Emagrecer é fácil: faz a dieta do cadeado, fecha a boca! Quantas vezes ouvi isso
Quem é gordo já deve ter ouvido pelo menos duas frases: “É só criar vergonha na cara, tirar a bunda da cadeira e ir malhar” ou “Faz a dieta do cadeado, fecha a boca e pronto”. Outro dia dei uma entrevista para o blog “Mulheres Inspiradoras” e a primeira pergunta foi sobre preconceito. Minha resposta foi direta. Enfrento todos os dias, não como meu pior inimigo, mas como algo que me faz crescer e aprender.
Ser gorda, mulher e petulante me fez enxergar o mundo do outro, ter mais empatia. E olha, garanto, a obesidade hoje é um dos maiores alvos de preconceito que temos. E sem mimimi, depois disso vem o preconceito com quem faz bariátrica. E sabe como eu percebi isso? Na sutileza paquidérmicas de alguns seres que nos rodeiam.
Se metem tanto na vida do gordo, ao ponto, que muitas pessoas que conheço se submeteram ou vão se fazer a cirurgia bariátrica e simplesmente fazem segredo sobre o assunto. O tema me chamou a atenção depois de uma personalidade política de nosso Estado, insistir na tese de que emagreceu “com dietas e exercícios” e rechaça de toda forma a cirurgia.
Ou da amiga que fez, e quando fui questionar, ficou bem quieta e falou a mesma coisa. Como ela pesava quase o mesmo que eu, depois descobri que era mentira, e sim, fiquei pensando o porquê da mentira, e só então fui entender.
Quando eu resolvi fazer minha cirurgia, ouvia pessoas falando várias barbaridades. Frases tipo “isso é coisa de preguiçoso” até “Credo, você vai morrer, eu conheço o primo da vizinha da amiga do meu marido que morreu depois de fazer essa cirurgia”. Como eu já escrevi em outra coluna, ninguém morre de fazer bariátrica, mas sim da obesidade e complicações que ela causa.
Poderia citar vários casos aqui, como por exemplo, das mulheres que convivo no grupo da minha nutricionista Mariana Corradi Gouvêa, que lá, ao falar sobre o tema, li depoimentos chocantes como o caso de uma moça que foi rechaçada no local de trabalho por ser bariátrica (acredite, isso existe) até dentro da própria família, as pessoas sofrerem comentários jocosos ou agressivos porque foram submetidas ao procedimento.
Ah, outra frase comum. “Assim é fácil!”. Eu e milhares e milhares de pessoas já ouvimos essa frase. E isso era tão latente na minha cabeça, que quando saí do hospital, e me olhei no espelho e era a mesma pessoa, eu falei: “Que porra de facilidade é essa?”
E no dia a dia descobri que de fácil, a cirurgia bariátrica e metabólica, ou redução de estômago, só tem nem o nome. Eu posso dizer por mim, que fiquei 13 dias com um dreno horrível, fiquei 15 dias só a base de líquidos, tomando mililitros contados, para finalmente chegar a dieta pastosa, passar mal com caldo de feijão e voltar a dieta líquida por mais uma semana. Então, fui para a dieta semi-sólida (carne moída 6 vezes com purê de batatas em leite e sem manteiga ou arroz beeeeem papa), passei mal e voltei para a dieta líquida, porque meu cirurgião Cesar Conte é extremamente cuidadoso sim. Tive gases com batata doce amassadinha e pensei que ia parir de tanta dor!
Ah, também vou a psicóloga toda semana, a nutricionista a cada 15 dias, ainda hoje não posso comer feijão (alguns alimentos hoje não descem, nem com reza brava) e como tomei minhas vitaminas igual a minha cara, estou tendo que tomar injeções de reforço que doem mais que um tapa de mãe, além de ainda ouvir frases de “incentivo” do tipo: “Nossa, o primo da amiga do vizinho do pai da colega da minha filha, engordou tudo de novo”.
E oito meses depois emagrecendo 60 quilos e escrevendo para vocês sobre o tema, posso dizer com todas as letras: “Cirurgia bariátrica é fácil. #SQN”. E ainda assim, eu faria oito vezes se fosse preciso, porque sim, salvou a minha vida! E se tem alguém que quer ou precisa dessa facilidade para emagrecer e se encaixa nos critérios médicos, um conselho de amiga: Faz! E manda todo mundo ir catar coquinho na ladeira íngreme!