Surian fechou de vez, mas deixou legião de DJs com histórias de festas e gangues
Com ar de abandono que nem de longe lembra os dias de glória, o Clube Surian está de portas fechadas. Não há uma agenda de shows no local, com os tradicionais bailes da terceira idade ou flash backs esporádicos. O Lado B nem mesmo conseguiu visitar o espaço, que segundo a responsável do local, que se identificou apenas como Luisa, “foi fechado e a imprensa não está tendo acesso a ele. O clube não está abrindo para eventos”, afirmou em entrevista por telefone.
Aparentemente sem volta, tudo indica que o prédio na Mato Grosso ficará por muitos outros anos fechado. É visível o desgaste da estrutura, inclusive, com teto comprometido pelos temporais dos últimos anos
Então, o que fica são as histórias.
Inaugurado nos anos 70, o Clube Surian teve uma época de ouro logo no início, quando a banda Zutrik animava as matinês, tocando o bom e velho rock'n'roll. Os anos se seguiram até a década de 80 e os famosos “passinhos” se tornaram febre na cidade. Quem comandava tudo eram os DJ's, que precisavam remixar os hits na hora e sofriam para colocar a música da moda.
“Eram os passinhos da época, o estilo musical possibilitava isso, era tudo sincronizado. Antes de iniciar essa época, o que fazia sucesso era a Zutrik e depois o clube fechou, reabrindo no início de 80”, relembra Haroldo Ormond, um dos DJ's da casa.
“Eu comecei a explorar a discoteca nos anos 80 e 90. Eram muitos jovens, basicamente aos domingos. Começava geralmente às 14 horas e ia até às 20 horas, mais adolescentes. Depois ampliamos os horários. Chegava a caber 1 mil pessoas no local”, conta. Com dois pisos e uma área externa com piscina, o Surian era um ícone para os adolescentes.
Outro DJ que trabalhou em duas fases do Surian, de 1984 a 1989 e depois de 1990 a 1991, diz que até as gangues de Campo Grande gostavam do agito. “Depois da ditadura militar, os jovens perderam um pouco o medo da polícia. Adolescentes de 14 e 15 anos formavam gangues e dançavam Michael Jackson, ele foi o culpado de tudo isso”, ri Cláudio.
Hoje consultor de nutrição esportiva e DJ nas horas vagas, Cláudio lembra com bons tempos do Surian. “Eu comecei com 12 anos de idade, meu nome artístico era DJ Cascata. Profissionalmente comecei em 1984, o Haroldo era meu chefe e as rádios tinham uma participação importante na fama do clube. Na época, tinha um radialista o Dilsinho Rodrigues, em que fazíamos as mixagens no programa ao vivo. Não era para qualquer um”, reforça.
Haroldo cita outro radialista, o Jucelino Burton, que fazia o Dane Mix, já nos anos 90. “Ele ainda é locutor de programas de rádio eu acho. Nós levávamos e montavamos os equipamentos nas rádios e fazia as mixagens ao vivo, era o diferencial. Não era para qualquer um, tinha que ser bem treinado e consciente que estava ao vivo, não poderia errar”, frisa.
O sucesso dos passinhos se consolidou ainda mais com o grupo Menudos e no Surian chegou a ter a batalha para saber quem representava melhor os músicos. O apresentador Maurício Picarelli que comandava tudo. “Passei muita raiva”, brinca Cláudio, para completar. “Mas, era bom. Bombou o Surian, pensa de 1800 mil a 2 mil pessoas. Era uma coisa absurda. Lógico que saia algumas brigas no final, mas nada demais”, relata.
Uma curiosidade que Cláudio conta é que cada DJ tinha a sua forma de fazer o famoso single do surian: o "su-su- suriaaan. “Eu usava uma música do Phil Collins, juntava com a parte que ele falava su su su e incluia o restante. O Surian teve vários jingles, várias chamadas, cada um fazia do seu jeito”, relembra.
A era dos passinhos no Surian reinou até meados dos anos 90. Em 2000, as modas musicais começaram a mudar e o pop invadiu de vez as pistas de dança. Nesse tempo, Haroldo achou melhor se retirar como DJ e investir apenas em equipamentos eletrônicos. “Em 2004 eu encerrei as atividades. Estilo musical diferente, concorrência, foi perdendo o encanto aquele espaço. Dessa época eu quebrei o contato e não voltei. O clube mudou a diretoria, exploraram a música ao vivo e parece que agora está fechado mesmo”, diz.
Esperamos que não seja para sempre.