“Eu bati de frente com a morte", diz psicóloga que pesou 37kg e venceu Anorexia
Aos 26 anos, a psicóloga Andreia Hortência Osiro olhava para o espelho e se via gorda, mesmo pesando 37 quilos e vestindo roupas infantis. Foram dois anos doente, mas sem perceber isso.
Hoje, aos 39 anos, levando uma vida saudável, ela trabalha para que outras mulheres também acreditem na recuperação e no essencial engajamento familiar para que o diagnóstico da Anorexia seja feito cada vez mais cedo. “Eu bati de frente com a morte e superei a Anorexia”, resume.
Os problemas com o peso surgiram há 13 anos. Trabalhando diariamente em um ritmo acelerado, Andreia tinha pouco tempo para comer. Aos poucos, foi diminuindo a alimentação, não sentia fome e começou a emagrecer mais e mais. Sentindo que tudo estava normal, a imagem que ela recriava no espelho fez com que comesse ainda menos.
“Eu não sentia fome, pela falta de tempo e as pressões do trabalho. Eu me sentia muito pressionada e nunca comia. Quando eu olhava no espelho, me sentia gorda e feia”, conta.
Desde a adolescência, por natureza, Andreia sempre foi uma garota magra e cresceu ouvindo que precisava ser assim. “Algumas coisas que acontecem na infância podem demorar anos para refletir. Eu sempre ouvia que precisava ser bonita e para isso estar magra”, lembra.
Com início da doença, ela se afastou dos amigos, teve de ser internada 8 vezes e os médicos chegaram a dizer que não sobreviveria. “Eu mesma me sabotava, mesmo sem querer. Se eu ficava nervosa, a primeira coisa que eu cortava era a comida, na minha cabeça, só a água me saciava”.
A primeira internação aconteceu quando nem água parava no estômago de Andreia. “Minha mãe havia viajado para um retiro, eu fiquei sozinha por 3 dias sem comer nada. Somente tomando água. Quando ela chegou, passei mal e fui trazida para Campo Grande, desnutrida e desidratata”, relata.
Na época, Andreia diz que pouco se falava e entendia sobre a Anorexia. Mas com o diagnóstico confirmado, iniciaram os tratamentos e acompanhamento médico com endocrinologista, psiquiatra e nutricionista. Foram mais dois anos até a recuperação.
Durante todo o período, foi difícil a aceitação de que o problema era grave, outras internações vieram, terapias e uso de medicação. O socorro final foi drástico, segundo Andreia, veio com a eletroconvulsioterapia, alternativa conhecida como eletrochoque.
“Foram 10 sessões do procedimento. Aos poucos eu fui tendo a dimensão do problema e que ele precisava ser superado. O que me ajudou muito, foi o apoio da minha mãe. Ela esteve ao meu lado em todos os momentos, tirou uma licença de 2 anos para me acompanhar no tratamento”, agradece.
O fim de todo sofrimento veio com o amor e o apoio de vários profissionais envolvidos, que Andreia considera essenciais. Hoje atuando como psicóloga e mestranda em psicologia organizacional, trabalha para que os distúrbios alimentares sejam encarados com mais rigor, principalmente, dentro de casa.
“É muito importante perceber os sinais. Muitas vezes a mudança de comportamento pode ser um pedido de socorro silencioso, que tem de ser diagnosticado mais cedo”.
O psicólogo Carlos Eduardo Vilela Gaudioso, de 39 anos, tem mestrado em psicologia da saúde, imagem corporal e comportamento alimentar. Acostumado com histórias como de Andreia, ele ressalta que, em geral, infelizmente a busca por ajuda médica ocorre só quando o paciente está em estágio avançado da doença.
“A Anorexia ainda é um tabu, porque as pessoas acreditam que tudo aquilo que é referencial ao próprio corpo, é intimo demais. Também estamos vivendo em épocas de estética corporal e procura do corpo perfeito voltados cada vez mais pela magreza”, alerta.