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“Casca da virgindade”, barbatimão vai muito além da polêmica

Planta típica do cerrado é conhecida por "devolver virgindade" à mulher, mas segundo médicos, vai muito além

Thailla Torres | 01/10/2020 10:40
95% das plantas de barbatimão estão no Cerrado (Foto: Reprodução)
95% das plantas de barbatimão estão no Cerrado (Foto: Reprodução)

A virgindade da mulher é uma condição amplamente explorada através dos séculos como forma de idealizar o corpo feminino. Uma idealização baseada em vários conceitos moralistas que objetificam a mulher ao compará-la com um produto, que ao “romper seu lacre” tem pouca validade.

Até uma planta tipicamente do Cerrado, o barbatimão, foi usada para explorar esse conceito de valorização excessiva da mulher virgem. Muitos conhecem a casca do barbatimão como “casca da virgindade”, isso por conta de algumas propriedades da planta. Vamos explicar.

O barbatimão, que tem 95% de suas árvores no cerrado, possui como principio ativo um composto químico que se chama tanino, muito conhecido no mundo dos vinhos; e é ele que confere à árvore de barbatimão todas as suas propriedades.

Casca é usada para fazer chá (Foto: Reprodução)
Casca é usada para fazer chá (Foto: Reprodução)

“O extrato da casca do barbatimão tem 80 vezes mais tanino que a uva. E a principal ação do tanino no corpo é a cicatrização, é um potente cicatrizador e tem uma ação adstringente. Então quimicamente falando, quando a gente coloca sobre a pele, ele promove uma cicatrização. Por isso era muito usado em fazendas como cicatrizante e as mulheres que pariam faziam o banho de barbatimão”, explica a ginecologista Ana Helena Mattos, que estuda as propriedades da planta há mais de 10 anos.

Segundo ela, sobre a mucosa, a planta causa uma espécie de contração momentânea, daí surge o mito da “casca da virgindade”. “Se você aplicar o barbatimão em forma de extrato sobre uma mucosa, que é o que reveste a vagina, que é o que reveste a boca, imediatamente você vai ter uma contração do local. E isso é o que conferiu ao barbatimão a fama da “casca da virgindade” ou a “casca que aperta””.

Essa ideia se popularizou e, apesar de muita gente saber das propriedades medicinais do barbatimão, começou a utilizá-lo para “retomar a virgindade”.

Ginecologista Ana estuda há o barbatimão há mais de 10 anos (Foto: Arquivo Pessoal)
Ginecologista Ana estuda há o barbatimão há mais de 10 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

“Isso caiu no ditado popular, que as garotas de programa tomavam banho de barbatimão pra dar aquela apertada, e realmente isso acontece temporariamente. Mas se você exagera na utilização, você pode ter problema. Não dá pra ingerir chá de casca de barbatimão, você pode ter uma atrofia do esôfago, por exemplo.”

No fundo, é isso que a ginecologista estuda. O barbatimão é um ótimo produto medicinal, que teve um de seus efeitos deturpados por conta desse contexto da virgindade.

Junto de uma cooperativa de mulheres em Anastácio, Ana extrai a casca do barbatimão e usa até para sua linha de cosméticos chamada Ybá. “Desenvolvemos um trabalho de extração da casca junto a uma cooperativa de mulheres na cidade de Anastácio. Nós ensinamos a extrair de forma que não agride a árvore, e que leva lucro pra elas. Conseguimos juntar parte social e empresarial”.

O uso do barbatimão atravessa gerações na família da empresária Josilene da Silva clemente, de 43 anos. Ela conta que já usa produtos derivados do barbatimão há mais de 10 anos.

Cooperativa de mulheres extrai a casca do barbatimão em Anastécio (Foto: Reprodução/Instagram)
Cooperativa de mulheres extrai a casca do barbatimão em Anastécio (Foto: Reprodução/Instagram)

“Minha vó usava para lavar ferimentos. Gosto muito de produtos naturais. Uso sabonete líquido, minha filha usa a versão barra que é mais suave, meu esposo usa pós-barba, meu filho adolescente usa por conta da acne, faz parte do nosso dia a dia”.

Para médica, o barbatimão já está, a cada dia, deixando mau estigma pra trás. “O barbatimão pode ser explorado de tantas formas e traz tantos benefícios pra saúde da mulher e do homem, que não dá pra ficar preso em polêmica. Isso sem falar que é um produto amplamente encontrado em nossa região. Temos que valorizar”.

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