Na dança de quem dá mais “close”, MS ganha 1º baile vogue do babado
Na periferia da Capital, batalha "de carão" baseada na cultura vogue nova-iorquina terá 3 edições gratuitas a partir de março
O que um estilo de dança gay praticado na Nova Iorque do final dos anos 1970 e a Campo Grande de 2021 têm em comum? A cultura ballroom. Pela primeira vez em MS, um baile queer contará com batalha de quem faz mais "carão", desfile "babadeiro" ou estilo e pose mais atrevidos. A partir de março, "Sobre (viver)" terá 3 edições presenciais e totalmente gratuitas em bairros periféricos da cidade mostrando que, quando se trata de glamour, ele nunca pode faltar.
Eternizado no hit pop "Vogue" em 1990 por Madonna, a dança de mesmo nome foi originada na realidade 3 décadas antes, no final dos anos 60 pela comunidade LGBT nova-iorquina. Com elementos bastante femininos, posados, de "vanguarda", passos precisos mas ainda sim "gentis", o vogue acontecia em bailes (os chamados ballrooms) marginalizados no clima de uma grande festa.
Nas batalhas, isto é, competições do "babado", quem se vestia melhor de acordo com um tema, tinha a coreografia mais ousada ou simplesmente desfilada como ninguém, era o vencedor. Tudo decidido na hora por um grupo de jurados representantes. Ali, todos se conheciam, dançavam e brincavam ao som de clássicos da era disco. Por um instante, não havia medo e podiam ser quem bem quisessem.
Até então, Mato Grosso do Sul tinha uma cultura vogue quase inexistente, até surgir a primeira house (clã) do estado. Idealizado por um coletivo de bailarinos amigos, há exatos 3 anos a House of Hands Up MS veio para fortalecer a arte queer em Campo Grande – e agora o primeiro ballroom oficial da casa.
"Uma das vertentes mais aclamadas pelo público LGBT, vogue não se trata exclusivamente da dança, mas de um estilo de vida. Lado a lado às batalhas, empoderamento se encontra com a militância. É feito e divulgado por minorias sociais marginalizadas que, por meio da arte, promovem inclusão e lutam contra o preconceito", esclarece Roger Pacheco Ferreira, o bailarino de 30 anos que também é mother ("matriarca") da Hands Up.
Na ocasião do baile, serão até 10 participantes por categoria, divididas em 4: "Runway" (desfile), "Face & Body" (poses), "Virgin Vogue" (iniciantes) e "Vogue Femme" (essência feminina). Além dessas batalhas, o evento promove mostras de dança, maquiagem, vivências da comunidade LGBT e workshops variados presenciais, tudo de graça e em conformidade com os protocolos de biossegurança.
A ideia de lançar essa primeira ballroom é para mostrar que a cultura queer se faz presente e não está calada diante dos horrores que vivemos", diz Roger.
Segundo relata, a escolha dos bairros envolve os que possuem maior vulnerabilidade social. A partir de março, serão três edições na Rede Solidária: uma no Jardim Noroeste (no dia 06/3), outra no Jardim Aero Rancho (no dia 13/3) e, por fim, a última no bairro Coophavila II (no dia 27/3).
"O nome 'Sobre (viver)' é mais do que a luta contra um vírus invisível e assustador, mas também com relação ao medo constante que a comunidade LGBT enfrenta, de aceitação ao preconceito, sem esquecer da violência. Ainda, se trata de um trocadilho: de como é que nós vivemos", finaliza.
Informações podem ser consultadas pelo perfil oficial no Instagram. Inscrições nas batalhas e para mostra de dança acontecerão somente na hora do evento, de forma gratuita.
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