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Diversão

Sensibilidade de Rubel lota teatro com público encantado pela poesia do músico

Em entrevista ao Lado B, o carioca reflete sobre sua fase artística e diz que não se importa em embalar a "bad" das pessoas

Thaís Pimenta | 30/07/2018 06:50
Show de Rubel lotou o Centro de Convenções de Campo Grande no último domingo. (foto: Thaís Pimenta)
Show de Rubel lotou o Centro de Convenções de Campo Grande no último domingo. (foto: Thaís Pimenta)

Rubel não precisou de muito para encantar o público que compareceu e lotou o Centro de Convenções Arqui. Rubens Gil de Camillo. Com sua voz, seu violão, um visual despretensioso, de meia nos pés, uma calça jeans e uma camiseta laranja, arrancou sorrisos e lágrimas dos que se despuseram a sair de casa na noite do último domingo de julho.

Sua simpática figura representa muito de seus próprios versos, como os de "Mantra", composição de novo álbum "Casas", junto ao rapper Emicida: "Não me deixa esquecer que a gente não precisa de nada, nada". As letras são simples e mesmo assim dizem muito. Talvez porque Rubel compõe com a sensibilidade de quem se vê como o único autor possível de sua própria história.

Antes de se apresentar pela primeira vez em Campo Grande, e emocionar todos os presentes com faixas de seu primeiro CD, o Pearl, e do seu segundo, lançado em 2018, o carioca Rubel contou para o Lado B sobre sua fase atual, com letras e arranjos mais maduros e plurais do que os existentes em seu grande hit "Quando Bate Aquela Saudade". Confira um pouco desse bate papo a seguir:

LB - Rubel, é a primeira vez que você vem a Mato Grosso do Sul, certo? Qual a impressão de um carioca de Volta Redonda para Campo Grande?

Rubel - Sim, na verdade eu cheguei na sexta-feira para participar de um noivado além do show. Tem um amigo meu que a noiva dele é de Campo Grande então sábado teve a festa de noivado. Na sexta-feira eu fiquei trabalhando então eu fiquei mais no hotel e na casa dela mesmo. Não deu tempo de explorar muito não mas a sensação de estar aqui é muito boa.

Rubel é de Volta Redonda e veio para Campo Grande fazer show pela primeira vez neste fim de semana. (Foto: Divulgação)
Rubel é de Volta Redonda e veio para Campo Grande fazer show pela primeira vez neste fim de semana. (Foto: Divulgação)

LB - E por falar em destinos, você está fazendo uma turnê com esse show pelo Brasil. Ainda tem muito lugar pra visitar?

Rubel - Se Deus quiser. A gente fez as principais capitais já, umas 20, 25 cidades, a ideia agora é começar a explorar mais os interiores, interior do Rio, de São Paulo, de Minas, e as capitais ainda inexploradas, Cuiabá a gente não fez ainda, o norte ainda fizemos pouco, então a ideia é até o final do ano rodar praticamente todas as capitais e o interior.

LB - Uma coisa nos chamou muita atenção quando entramos em contato com sua produção sobre o show aqui. São você quem alugam os teatros pelas cidades e produzem a apresentação?

Rubel - É a maneira que eu mais gosto de fazer.Eu já briguei muito com empresários por causa disso porque a ideia geralmente é conseguir um parceiro local que seja o contratante do show. E o que o contratante faz é exatamente esse trabalho de alugar o teatro e fazer o intermediário entre o artista e o teatro e agora que eu sou meu próprio empresário,eu criei uma empresa pra justamente conseguir fazer as coisas do meu jeito a gente faz isso, mesmo que não tenha essa pessoa eu mesmo vou no Google e procuro onde as pessoas que tem um público parecido com o meu já tocaram, e saio cavando espaços, a gente entra em contato e vê se rola fazer ali. É um trabalho bem de guerrilha mesmo, mas tá sendo maravilhoso.

LB - E acaba que isso torna o preço mais acessível também.

Rubel - Com certeza. Isso é uma coisa que eu sempre faço questão assim, de ter o preço mais acessível possível contato que consiga viabilizar o show e a gente tenha um lucro.

LB - Neste show você apresenta músicas de seus dois discos. Ao compará-los é possível notar que o "Pearl" tem um som mais inocente, menos plural que o "Casas". Isso é um reflexo de seu amadurecimento como músico?

Rubel - De alguma forma pode ser visto como um amadurecimento e também foi uma busca por fazer algo diferente. Mas não foi uma busca consciente, foi muito natural, na verdade. Eu tinha feito esse disco primeiro que era folk, voz e violão, em 2011, 2012, em 2013 eu lancei ele, e era uma época em que eu ouvia muito folk.

Era uma época que aquele universo fazia muito sentido pra mim. E aí depois eu fui mudando, comecei a ouvir mais hip hop, mais coisas pra cima, animadas, e eu tive vontade de fazer isso também. Foi mudar porque eu precisava,era o que eu sentia no momento e eram gêneros, o rap e a MPB, que eu considero que casavam bem e captava melhor o sentimento que as músicas estavam tratando.

O primeiro fala muito sobre saudade, nostalgia e o segundo fala desse momento um pouco mais velho, de ida pro mundo, acho que é uma busca por encontrar seu espaço no mundo, uma cosia mais pra fora, tipo "esse aqui sou eu". O hip hop e as batidas eletrônicas me ajudaram a contar essas histórias.

LB - E você descobriu qual é esse seu lugar no mundo?

Rubel - Acho que a gente vai descobrindo e esquecendo. Eu acho que eu descobri muito cedo qual era o meu lugar no mundo, acho que claramente com 14 anos eu entendi muito bem quem eu era e o que eu tinha que fazer aqui. Eu não tinha tanta clareza que eu seria músico, não sabia exatamente o meio mas de alguma forma, lá dentro, faz muito sentido o que eu estou fazendo hoje. E aí depois lá pelos 17 eu esqueci e acho que faz parte desse processo.

Esse aqui sou eu, e depois não é mais. Depois você descobre outro eu. A gente vai se transformando também, então faz parte desse processo de descobrir quem eu sou agora. E eu sou várias coisas agora também e pode ser que daqui a pouco eu já tenha mudado e tenha que me redescobrir pra sempre mais uma vez. Espero que seja assim pra sempre.

Imagine se descobrir aos 20 anos e nunca mais mudar? E espero que seja assim musicalmente também, porque se eu não mudasse minha música seria a mesma pra sempre, só espero que eu me perca bastante ainda.

LB - Como rolou o convite para o Rincon Sapiência e o Emicida participarem do "Casas"?

Rubel - Eu já tinha as músicas prontas, tava finalizando as batidas pra realmente soar como eu queria soar. Foi um processo bem intenso porque eu nunca tinha feito esse tipo de música então a gente produziu e regravou milhares de vezes e quando estava realmente legal eu bati na porta dos dois e mostrei tanto pro Rincon quanto pro Emicida e eles foram incríveis. Ouviram, gostaram muito, e abraçaram a idea sabe.

Eles são os maiores hoje no rap. Eles são uma referência pra mim, eles e o Criolo, eu acho que são incríveis. Sem dúvida, eles são meus ídolos e foi muito louco poder cantar com eles.

LB - Voltando um pouco pro início da sua carreira, Rubel, você esperava o sucesso que foi "Quando Bate Aquela Saudade" ou foi uma surpresa pra você?

Rubel - Eu não esperava nada do que aconteceu, dessa forma. O disco era uma coisa muito menor do que ele se transformou. Lá em 2013 era pra ser um disco pequeninho, indie, para um público muito restrito e quando eu descobri que ele tinha um apelo popular mesmo, de tocar em novela, é muito bonito isso da canção transpor qualquer barreira cultural ou social. Quando eu fiz era um negócio pra mim, depois de dois anos ainda era muito restrito ao meu círculo mais próximo. Acho que foi depois do clipe que a música tomou uma dimensão maior.

LB -  E virou a trilha para curtir aquela bad da galera.

Rubel - E a good também né. Tem muita gente que fala que viveu bons momentos. Embalou relacionamentos e se apaixonou com a música. Acho um máximo isso, de poder ser uma música tanto de bad quanto de bons momentos.

LB - Pra você ela significou o que?

Rubel - Foi um sentimento de libertação. De alguma forma não ter medo de amar, de correr esse risco. Por isso que eu acho que ela não é uma música de bad. Ela tá consciente de que as coisas podem dar errado, e que provavelmente vão dar errado, mas mesmo assim vamo embora, vamo fazer isso, sabe?

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