tem que continuar”, afirma.

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