Alunos provam: nudez será perdoada se o empoderamento for plantado
Escrever é um desnudar-se, é concretizar sentimentos no papel. Antes quando se escrevia “à mão”, lembro que eu ficava escrevendo por horas, concretizando tudo aquilo que eu não conseguia definir. Ao escrever sobre corpo e alma no Lado B, um dia ouvi de uma leitora: “Você escreve sobre o que você tem de mais íntimo, que é seu corpo, as pessoas tem vergonha do corpo”. E respondi: “Mas como eu poderia ter vergonha de algo que me move?”. E escrever também é colocar a cara a tapa. Levar pedrada, às vezes ofensas, e por outro lado também receber boas surpresas, em especial quando os sentimentos divididos por meio da escrita cruza fronteiras.
Tive a coragem de defender a mulher Dilma Rousseff, leia e entenda, a mulher, não a presidente. E várias outras mulheres também. Ao mesmo tempo em que vi – e ainda vejo, mulheres usarem o momento político para deixarem fluir todo o machismo que há encrustado dentro delas. Eu também tenho, confesso, mas a todo momento, cada situação, uso para repensar o que realmente é o empoderamento feminino. Palavrinha estranha essa não?
E na semana em que o deputado federal Flavinho (PSB/SP) afirmou em discurso que “As mulheres de verdade não querem empoderamento. Querem é ser amadas”. Recebi oito cartas de leitores muito especiais.
Alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Instituto de Educação Estadual Ruben Dario em Sapucaia do Sul (RS) leram durante a aula de língua portuguesa ministrada pela professor Diandra Dos Santos Andrade o artigo que o Lado B publicou no dia 4 de abril. O texto, abordou o machismo e a estranheza que o empoderamento traz em um mundo que infelizmente ainda é muito machista.
Neste um mês, muita água passou debaixo da ponta, tivemos a matéria da Veja com o “Bela, recatada e do lar”, o movimento na internet que foi uma grande resposta e claro, trouxe um importante assunto para discussão e o coroamento com a infeliz frase do deputado de que mulheres só querem ser amadas.
No meio disso tudo, a felicidade de saber que adolescentes estão discutindo em sala de aula assuntos necessários para que a sociedade seja melhor. Discutir o machismo e aceitar que ele ainda existe é o melhor caminho para uma era onde as mulheres terão sim amor – mais do que já temos, e o empoderamento. Empoderar uma mulher aliás, é a melhor forma de amá-la, considerando que quando isso acontece, as mulheres passam a ter o amor próprio, tão necessário para que a vida delas seja melhor e mais justa.
Quando se discute o machismo na sala de aula, a opressão estética, a gordofobia, o preconceito e a necessidade de respeito as conquistas femininas, não estamos discutindo o “feminismo” ou a “destruição de homens machos”. Não estamos tentando diminuir os homens, mas sim, colocando as mulheres em pé de igualdade.
Num mundo onde o feminicídio ainda é contestado, onde mulheres em várias partes são tratadas como propriedades, ganham salários menores e são constantemente assediadas moralmente e sexualmente quando atingem postos de chefias, como se isso fosse um pecado imperdoável, discutir o tema em sala de aula, com adolescentes em formação, é plantar a semente daquilo que poderá ser um novo futuro para todos.
Pode até parecer piegas, ou um choro, mas é um choro de esperança, de alento. Claro, que muitas ainda não tem a coragem da Diandra, de levar um texto de uma mulher gorda, feminista e que inclusive tem a coragem de apontar o erro de um colega de trabalho – que custou inclusive um plano mirabolante para mostrar que eu era a louca do trabalho, e que foi conseguido pelo coleguinha machista. Mas trabalho, mulheres, nós conseguimos outro. Objetivo de vida é muito maior que isso. Muito maior que um cargo ou um salário mais alto. É viver para lutar por um mundo melhor e mais justo.
Tem gente que fica nua em "pelo" pela discussão do empoderamento, e até mesmo essa nudez deve ser perdoada, já que eu fico nua em alma, ao escrever sobre meus medos, minhas raivas e a necessidade que a mulher tem sim de gritar ao mundo sobre o machismo.
Lilian, Mateus, Nicolas, Rafaela, Mariane Z. e Dariane M, Amanda T., Aline Mann, Darcilene, Juliele, Larrissa, Giovana, Gustavo, Mayara, Bruna, Pâmela, Renan, Taís, Milena, Julia, Marina, Eduardo, Fabrício, Lucas, Leonardo, Alessandra Carolina , Bruno Skalski , Luísa Bernardo e Tauane Santos. Assinando cartas comentando sobre o machismo, empoderamento das mulheres e opressão estética, esses adolescentes mostraram mais firmemente que a troca de opiniões e discussões são necessárias para que pelo menos essa semente seja plantada. E seguindo a linha do que vocês escreveram, eu realmente percebi que não preciso deixar que ninguém me diga para ficar calma. E sim desnudar cada vez mais as situações de machismo e misoginia vividas no dia a dia.
E divido com vocês uma das cartas quando as meninas simplesmente mandam a letra: “Entre tantas dúvidas que temos há uma certeza: concordar imensamente contigo!
As mulheres são, sim, capazes de fazer muito mais que os homens. Nos chamam de loucas ou nos culpam por culpa da TPM… tudo desculpa esfarrapada! Os homens têm medo de verem as mulheres ocupando cargos deles e ainda serem muito melhores que eles.
Ridículo vivermos em uma sociedade que é extremamente machista. Emponderamento á todas as mulheres!”.
É isso aí!