Fé, fronteira, música e poesia em noite de desfile prejudicado pela iluminação
A terça-feira (28) de desfiles das escolas do Grupo Especial de Campo Grande teve homenagens a dois ícones da cultura sul-mato-grossense. A Igrejinha levou o centenário do poeta Manoel de Barros à avenida e a Deixa Falar escolheu apresentar a história do Grupo Acaba. A Catedráticos do Samba também não buscou inspiração muito longe, falou sobre a Colônia Paraguaia". Já a campeão de 2016, Vila Carvalho, escolheu o enredo "Salve Jorge Guerreiro da Vila", em homenagem ao padroeiro da escola.
Neste ano, a estratégia de apresentação prejudicou um pouco o evento. Como as duas agremiações de maiores torcidas entraram primeiro, boa parte do público foi embora antes da última passar. Sobrou para a Deixa falar fechar o desfile e ainda enfrentar problemas de iluminação na avenida do samba.
A campeã Unidos da Vila Carvalho entrou na avenida às 20h49 com nove alas e três carros alegóricos.
Na comissão de frente, dançarinos representavam Ogum, como é conhecido São Jorge nas religiões afro. O primeiro carro alegórico representava a Capadócia, cidade onde nasceu o santo. As baianas vieram de princesa, porque segundo a fé, ele lutou contra um dragão para salvar a vida dela.
O último carro alegórico foi o que mais empolgou a plateia. Chamado de martírio, teve um show de interpretação no meio da avenida.
Durante os ajustes da bateria, o mestre Wlauer de Carvalho, 26 anos, disse que a escola entrou no desfile para o tudo ou nada. "Foi um ano de muito trabalho, nossa única expectativa é ser campeã". Em 2016 a escola levou o título, mas em 2015, foi a vez da maior rival, a Igrejinha que venceu e quebrou a sequência de vitórias.
E a vice do ano passado foi também a segunda a entrar ontem. A Igrejinha desfilou com muita poesia no enredo "Sempre acho que na ponta do meu lápis tem um nascimento". Manoel de Barros sorriu na avenida, em alas sobre o Pantanal, as aves e até o amigo Bernardo, representado pela bateria.
Em cada carro, uma poesia mostrava a grandeza na simplicidade do nosso poeta. O escritor Rosildo Vasconcelos também teve texto levado pela escola ao público, ele contribuiu com um artigo sobre Manoel. "Pra mim foi um honra. Na verdade me senti uma letra dele e a escola conseguiu passar um poucos das brincadeiras com as palavras", descreve.
Com tema "Colônia Paraguaia", a Catedráticos do Samba também entrou confiante com as cores da fronteira.
A comissão de frente trouxe um grupo de dança folclórica com figurino para marcar a valorização da renda usado pelos paraguaios. Lado a lado, bandeiras do Paraguai, Brasil e Mato Grosso do Sul mostraram a união de povos e a criação de uma cultura plural.
"É uma das culturas mais influentes no nosso Estado. Não há como negar o papel importante da colônia paraguaia e que faz crescer também grande parte do País", explica o diretor de comunicação da escola, Oscar Martinez.
Dos três carros alegóricos, um deles, falou da erva mate tradicional e foi destaque de luxo. Em seguida, as alas representaram a erva mate, o tereré, as mulheres chipeiras, e as que cantam músicas religiosas e rezam durante à noite.
O segundo carro alegórico trazia a capela da Virgem de Caacupé, padroeira do Paraguai.
Segurando a bandeira da terra natal na arquibancada, o paraguaio Agustín Antônio Cazal Lopes não conteve a emoção. Ele vive com a família em Mato Grosso do Sul há 7 anos, mas em dezembro deve retornar com a esposa e os filhos para Assunção.
"Vim para trabalhar e acabei ficando, porque o Estado é muito próximo. Quando eu soube da homenagem, fiquei muito emocionado. O desfile foi lindo demais", diz Augustín.
Para fechar a noite de desfiles, a Deixa Falar entrou na avenida por volta de 00h40. Com enredo "Tem cheiro de camalote, tem gosto de tarumã", esse ano a escola homenageou o Grupo Acaba, que completou 50 anos de história com o regionalismo em cada letra e melodia.
Vestidos todos de branco, como manda o figurino clássico deles, os músicos viram sua trajetória musical na avenida. Por conta do horário, as arquibancadas não estavam lotadas, mesmo assim, a escola entrou confiante na busca do primeiro título dentro do Grupo Especial.
Carnavalesco e vice-presidente da escola, Fran Fabian se diz super fã do Acaba. "Sou fã número 1 e quando eu tive essa ideia, foi para mostrar o que temos de melhor e incrível na nossa cultura. Eles aceitaram ser tema e isso nos deixou muito felizes", conta Fran.
Com recursos menores, a escola fez o que pode para garantir o desfile na raça. "A gente está confiante que esse ano podemos ser campeã. Fizemos um Carnaval usando muita criatividade e reciclagem. Porque pra gente isso é cultura, já que todo mundo da escola precisa entrar na história junto com a gente", reforça Fran.
A comissão de frente foi inspirada nas flores de camalote, folclore pantaneiro e o homem boiadeiro, explica a coreografa Suzane Fernandes. "Quando soube do enredo, eu quis inserir tudo que a gente ouve na música deles aqui. Homenagear o grupo é um abraço à cultura, porque eles fazem parte do nosso Estado e amam o Pantanal", diz.
A Deixa Falar foi a única escola que passou sufoco na avenida por conta da iluminação. Assim que os jurados começaram a contar o tempo, após minutos de fogos de artifício, algumas lâmpadas se apagaram nos postes. Mas nada impediu a escola de seguir em frente. Com 11 alas e 3 carros alegóricos, a escola fechou o desfile com parte dos integrantes do Grupo Acaba.
Entusiasmado, Tião César, um dos músicos, agradeceu. "Não temos nem palavras, é uma sensação muito emocionante. Nos sentimos lisonjeados em estar compartilhando esse momento com eles".
A apuração das campeãs do Carnaval 2017 será hoje, a partir de 17h.
Curta o Lado B no Facebook.
Confira a galeria de imagens: