Nas recordações de Celso, fotos de 1982 exibem puro amor ao cinema
O longa-metragem ‘O encouraçado Potemkin’ já havia sido proibido de ser projetado em alguns locais na época
Uma coleção de fotos de 1982 resgata a memória da exibição de filme inédito no Cineclub. As imagens foram registradas em 29 de agosto, durante a primeira projeção do longa-metragem ‘O encouraçado Potemkin’, dirigido por Sergei Eisenstein e Grigoriy Aleksandrov e hoje estão na memória de amigos que valorizam o cinema desde aqueles tempos.
“Esse filme russo na verdade veio de uma distribuidora russa em São Paulo e em muitos locais tinha sido proibido de ser reproduzido. Essa seção foi fotografada e depois de muito tempo encontrei as fotos e desse público que era frequente nas seções”, relembra Celso Kasumi Arakaki, de 62 anos, que esteve por três anos à frente do Cineclube.
Arakaki ainda conta que por pouco o filme não foi exibido por ser considerado polêmico na época. Porém, o organizador contava com o apoio de um assíduo frequentador e advogado que intermediou o envio da fita para a Capital.
Dentre as tantas recordações, durante a conversa com Arakaki fica perceptível a dificuldade para que as sessões semanais fossem realizadas. “Nós não tínhamos apoio do governo, naquela época era o começo da era democrática. A gente fazia tudo com muita colaboração”, contou.
Sem a facilidade que as redes sociais proporcionam nos dias atuais, a divulgação dos filmes era realizada de bar em bar. Com o projetor, o grupo ia até os bares da cidade e exibia um curta-metragem como convite para assistir a longa-metragem que passaria na sessão de sábado ou domingo. “A molecada tinha muita disposição”, brinca.
Para que todos pudessem participar das exibições, Arakaki garante que os ingressos possuíam preço acessível, custando apenas 150 cruzeiros, que ele avalia que hoje em dia custaria cerca de R$15. O baixo custo aos espectadores, faziam com que as sessões chegassem a receber cerca de 150 pessoas.
“Era um público flutuante, mas muitos ali eram frequentadores assíduos. Os antigos chegaram a ficar na frente, sentados no chão para dar lugar para aqueles que estavam visitando. Mas não fazia nem diferença, porque as cadeiras também eram todas duras”, diz rindo ao final.
Dentre os inúmeros filmes passados pelo Cineclub. Arakaki destaca os títulos: ‘O homem que virou suco’, de José Carlos de Andrade; ‘Meow!’, um curta de animação premiado, que foi produzido por Marcos Magalhães. Muitos filmes nacionais também passaram pelas telas do clube.
As atividades de Arakaki no cineclube se encerraram em 1984, quando ele começou a se dedicar aos trabalhos no Núcleo de Cinema de Animação. Trinta e nove anos depois, o antigo organizador voltou como telespectador às salas do clube, que agora está em novo local e sob nova direção. Dessa vez o filme não foi exibido no projetor de 16 milímetros, como era feito em 1982. Com dose dupla, os filmes em cartaz eram ‘Alma do Brasil’ e ‘Alma em Revista’.
Apesar do grande números de streams disponíveis e das grandes redes de cinema, Arakaki garante que a quantidade de cineclubistas ainda é grande. “A magia da sala escura é diferente de assistir a Netflix pela TV. Vai ter um ressurgimento do cineclube, tanto por esse sentimento nostálgico, que pode ajudar sim, mas tem muita gente nova interessada em cinema. Existe sim, uma dificuldade, mas eu acho que é bem menor e com esse auxílio da lei eu acho que vai melhorar”.
Com grande acervo de filmes, hoje Arakaki trabalha para digitalizar os VHS que ainda possui. Se conseguir estimar um número exato, ele calcula que ao todo serão realizadas mais de 50 digitalizações.
Confira a galeria de imagens:
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