Para que servem mesmo os quiosques do Parque das Nações Indígenas?
Quem frequenta o Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, já percebeu, alguns quiosques espalhados pelo local sempre funcionaram como “decoração”. Desativados, não servem para o que realmente deveriam e, sem edital de concorrência lançado pelo Governo - o que garantiria a presença de comerciantes, por exemplo, a maioria acabou ocupada por órgãos do poder público.
Ao que tudo indica, eles permanecerão ali, em espaços que poderiam ser mais um atrativo para melhorar a estrutura do principal parque da cidade e garantir uma água mineral, um refrigerante ou aquele lanchinho aos frequentadores que têm de sair do local para poder matar a sede do lado de fora.
Depois de 19 anos – desde a inauguração, a Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia) vai realizar, em parceria com a UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), um novo plano de uso e ocupação da área.
Os quiosques estão entre as preocupações, assim como a permissão de ambulantes em dias normais e não apenas durante shows. De acordo com a analista ambiental do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) e gestora do parque, Ana Carolina Seixas Nascimento, de 32 anos, 4 dos seis núcleos de quiosques estão ocupados atualmente, um deles pela própria administração.
A PMA (Polícia Militar Ambiental) e a PM (Polícia Militar) ocupam outros dois. O quarto é divido por uma instituição de escoteiros – entidade sem fins lucrativos – e pela Codac, organização que oferece orientações esportivas para atividades praticadas dentro do espaço.
O quinto, segundo a administração, será ocupado pela Fundect, que pretende implantar uma unidade do Geopark. Sobra um apenas que, no caso, poderia ser ocupado por comerciantes.
Mas, sem edital, não há possibilidade de abertura para o público, garantem os gestores. Primeiro porque a procura é grande. Depois, a concorrência seria desleal. Para não piorar o problema, as portas continuam fechadas.
“Muita gente tem interesse em fazer comércio aqui dentro, mas não podemos ceder porque são várias pessoas. Para fazer isso, precisamos de um edital, para a concorrência pública”, disse.
Por enquanto, os núcleos que estão sem ocupação são dois. Um deles fica próximo ao Museu Dom Bosco, que fica dentro do parque. O outro está perto do Lago principal.
Descaso - Em ambos, os sinais de abandono são visíveis: escadarias sujas, portas se tranca, vidros quebrados e falta de iluminação. Até os banheiros, que poderiam estar abertos, continuam desativados.
Quem costuma frequentar o espaço vê a situação como puro descaso. Carlos Felipe Oliveira, de 22 anos, não é um visitante assíduo, mas afirma que os núcleos poderiam ser mais aproveitados. Para o veterinário, uma boa opção seria “transformar” os quiosques em lanchonetes ou lojas para vendas de artesanato.
Se deixar de lado a paixão pela arquitetura, a amiga, Camila Amaro, de 25 anos é mais técnica na hora de avaliar. Diz que deveria haver um estudo com os “usuários”, ou seja, com quem vai ocupar o espaço.
De nada adianta, na avaliação dela, pensar na economia que vai ser gerada e deixar de lado o aspecto social. Um quiosque pode, por exemplo, ter churrasqueiras, mas até que ponto isso é viável? Atrapalharia os frequentadores que vão ao local para caminhar, fazer piquenique ou correr?
Tudo isso, segundo a arquiteta, deve ser levado em consideração. “Não dá para fazer uma avaliação sem pensar nos usuários”, disse. Uma das possibilidades, arriscou, seria tentar uma integração entre os quiosques e o Museu.
Via Judicial – Em resposta à reportagem, o gerente de unidades de conservação Leonardo Tostes Palmas, de 37 anos, ressaltou que a Fundect está preparando o novo plano de uso e ocupação da área. Os pesquisadores começam a trabalhar no projeto a partir de fevereiro.
Mas, até a finalização do estudo, que será encaminhado ao Governador André Puccinelli (PMDB), a orientação aos interessados em ocupar os quiosques é procurar a administração do Parque das Nações Indígenas, que fica dentro da própria área.
Como não há lançamento de edital há pelo menos 1 ano, a gestão do parque, explicou, pode tentar ajudar o comerciante por meio do judiciário. Neste caso, ressaltou, poderia haver um contrato, mas a resposta não depende de quem faz a gestão do espaço.
“Essa procura vai gerar um documento que a gente vai tramitar juridicamente. A única coisa que pedimos que é o interessado venha com uma proposta de viabilidade do negócio, ou seja, apontando se vai conseguir manter, se é certo”, disse.
As poucas vezes em que os quiosques foram abertos os comerciantes estavam vinculados a empresas ou associações sem fins lucrativos, relembrou.
Lazer - A ativação dos núcleos e a comercialização de alimentos ou objetos no local podem servir de incentivo e mais uma atração para visita aos frequentadores. Alguns até passam em frente, mas não entram.
A justificativa - e reclamação -, em alguns casos, é que no local não se encontra alimentos. Mais fácil e prático passear na Afonso Pena e parar para comer e descasar em uma dos vários pontos espalhados pela avenida, alguns deles em frente ao Parque.
“Em um período de férias era para estar lotado”, opinou a estudante de odontologia Caroline Moreira, de 21 anos, que resolveu passear com a amiga, a gerente Elisangela Izaias, de 32 anos.
Para a acadêmica existe, sim, alguns problemas, mas o campo-grandense não sabe valorizar o que tem. “O povo vai passear na Afonso Pena, mas não entra no parque”, disse.
Elisangela sabe reconhecer a beleza do local, mas não conhecia o Parque das Nações. Há 18 anos morando na Capital, a gerente nunca havia visitado uma das maiores reservas ecológicas do mundo. “É um lugar lindo”, resumiu.