Aldeia estreia turismo ‘bate e volta’ com dança, artesanato e comida
Em Miranda, famílias e acadêmicos da USP estrearam roteiro turístico que passa por comunidade terena
Danças, artesanato e uma mesa cheia de pratos feitos especialmente para receber os primeiros visitantes. Foi assim que a Aldeia Babaçu, em Miranda, deu as boas-vindas às famílias e estudantes que participaram do primeiro passeio oficial pela comunidade terena.
A iniciativa de colocar a aldeia na rota do turismo é de Denise Silva, pesquisadora do Ipedi (Instituto de Pesquisa e Diversidade Intercultural) e responsável pelo projeto Bruaca.
O turismo de base comunitária, conforme Denise, vem sendo elaborado desde 2019 e finalmente foi colocado em prática no último sábado (06). Antes do momento aguardado, foram realizadas discussões e cursos em parceria com o Sebrae para condutores de turismo comunitário.
Com duração de meio período, o passeio já tem vagas abertas para receber os próximos visitantes interessados em conhecer a cultura terena de perto. Por enquanto, o deslocamento é garantido a partir de Miranda até a Aldeia. Assim, visitantes de Campo Grande, por exemplo, terão que ir com a própria condução até o município.
Quanto à programação, segundo Denise, ela varia conforme o número de pessoas. “No roteiro, se for individual ou pequenos grupos, a programação é conhecer o território da aldeia, a produção de artesanato e um pouco sobre a cultura. Agora, quando é o roteiro de grupo, tem apresentação de dança e degustação de comidas típicas. Tudo isso sempre agendado conosco”, afirma.
No último final de semana, a Aldeia Babaçu recebeu diversas pessoas, incluindo a defensora pública Maria Clara de Morais Porfirio, de 58 anos, que levou parentes vindos de Goiânia. Morando há oito anos em Miranda, Maria relata que a experiência agradou à mãe, aos sobrinhos e a todos os outros que conheceram a história da Aldeia Babaçu.
“Minha mãe tem 91 anos e amou, tinha uma sobrinha de 4 anos e demais parentes (15), além de dois motoristas. Ficaram impactados com a aula da história viva. Eu fico muito feliz em saber de projetos como o da Denise Silva que valorizam nossa gente, nossa cultura, nosso artesanato, nossa culinária”, destaca.
A defensora relata que no sábado aproveitou de diferentes formas, desde a explicação sobre os artesanatos, a dança cheia de simbolismo e a degustação dos pratos. “Havia peças para venda e a parte da cestaria foi muito concorrida. Uma menina indígena estava fazendo pintura nas pessoas interessadas. Eu particularmente amei o momento de poder usar um cocar maravilhoso e registrar o momento ímpar”, comenta.
Também participaram do roteiro 36 alunos da USP (Universidade de São Paulo) e o professor Evaldo Luiz Gaeta Espíndola, de 59 anos. Aquidauanense, ele dá aulas desde 1999 para o curso de Engenharia Ambiental. Nos últimos anos, ele veio para o estado várias vezes para fins acadêmicos com o objetivo de mostrar o Pantanal aos alunos.
Procurando novas alternativas, Evaldo queria trazer os acadêmicos para um lugar que mostrasse a cultura indígena. “Eu queria trazer os alunos da para conhecer uma realidade diferente e no Pantanal sul-mato-grossense”, fala.
Esse contato foi algo que surpreendeu os alunos e até mesmo Evaldo classifica como uma experiência enriquecedora e gratificante. “Eles nunca tinham passado por essa experiência de chegar a uma comunidade e ter e perceber que existe essa realidade muda a forma de pensar e um pouco a trajetória profissional”, diz.
Ele cita que o passeio teve pontos altos passando por partes da história da comunidade com a guerra do Paraguai e as manifestações culturais. A troca de experiências, na visão dele, foi mútua. “A gente percebeu o quanto eles (terenas) estavam motivados e com muita perspectiva futura de tornar aquele primeiro momento algo que pudesse ser repetido várias vezes”, ressalta.
O grupo do professor conheceu o passeio através da Pioneiro Turismo. A proprietária Cristina Moreira expõe que foi um orgulho ser a primeira operadora de turismo a estrear o passeio pela aldeia. Nos 24 anos que tem a empresa isso era uma demanda reivindicada pelos turistas atendidos.
“É um sonho antigo que as comunidades pudessem receber visitantes, colaborando assim para manutenção da sua língua, dança e tradições Então esse produto vem resgatar o trabalho mesmo, a dignidade na forma de viver porque gera renda, enfim é muito importante para toda uma região”, pontua.
O passeio pela Aldeia Babaçu custa de R$ 80 a R$ 150. Interessados no roteiro podem entrar em contato via o Instagram @bruacabr
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