Com músicas românticas e antigas, quem é o público das serestas pela cidade
Algumas mesas e cadeiras espalhadas, um público com idade predominante na casa dos 50 e 60, ambiente alternativo e uma trilha sonora romântica. Espetinho, cerveja e arte ajudam a compor o cenário na Praça dos Imigrantes, onde toda terça-feira é realizada a noite do Cardápio Seresteiro. A impressão é de que o evento, fixo no local há quatro meses, é um grande encontro de amigos que se juntam para celebrar a vida, bater papo e dar boas risadas.
O número de pessoas não é alto, o que aumenta a sensação de que todo mundo ali se conhece, até mesmo quem vai pela primeira vez. Mas, o que menos parece importar é o volume do público. O ambiente sugere um clima despretensioso de holofotes e sucesso.
Sem palco e sem frescura, músicos e instrumentos se ajeitam na calçada mesmo, perto da plateia. Nas mesas, o "cardápio" traz uma lista com aproximadamente 200 canções de seresta, das quais o cliente escolhe e faz o pedido. Quem gosta de cantar - e sabe - também pode arriscar soltar a voz.
A ideia de tudo isso foi do militar aposentado Greg Antunes. Nele, o gosto pela arte está na veia e o amor pela seresta é herança de família. "Sentia que faltava isso em Campo Grande, essas músicas a gente não escuta mais tocar em lugar nenhum. Sem contar que é um clima familiar, onde todo mundo se respeita, não tem briga, confusão, é gostoso. Tem um pedacinho de povo, mas já está bom", diz o idealizador do Cardápio Seresteiro.
Quando Greg levou a ideia para a gestora da Praça dos Imigrantes, Sônia Albuquerque, de imediato a parceria foi fechada. "A seresta ficou muito tempo sem ser apresentada em Campo Grande e temos público para isso, então, confiei que daria certo", explica Sônia.
Quem é o público? - É o ator, diretor, geógrafo e educador ambiental Isac Zampiere, que escolheu comemorar a chegada dos 57 anos ao som do romantismo. O "parabéns pra você" não fazia parte do cardápio, mas foi garantido na voz e violão de Greg.
É a professora Ceila Pires, uma das frequentadoras mais assíduas das noites seresteiras na praça. Para ela, as terças-feiras são reservadas para encontrar os amigos e matar a saudade das canções antigas que marcaram época.
É também a aposentada Maria Cristina Ataide, de 60 anos, que fala do evento com brilho no olhar. "Acho ótimo esse espaço ser ocupado lindamente pela seresta".
Mas entre o público, uma pessoa em especial chama a atenção, inclusive de Greg. "Só a presença dele aqui já faz valer a pena", afirma o artista. Ele se refere a um homem sentado sozinho na mureta da praça, com um saco plástico grande ao lado, atrás dos músicos.
Essa figura é José Carlos Bernardo da Silva, de 47 anos. Natural de São Paulo, ele veio para Campo Grande para trabalhar como pedreiro. Sem muita explicação, ele resume dizendo que a vida não deu muito certo e há 10 anos ele mora nas ruas da cidade.
E embora a praça seja pública, ali é a casa dele há um ano. Sobre a cantoria de toda terça-feira, que ele acompaha do começo ao fim, com um sorriso define: "me traz paz".
O Cardápio Seresteiro acontece na Praça dos Imigrantes (localizada no encontro das ruas Rui Barbosa e 26 de Agosto), toda terça-feira, das 19h às 22h.