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Diversão

Mais uma baixa na cidade: Esquina 20, bar da cerveja com pipoca, fecha em agosto

Ângela Kempfer | 26/07/2012 12:04
Cervejaria fica na esquina da 13 de Junho com 7 de Setembro. (Fotos: Pedro Peralta)
Cervejaria fica na esquina da 13 de Junho com 7 de Setembro. (Fotos: Pedro Peralta)

Durante 24 anos, Isaias Furtado serviu pipoca com cerveja na esquina das ruas 7 de Setembro e 13 de Junho. A soma das duas batizou o bar “Esquina 20”, uma tradição boêmia na cidade. Com a pipoquinha salgada, ele ganhou fama que mais tarde teve o reforço da feijoada na cumbuca, de todos os sábados em Campo Grande.

Pois é, mas a tradição tem dia para acabar. Em agosto, a Esquina 20 fecha as portas e as janelas de vidros coloridos. Não pela falta de clientes, mas por problemas com o imóvel, até então alugado. O proprietário morreu, a viúva também e os filhos resolveram vender a área, quase meio quarteirão entre a Sete e a 15 de Novembro.

“Ofereceram para a gente, mas por R$ 400 mil, não temos condição de comprar”, lamenta Luzinete de Oliveira, a Lu, esposa do ex-garçom que virou empresário em 1988. O imóvel acabou vendido à outra pessoa que não tem interesse em alugar.

A decisão por enquanto é fechar, sem previsão para retorno em qualquer outro ponto da cidade, comenta a esposa de Isaías. “Não sabemos ainda o que fazer. Resolvemos cadastrar todos os clientes para ter os contatos se a gente voltar a abrir em outro lugar”.

Na lista vão estar políticos, artistas e uma juventude que também gosta de fechar a noite no Esquina 20.

O dono “Zazá” entrou em depressão quando soube da notícia, conta a esposa Lu, e ainda não acredita que terá de deixar o prédio. “Ele achava que isso nunca aconteceria, que a gente ia ficar aqui para sempre. Quando a venda foi confirmada, em maio, foi como ver o chão abrir. Ele ficou muito abalado, deprimido mesmo”.

Depois de algum tempo conversando com Lu sobre a história do Esquina 20, o proprietário aparece, bem vestido, com banho recém tomado. As primeiras perguntas ele responde de forma atravessada. “Fechar? Quem disse que a gente vai fechar? Vou ficar aqui até morrer”.

A esposa intervém e ele resolve conversar sobre o fim de um ciclo. “Tenho conhecimento de 62 anos com a culinária. Vou levar isso sempre comigo e tenho certeza que as pessoas vão me acompanhar”, comenta com firmeza.

Isaías mostra reportagem de jornal sobre a casa, uma tradição de Campo Grande.
Isaías mostra reportagem de jornal sobre a casa, uma tradição de Campo Grande.
O bar com cara de boteco.
O bar com cara de boteco.

Os 60 anos são divididos entre São Paulo e Campo Grande. Por aqui, trabalhou em bar ao lado do Cine Santa Helena, depois no Taboquinha (famoso na década de 80) de onde saiu para abrir o Esquina 20. “Um dia estava passando por aqui e o dono me chamou. Perguntou se eu queria assumir o ponto. Na hora aceitei”, lembra.

Como começou a trabalhar aos 12 anos, o menino logo ganhou uma personalidade mais dura, “sincera”, como ele define. “Sou a sinceridade em pessoa...Já tive problemas por isso. Mas perco um cliente para ganhar 20”, garante o empresário com espírito de garçom, que até hoje percorre as mesas sem preguiça. “Ele é a alma. É conversador, gosta disso”, elogia a mulher.

A confiança no negócio é tanta, que nunca implantou a cobrança com cartão de crédito ou débito, por exemplo. “Não gosto de bancos, eles não dão nada de graça, nem para o empresário, nem para o cliente”, justifica.

Também nunca mexeu no prédio. A mulher queria ampliar, fazer um segundo piso para pizzaria. Faltou dinheiro, não sucesso. “Temos cara de boteco mesmo. Não colocamos música ao vivo, por exemplo, porque o que as pessoas querem mesmo é um lugar para sentar, sem frescura, e conversar”, avalia Lu.

Lu promete avisar, caso trabalhe em outro endereço.
Lu promete avisar, caso trabalhe em outro endereço.

Marca registrada - A pipoca foi sugestão de um cliente e virou chamariz, de graça. “Todo dia chegava um e pedia uma ‘pipoquinha’, eu então aparecia com um grão só no pratinho. Era motivo de graça. Quando entrou na rotina, não saiu mais”.

Lu lembra que por noite chegava a estourar 4 quilos de pipoca. “E não era só para quem bebia não. A vizinha vinha pegar pipoca, daí cresceu e hoje quem vem pedir é a filha dela”.

Depois do petisco gratuito, Isaias planejou uma feijoada diferente, ao estilo paulista, na cumbuca. Até hoje, os sábados lotam a casa, com o prato servido a R$ 35,00, que serve duas pessoas. “O primeiro dia servimos 4, depois aumentamos para 12. Hoje, servimos 120 no sábado”, diz a esposa sobre a comida que é um ritual da casa, começa a ser feita na quarta-feira e no dia de servir é gratinada.

Pelas paredes, fotos com artistas como Sérgio Reis, quadros religiosos (presentes de amigos), reportagens de jornais sobre o Esquina 20, emolduradas, e cartazes que apresentam o Bacalhau do Zazá, outra especialidade que ficará na gaveta, até que Isaias, aos 74 anos, resolva se vai continuar trabalhando e em qual lugar da cidade. “O dia que a gente estiver pronto para atender, vamos avisar”, garante Lu.

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