Drags ocupam centro cultural e “corrida” agora rola em espaço público
O evento está na quinta edição e acontece no Centro Cultural José Octávio Guizzo de Campo Grande
A festa colorida das drags agora tem endereço público: o Centro Cultural José Octávio Guizzo. Na 5ª edição, a “Corrida das Drags” ganhou reconhecimento em Campo Grande. O evento estreou ontem (6), com exibição do filme LGBT “Hedwig - Rock, Amor e Traição”. Na sequência, a DJ Maíra Espíndola animou a galera e depois o público conferiu performances artísticas e a disputa de “Mortal Kombat”.
Para a organizadora da programação, Pamella Yulle, a festa no Centro Cultural quebra o paradigma que drag queen é de porta de boate para dentro. “A gente conseguiu colocar em um espaço público, isso engrandece e deixa o evento mais democrático. O mais importante é sair do gueto”, destacou.
É a primeira vez que a edição ocupa o espaço público e nem mesmo o frio de 5 ºC de ontem fez as drag queens desanimarem. Elas marcaram presença e, enquanto umas participavam, outras apenas assistiam. Na corrida deste ano serão realizados quatro eventos aos sábados. “O primeiro no dia 6, o segundo no dia 13, terceiro no dia 20 de julho e encerramos a programação no dia 3 de agosto”, explica Pamella.
As apresentações estão divididas em chaves, na categoria A, B, C e D. “São oito drag queens e começamos com a disputa entre a equipe A versos o grupo B. A Samanta Blossom, Miss Violence e Rafa Spears se apresentaram fazendo uma performance individual no palco”, comentou a organizadora.
Para a festa, foi montado um palco do lado de fora do Centro Cultural e cada drag dublou e dançou. Elas estão atrás do título Pantanal Superstar 2019, que também dará uma quantia em dinheiro e um curso de maquiagem para a campeã da edição.
Jhannine Perry abriu a noite, campeã do festival em 2018. “Venci sem antes nunca ter pisado num palco em minha vida. Fui classificada logo no primeiro show, e no terceiro ganhei a coroa”, contou.
Neste ano Jhanine voltou, mas apenas para entregar o título à nova vencedora. “Me apresentei com um musical Memory do Cats Music. Cantei sobre a juventude e que um novo dia sempre vai nascer”, disse. Para ela, estar num espaço cultural é um ganho. “Estar num local onde não se vê normalmente a drag é incrível, porque somos marginalizadas até mesmo no meio gay”, falou.
A drag, Aurora Black Copacabana, participa da festa desde a primeira edição da corrida. “Minha drag nasceu na segunda edição e na terceira eu competi”, conta. Ela também comenta sobre a programação ocorrer no Centro Cultural. “É um avanço para a comunidade porque não somos só de porta de balada”.
Rafa Spears também é drag e afirmou que é preciso enriquecer a cultura da “categoria”. “Estamos fazendo acontecer mais arte e estando num espaço como esse só tende a somar. Nossa arte precisa ser vista, não podemos ficar escondidos”.
A Corrida das Drags começou em 2016 em bares e espaços fechados de Campo Grande. Outra organizadora do evento, a drag queen Merineuza Joana, explicou que a intenção é fortalecer o movimento e mostrar a arte. “Quis construir um espaço que pudesse crescer com as drags iniciantes. Somos artistas, produzimos arte e cultura. As drags vivem de teatro”.
A Corrida das Drags surgiu para reunir fãs de "RuPaul's Drag Race", um reality show estadunidense que procura a singularidade e talento de uma drag queen. Tudo começou no intuito de assistir os episódios da 8ª temporada e ao mesmo tempo dar espaço para drag queens locais se lançarem.
Na programação, além das apresentações individuais é realizado o duelo “Mortal Kombat” entre as participantes. Nessa fase, duas adversárias sobem ao palco e precisam interpretar uma música surpresa e é o público quem escolhe a campeã que passará para a próxima etapa.
“Nessa primeira fase a chave A e C interpretaram ‘As Frenéticas – Dancing Day’ e ‘Ex my love’ da cantora Gaby Amarantos. A corrida sempre foi essa vitrine”, afirma a organizadora Pamella Yule.
O evento ocorre em parceria com a Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul e com o projeto CineCafé.
Tem que mostrar - A “Corrida das Drags” chamou atenção do público e algumas pessoas foram conferir a “novidade” pela primeira vez, como a psicóloga Vanessa Quadros. “Soube da programação pela internet e acho importante essa inserção na comunidade”.
Para o professor de Inglês, Gabriel Valim, as apresentações revelam o outro lado da cultura que precisa ser mostrada. “É interessante que ocupem um local diferente da cidade, para mostrar esse outro lado. Acho que tem que fazer isso mais vezes porque a única forma de resolver o preconceito é através da exposição e do debate”.
Lázara Lopes da Costa também é professora e foi convidada pelo sobrinho para estar no evento. “Ele se monta e participa. Acho importante isso porque a diversidade faz parte do dia a dia e temos que encará-la de forma cultural. Fico feliz por elas [drags] estarem alcançando esses lugares”.
Quem também esteve na caminhada foi a estudante de Ciência da Computação, Nadia Dutra. Ela relata que no seu círculo de amizades tem drag queens, por isso, acompanha os eventos. “Sempre participo. Acho atrativo a presença de palco, performance e isso chama atenção”.
Programação de filmes:
6 de julho - 17h - SÁBADO
Hedwig - Rock, Amor e Traição (2001)
1H30
EUA - Musical
13 de julho - 17h - SÁBADO
São Paulo em Hi-Fi (2013)
1H40
Brasil - Documentário expositivo
20 de julho - 17h - SÁBADO
Tomboy (2011)
1H22
França - Drama
3 de agosto - 17h - SÁBADO
Laerte-se (2017)
1H40
Brasil - Documentário biográfico