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Diversão

Surian fechou de vez, mas deixou legião de DJs com histórias de festas e gangues

Naiane Mesquita | 23/02/2016 06:34
Um dos patrimônios históricos da noite campo-grandense, Surian permanece fechado (Foto: Alan Nantes)
Um dos patrimônios históricos da noite campo-grandense, Surian permanece fechado (Foto: Alan Nantes)

Com ar de abandono que nem de longe lembra os dias de glória, o Clube Surian está de portas fechadas. Não há uma agenda de shows no local, com os tradicionais bailes da terceira idade ou flash backs esporádicos. O Lado B nem mesmo conseguiu visitar o espaço, que segundo a responsável do local, que se identificou apenas como Luisa, “foi fechado e a imprensa não está tendo acesso a ele. O clube não está abrindo para eventos”, afirmou em entrevista por telefone.

Dj Cláudio, mais conhecido como Cascata, relembra os tempos de Surian (Foto: Alan Nantes)
Dj Cláudio, mais conhecido como Cascata, relembra os tempos de Surian (Foto: Alan Nantes)

Aparentemente sem volta, tudo indica que o prédio na Mato Grosso ficará por muitos outros anos fechado. É visível o desgaste da estrutura, inclusive, com teto comprometido pelos temporais dos últimos anos

Então, o que fica são as histórias.

Inaugurado nos anos 70, o Clube Surian teve uma época de ouro logo no início, quando a banda Zutrik animava as matinês, tocando o bom e velho rock'n'roll. Os anos se seguiram até a década de 80 e os famosos “passinhos” se tornaram febre na cidade. Quem comandava tudo eram os DJ's, que precisavam remixar os hits na hora e sofriam para colocar a música da moda.

“Eram os passinhos da época, o estilo musical possibilitava isso, era tudo sincronizado. Antes de iniciar essa época, o que fazia sucesso era a Zutrik e depois o clube fechou, reabrindo no início de 80”, relembra Haroldo Ormond, um dos DJ's da casa.

“Eu comecei a explorar a discoteca nos anos 80 e 90. Eram muitos jovens, basicamente aos domingos. Começava geralmente às 14 horas e ia até às 20 horas, mais adolescentes. Depois ampliamos os horários. Chegava a caber 1 mil pessoas no local”, conta. Com dois pisos e uma área externa com piscina, o Surian era um ícone para os adolescentes.

Haroldo em 1994 durante as festas no Clube Surian (Foto: Arquivo/ Marquinhos Spinosa)
Haroldo em 1994 durante as festas no Clube Surian (Foto: Arquivo/ Marquinhos Spinosa)

Outro DJ que trabalhou em duas fases do Surian, de 1984 a 1989 e depois de 1990 a 1991, diz que até as gangues de Campo Grande gostavam do agito. “Depois da ditadura militar, os jovens perderam um pouco o medo da polícia. Adolescentes de 14 e 15 anos formavam gangues e dançavam Michael Jackson, ele foi o culpado de tudo isso”, ri Cláudio.

Hoje consultor de nutrição esportiva e DJ nas horas vagas, Cláudio lembra com bons tempos do Surian. “Eu comecei com 12 anos de idade, meu nome artístico era DJ Cascata. Profissionalmente comecei em 1984, o Haroldo era meu chefe e as rádios tinham uma participação importante na fama do clube. Na época, tinha um radialista o Dilsinho Rodrigues, em que fazíamos as mixagens no programa ao vivo. Não era para qualquer um”, reforça.

Haroldo cita outro radialista, o Jucelino Burton, que fazia o Dane Mix, já nos anos 90. “Ele ainda é locutor de programas de rádio eu acho. Nós levávamos e montavamos os equipamentos nas rádios e fazia as mixagens ao vivo, era o diferencial. Não era para qualquer um, tinha que ser bem treinado e consciente que estava ao vivo, não poderia errar”, frisa.

O sucesso dos passinhos se consolidou ainda mais com o grupo Menudos e no Surian chegou a ter a batalha para saber quem representava melhor os músicos. O apresentador Maurício Picarelli que comandava tudo. “Passei muita raiva”, brinca Cláudio, para completar. “Mas, era bom. Bombou o Surian, pensa de 1800 mil a 2 mil pessoas. Era uma coisa absurda. Lógico que saia algumas brigas no final, mas nada demais”, relata.

Clube Surian ainda com placa
Clube Surian ainda com placa

Uma curiosidade que Cláudio conta é que cada DJ tinha a sua forma de fazer o famoso single do surian: o "su-su- suriaaan. “Eu usava uma música do Phil Collins, juntava com a parte que ele falava su su su e incluia o restante. O Surian teve vários jingles, várias chamadas, cada um fazia do seu jeito”, relembra.

A era dos passinhos no Surian reinou até meados dos anos 90. Em 2000, as modas musicais começaram a mudar e o pop invadiu de vez as pistas de dança. Nesse tempo, Haroldo achou melhor se retirar como DJ e investir apenas em equipamentos eletrônicos. “Em 2004 eu encerrei as atividades. Estilo musical diferente, concorrência, foi perdendo o encanto aquele espaço. Dessa época eu quebrei o contato e não voltei. O clube mudou a diretoria, exploraram a música ao vivo e parece que agora está fechado mesmo”, diz.

Esperamos que não seja para sempre.

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