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Faz Bem!

Academia não é lugar só de narcisos, preconceito se quebra sofrendo na esteira

Liziane Berrocal | 18/04/2016 06:25
Academia não é lugar só de narcisos, preconceito se quebra sofrendo na esteira

Atire a primeira pedra quem não tiver preconceito! Pois é, eu também tenho os meus. Logo eu, que a vida inteira convivi com olhares de julgamento alheio por parte das pessoas que se “incomodavam” com minha gordura, descobri que perdi um precioso e longo tempo para enfim quebrar meus paradigmas em relação aos cuidados com minha saúde.

Lembra quando eu disse que quase fugi mais uma vez da academia na semana passada? Pois é. Mas eu na segunda-feira, acordei cedo, aliás, madruguei, considerando que eram 5h30 quando levantei esperando para “dar o horário”. Eu cheguei na Praktika e confesso, eu estava apavorada Me sentia uma ET. Logo eu, que sempre fui muito segura de mim, empoderada, cheia de si... É, acho que acontece nas melhores famílias e dava para ver o pavor no meu olho. Tanto que encontrei a Neusa Pavão, uma jornalista que me abraçou e falou: “Vai dar tudo certo, vai no seu tempo”.

E então veio o Fernandinho, o personal que iria me atender. Fernando é um menino, mas eu perto dele me senti uma criança. Animadaço, ele percebeu que eu estava me sentindo deslocada e tratou de me colocar para cima. “Dez minutinhos de esteira, para aquecer, você vai ficar bem”, afirmou ele. A esteira para mim parecia uma super nave, que me levaria a um mundo completamente diferente daquele que eu já tinha visto. Eu fiquei olhando. Gente, eu que sei as regras da ABNT, não sabia ligar uma esteira! Que mundo é esse meu Deus? Era isso que eu me perguntava, porque eu não sabia como ligar uma bendita esteira! Mas consegui, venci o primeiro desafio do dia. E foram dez minutos onde eu me imaginava caindo, igual aquelas vídeocassetadas e a academia inteira rindo de mim. Quando olhei para o lado e vi uma senhora com uns 60 anos, correndo e rindo. Ela corria e sorria minha gente!

“Bora pro treino”. Achei chique ouvir isso quando terminei o aquecimento. E lá vieram novas “naves espaciais”. Eu nem imaginava que havia tantos aparelhos de exercícios físicos assim na minha vida. Uns aparelhos interessantes, que me fizeram levantar questionamentos internos. Mas eu fiquei tão muda que quase não me reconheci. E o Fernandinho ensinando, explicando e eu tentando prestar atenção, mas no fundo me sentia uma bocó. Primeiro porque ali caíram todos os paradigmas de que Educação Física era coisa para quem não passou em outra faculdade, já que aquilo é ciência pura. Tão ciência, que o personal fez as contas dos meus batimentos cardíacos, com idade e peso relacionados e eu fiquei com cara de boba.

É um cuidado específico, que eu vi não só comigo como com outras pessoas. E o segundo preconceito a ser quebrado, foi de que academia era lugar para quem era narcisista e preocupado só com a própria imagem. Mulheres com idades entre 19 e 70 anos, homens já idosos, treinando. Isso, treinando. E tudo isso, por uma saúde melhor. Naquele dia, eu fiz treino de bíceps, tríceps, braço, perna, parte interna da coxa. E o Fernando fala disso tudo com uma naturalidade, que nem mesmo as coxas flácidas depois da cirurgia, me deixou mais encabulada! E assim meu primeiro dia terminou, e eu achando que ia querer sair correndo dali, ainda andei mais umas oito quadras, a pé, e sem reclamar.

Uma prancheta com os planos de exercícios para mim fica a disposição e na terça-feira, apenas um treino “cárdio” de leve com esteira e um negócio chamado “elíptico”. Não, eu não sabia o que era o tal do elíptico. E quase fui parar no aparelho errado. Claro que eu ri, mas quando vi, pensei: “Ah, moleza, isso deve ser bacana”. Depois de meia hora de esteira, lá fui eu pro tal do elíptico. “Sobe e faz dez minutinhos”.

Gente, dez minutos de elíptico e você queima 78 calorias. E não, não dá para fazer mais de dez minutos. Não mesmo! E você sai dali com a sensação de flutuação, porque as pernas, fica igual aquela piada: “Eu não tô tintindo nada”. Mas desistir seria vergonhoso, considerando que eu já estou até escrevendo sobre o assunto. Na quarta-feira, o horário seria às 7h da manhã. Para tal, eu teria que acordar às 5h, porque eu sou enrolada e o marido precisa trabalhar. Como graças a Deus, eu tenho um marido que me apoia demais, lá fui eu. Cheguei para a aula de alongamento. “Ah, vai ser moleza, alongamento”. O pensamento foi esse. Uma sala linda, com umas esteiras de EVAs no chão. A maioria dos alunos dessa aula, mais velhos. A voz da Thayanni bem suave dizendo “seja bem vinda” e eu achando que ia tirar de letra.

Confesso, que mais uma vez foi uma surpresa. As senhorinhas ali, me receberam simpáticas, foram umas fofas. Mas elas davam um banho em mim no quesito resistência, e até os dois senhores – um até mais idoso, nem chiavam para se alongarem e cuidar não só do corpo e da mente. De tudo que eu vivi nessa semana de descobertas, o alongamento foi maravilhoso, porque eu cansei, suei e fiquei um dia inteiro me sentindo leve, leve, leve.

Então veio o meu teste de prova de “fôlego”. Um dos meus dálmatas, o Nico, fugiu. E eu sozinha, marido viajando a trabalho, não dirijo, tive que correr atrás dele. Gente, eu não morri! Hahahaha! Sério, eu dei risada, porque antes, correr 20 metros me fazia simplesmente quase enfartar de cansada!

Finalmente, a sexta-feira, eu acordei animada! “É hoje, hoje eu faço uma semana”. Sabe aquelas coisas de namoradinhos? Acho que é isso que eu senti. Porque eu simplesmente fiquei pensando nisso a semana toda. Claro que vi umas meninas com corpões de dar inveja e alguns olhares que me deixaram meio assim. Mas o mais bacana, foi ver que pela primeira vez fui a um lugar de regata e as meninas instrutoras, simplesmente souberam me deixar bem a vontade e me dizerem que sim, eu posso conseguir! Nem mesmo os braços flácidos, que me deixaram tristes num primeiro momento, me fizeram perder a vontade de no momento que esta coluna for ao ar, estar lá de novo, vivendo mais uma quebra de barreiras e superando a mim mesma. E quando sai, encontrei de novo minha pequena gigante, a personal anjo da guarda Mara Tesser que comemorou comigo a primeira semana.

Ali, eu me senti abraçada. E sim, estou feliz, em especial que descobri que espelhos na academia não é só para gente se admirar, mas também para se olhar, corrigir a postura e dizer a si mesmo: “Vai gordinha, você consegue!”

Então, se eu consigo, acredite você também consegue. Afinal, podemos sempre mudar o curso da nossa história.

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