Aos 68 anos, "Baiano da Mace" ganhou salto de paraquedas e quase morreu de medo
Quando José Luiz dos Santos achou que já tivesse feito de tudo nesta vida, recebeu o convite para ver Campo Grande do alto. Aos 68 anos, Baiano, o pipoqueiro querido que trabalha há 30 anos em frente ao colégio Mace, pulou de paraquedas pela primeira vez hoje. Quase infartou de medo, mas se emocionou com os cerca de 45 segundos de queda livre, os mais incríveis da sua vida.
Antes de saltar, até pensou em desistir na hora do embarque no avião. "Tô nervoso", explicou. Mas como esperava desde ontem na fila, teve tempo de sobra para amadurecer a ideia e acabou saltando, ou melhor, foi praticamente jogado, conta ele. "A hora que me jogaram eu fechei o olho para não ver nada. Mas quando eu abri, foi sensacional. Não deu nem tempo de eu me arrepender", conta.
Baiano é uma figura até quando narra a experiência. "Na hora que ele freou, me deu um susto, me deu um sopapo. Agora vou falar pra todo mundo pular, que nem precisa ter medo. Foi uma maravilha, essa Campo Grande é um benção."
A aventura foi um presente do amigo e consultor de tecnologias para educação, Rodrigo César Donatelo. "Baiano sempre foi um amigo muito querido e eu fiz questão de dar esse presente a ele", diz o consultor que já tem 20 anos de paraquedismo.
Por isso, a manhã desta terça também foi incrível para o ex-aluno que cresceu vendo o pipoqueiro trabalhar. "Para mim, foi uma felicidade fazer esse salto com ele, porque já me deu muita pipoca de graça quando eu era criança", comenta.
Baiano, pasmem, é mineiro, e mais um apaixonado por Campo Grande. Chegou aqui em 1972 a trabalho, já foi porteiro, zelador e pedreiro. Mas foi vendendo pipoca que se tornou um dos personagens mais queridos da cidade.
Quem conhece o homem simples, sabe da sua simpatia e generosidade. Todo ano, faça chuva ou sol, no dia do seu aniversário, a pipoca tem que ser de graça. É um homem de bem.
Na expectativa para o salto, desde ontem ele sai cedo da cama e, como não é bobo, leva junto o carrinho de pipoca para ganhar um extra no aeroporto Santa Maria, onde a empresa de paraquedismo faz uma maratona de saltos.
Enquanto esperava na fila enorme de pessoas que contrataram a aventura, ele aproveitou para vender. A segunda-feira passou, a vez dele não chegou, e Baiano acabou voltando nesta terça, feliz da vida. "Tenho muitos amigos e esses alunos gostam muito de mim. Esse é um presente de aniversário que eu nunca pensei que ganharia, achei gratificante", diz sobre a festa antecipada, já que o bolo só chega no dia 20 de outubro.
Hoje, ao colocar o macacão, os olhinhos de Baiano brilharam. "Não deixa de faltar uma nervosinho né? Mas medo tem que ter, se não tiver medo não tem coragem", repetia ao vestir a roupa.
O amor pela profissão de pipoqueiro não fez ele abrir mão nem da boina que é marca registrada. "Quem vai cuidar da minha boina sou eu, vai comigo dentro do macacão". Ele também se preocupou com o sorriso. "Só tenho que cuidar com a minha dentadura, senão ela salta também".
Depois dos 45 segundos emocionantes, não deu outra, a felicidade de Baiano foi pisar no chão e colocar a boina. "Queria ter colocado lá no ar, mas não deu. Tive que colocar a hora que pousei."
Mas nem de brincadeira ele pretende investir no paraquedismo. "Se eu troco meu carrinho de pipoca por um paraquedas? Eu não vendo não. Tenho herdeiros", diz sobre o sonho de ver mais pipoqueiros na família.
Sonho - Assim como Baiano, Valdir Lustosa, de 42 anos, realizou um sonho de infância. Deficiente visual e apaixonado por esportes radicais, altura para ele nunca foi um problema. "Desde criança eu assistia os filmes e me encantava pelas aventuras. Eu sempre imaginava que estar no céu era uma sensação maravilhosa, de liberdade mesmo, sentindo o vento", descreve.
Valdir perdeu a visão aos 23 anos, após um derrame e uma infecção generalizada. Enfrentar a nova condição, segundo ele, foi um momento de luto que durou 8 anos. "No começo eu não aceitei, foi difícil, mas eu resolvi que tinha que dar uma oportunidade a mim, quando me dei conta que ainda tinha uma vida toda pela frente", descreve.
O recomeço foi de um coração aventureiro e junto dele voltou o sonho do paraquedas. "Esperei isso por trinta anos", ressalta. E a ansiedade o fez levantar às 4h da madrugada esperado que o vento colaborasse. "Meu dia começou às 4h da manhã, eu escutava o barulho do vento da janela e imaginava a hora de pular do avião", conta.
Ante de subir, Valdir fez questão de sentir todas as partes do avião. Tocou na hélice, nas asas, sentiu a porta e as rodas. Um momento importante e carregado de emoção. "É um momento único e preciso ter confiança de onde estou entrando né", brinca.
Assim que saltou, foi mais corajoso do que nunca. Com o auxilio de um instrutor, coordenou o paraquedas por alguns segundo de um lado para o outro e a chegada em terra firme. "Foi maravilhoso, dá vontade de saltar de novo. É uma sensação incrível, vou contar isso para os meus filhos e netos com certeza", diz.
Para quem ficou com vontade e deseja se arriscar na aventura, os saltos acontecem até o dia 13 de outubro, partindo do aeroporto Santa Maria. Os pacotes são a partir de R$ 699,00.
Informações pelo site.
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