Todo dia às 20h30, homens batem ponto em bar para assistir novela
Grupo de noveleiros se reúne no bar para acompanhar, comentar e fazer muita piada na hora do remake
Pontualmente às 20h30, os homens vão cessando a conversa e começam a olhar atentamente para a pequena televisão instalada na parede do Bar do Chiquinho. No aparelho, nada de Brasileirão ou outro campeonato de futebol, o que prende a atenção dos frequentadores é a novela Pantanal.
A nova tradição entre o grupo de noveleiros é acompanhar de segunda a sábado os capítulos da trama. Eles garantem que não existe briga para mudar de canal, pois ali "todo mundo é amigo" e é consenso que preferem ver o remake ao invés de outra coisa.
O Lado B acompanhou com os fregueses do bar o capítulo veiculado na noite de segunda-feira (30). Ao todo, oito homens estavam presentes, porém os mesmos garantiram que tem dias que juntam de 15 a 20 homens para assistir. “É porque hoje tá frio e é segunda-feira”, justificou um.
O ponto de encontro é o estabelecimento que tem 20 anos de história na Rua Ana Luísa de Souza, no Bairro Pioneiros. O dono é Francisco Vieira da Silva, de 57 anos, que é quem liga a televisão de catorze polegadas e já sabe de cor o que cada cliente gosta de beber. Embora tenha a mesma idade do bar, o televisor antigo quebra o galho da turma, que dá um show de animação, simpatia e conhecimento sobre os assuntos da novela.
A maioria do grupo mantém amizade há mais de 35 anos, porém o “caçula” é o mecânico Marcos Saldanha, de 50 anos, que é quem chegou por último há cerca de sete anos. Ele conta que é hábito o pessoal ficar no local para ver alguma programação. “É nosso costume e quando saiu a novela, foi juntando o pessoal. Antes, a gente ficava vendo Roda a Roda Jequiti, porque tinha os joguinhos. Então, a gente se reúne, vai se interessando pelo que tem na TV e vamos conversando”, explica.
O barbeiro Wilson Pontes Santos, de 57 anos, comenta que vai ao bar após fechar o salão. “Essa novela, eu já assisti a primeira e agora, tô vendo a segunda. Quando eu saio do serviço aqui da avenida, passo aqui, tomo uma e depois, vou assistir o restante em casa”, diz. O serralheiro Rildo Mota, de 56 anos, é um dos mais quietinhos da turma, mas compartilha da mania de fazer piada como a maioria. “Aqui nesse bar só tem relíquia, viu?! A matéria vai ficar completa”, se diverte ao falar da idade dos companheiros. Ao ser questionado quem é o personagem favorito, ele não titubeia. "É a Juma e o Zé Leôncio, porque ele tem autoridade", responde.
O início do capítulo - Depois de acabar o jornal, surge na tela José Leôncio (Marcos Palmeira), Filó (Dira Paes) e Irma (Camila Morgado). “Alá, começou”, avisa um, enquanto outro faz "shhh" pedindo silêncio. “Não pode ficar conversando muito alto, porque, senão, atrapalha nós”, ressalta Marcos. Por esse motivo, essa jornalista aqui preferiu fazer a entrevista durante os intervalos da novela.
Durante o capítulo, os homens ficam todos em pé, pois garantem não sentir cansaço. Ao decorrer da exibição, eles vão fazendo comentários, brincadeiras, vibrando e até imitando bordões dos personagens. “Ihh, larga mão”, solta um vez ou outra.
O momento que fez geral rir com gosto foi quando Irma paquerou o Zé Lucas (Irandhir Santos), mas não obteve sucesso. “Essa aí tá querendo pegar esse faz hora”, afirma André, de 45 anos. Já nos últimos minutos, o pessoal também riu do Jove (Jesuíta Barbosa), que está aprendendo a enlaçar gado.
Para acompanhar a atração, o pessoal gosta de tomar cerveja, mas tem uns que preferem a vodka com limão. Além da bebida, eles aproveitam para comer amendoim ou ovo de codorna em conserva. Questionados se não ficam com ressaca, o grupo inteiro ri. “A pior ressaca que tem é para aquele que deixa de beber", fala Luciano Rodrigues, de 46 anos.
Apesar de Rildo ser o mais tímido, o borracheiro Ailton Bezerra de Souza, de 60 anos, ganha de todo mundo. Durante a exibição da novela, ele falou pouco e ficou com os olhos vibrantes para a televisão. O último a chegar para acompanhar o capítulo foi o escrivão de polícia aposentado João Wortmann, de 71 anos.
O proprietário do estabelecimento, Francisco, também acompanha a novela com atenção. Ele só para de assistir na hora que chega algum cliente da rua ou pedem para ele tirar do freezer "mais uma gelada". O dono do bar diz não ter personagem favorito. "Eu tô gostando de todos", esclarece.
Amizade não só para ver novela - Para quem acha que os noveleiros se unem só na hora de ver o remake, eles reforçam que a amizade é para toda hora e lugar. “Aqui tem de tudo, tem borracheiro, entregador, barbeiro, serralheiro, policial aposentado, é todo mundo de casa. Um apoia o outro”, expressa Marcos. O escrivão aposentado elogia o grupo. “Aqui, vem muita gente boa, todo mundo de boa qualidade”, finaliza.
Nos 20 minutos finais da novela, alguns começaram a ir embora e foram se despedindo dos amigos com um "até amanhã". Do grupo de oito, cinco ficaram ali, em pé, aguardando o encerramento do capítulo de "uma das melhores novelas".
O bar do Chiquinho está localizado na Rua Ana Luísa de Souza, 1018, Bairro Pioneiros. O local também funciona como restaurante na modalidade delivery e retirada. O horário de funcionamento é de segunda a sábado, das 18h às 22h.
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).