"Carnavais fakes" preocupam blocos que lutam para preservar festa popular na rua
Alguns eventos surgiram no Facebook usando nome do Cordão Valu, mas bloco esclarece que o evento não é verdadeiro.
Uma verdade em Campo Grande é a carência de eventos públicos pela cidade, especialmente, na periferia. Talvez por isso, tenham surgido tantos eventos espontâneos para reunir a galera e ocupar os espaços públicos pela cidade. Mas os movimentos preocupam produtores culturais e blocos carnavalescos, como o Cordão Valu, que teve o seu nome usado em um evento nas redes sociais com objetivo de antecipar o Carnaval por aqui.
Os encontros recentes que aconteceram em três pontos da cidade não foram realizados pelos blocos, que reclamam de eventos sem nenhuma responsabilidade com o patrimônio, já que, após a festança, público e organizadores desaparecem e o que sobra é muita sujeira e reclamação de moradores.
“Foi feito um evento no Facebook, usando nome e a foto com o estandarte do Cordão Valu. Uma amiga nos comunicou porque achou estranho, começamos a denunciar e entramos em contato com o dono da página que acabou tirando o nome do bloco. Mas mil pessoas haviam confirmado”, conta Silvana Valu, fundadora do Cordão que publicou uma nota em sua página explicando o ocorrido.
No último fim de semana, um dos eventos reuniu mais de mil pessoas na Concha da Orla, com festa regada a som automotivo e muita treta. No dia seguinte, o acúmulo de lixo incomodou moradores que reclamaram mais uma vez sobre o “Carnaval”.
A situação preocupa porque neste ano blocos de Campo Grande estão enfrentando uma batalha para garantir que o Carnaval continue acontecendo na Esplanada Ferroviária e em outros pontos da cidade que já ganharam o coração do campo-grandense, como a Praça Aquidauana e a Praça dos Imigrantes. Diante da baderna após o término de eventos carnavalescos, em setembro o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) chegou a recomendar a transferência da festa popular para o Autódromo, na BR 262.
“Isso nos prejudica porque as pessoas não sabem o que está acontecendo e ficam falando mal. Mas quando a gente faz o cordão, tomamos todo cuidado possível para não chocar e incomodar os moradores. Porque fazer um evento, é ter responsabilidade com todas as pessoas e o patrimônio”, explica Silvana.
O Bloco Calcinha Molhada, formado há dois anos, também se posicionou a respeito dos movimentos porque teme que isso prejudique as decisões sobre o Carnaval em 2019. Raína Menezes arquiteta e uma das fundadoras do bloco orienta que é preciso muita responsabilidade e alerta que ocupação não é simplesmente fazer festa em local público e abandonar. “A gente se preocupa porque sabemos que levar essa quantidade de gente para a rua é uma responsabilidade muito grande. Sei da carência de eventos gratuitos, mas por outro lado, tem atrapalhado quem está buscando fazer eventos com responsabilidade. E aos olhos do poder público, é como se todo mundo fizesse parte disso. Acho que as pessoas que estão organizando precisam ter isso em mente.”
Raína lembra que a lista de burocracias para realizar um evento em espaço público é grande, mas antes dos papéis é preciso consciência dos organizadores de que depois da farra, o espaço precisa continuar existindo, sem nenhuma degradação.
Por isso, para fazer qualquer evento em praças, ruas ou orlas da cidade, é necessário cumprir exigências da prefeitura. Em casos de shows, eventos musicais e desportivos são necessários obter alvará de funcionamento, segurança particular, contato com órgãos de segurança, como Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Samu, além de licença ambiental e sanitária em casos de venda de bebidas e comidas nos locais. Uma lista que prova que fazer qualquer evento nessa cidade não é nada fácil
“Cada vez que fazemos um evento é uma lista nova, da última vez tiramos mais de 10 licenças. Nós somos em muitas no grupo, então o trabalho foi dividido, mas para os outros blocos vimos que a luta é enorme. Por isso, a gente se preocupa em estar em dia com todas as exigências para garantir que o Carnaval aconteça. E quando esses eventos sem responsabilidade acontecem, dificulta uma luta inteira que busca um Carnaval seguro para todo mundo”, diz Raína.
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