Fotógrafo pedala há 1 ano em busca de histórias de brasileiros e suas bicicletas
Percorrer cerca de 18 mil quilômetros de bicicleta. Passar por todos os estados brasileiros fotografando as pessoas que utilizam a “magrela” como meio de transporte. Uma ideia que pode parecer loucura para muita gente ou encher os olhos de admiração de quem curte um bom mochilão.
O Projeto Transite ganhou vida nas lentes do fotografo Felipe Baenningr, de 27 anos. A viagem do paulista começou no sul do País, em Porto Alegre, e já atinge oito estados brasileiros. A vontade é simples, porém com um apelo ambiental e social muito simpático: promover a bicicleta como meio de transporte, conhecendo pessoas que usam ela para se locomover em suas cidades ou até mesmo para trabalhar.
A jornada vai até o Acre, com todos os pares de meias e rolos de papel higiênico que couberem na bagagem. Paralelamente, ele capta recursos para materializar a viagem em um fotolivro por meio do Catarse, um site de financiamento coletivo. Mas Felipe também depende da solidariedade dos moradores por onde passa.
A maior parte da ajuda de quem gosta do projeto vem mesmo da internet, é por meio dela que fotografo consegue o contato de outros ciclistas, uma hospedagem solidária, ou até uma companhia para um trecho da viagem. Foi assim com a educadora ambiental Natalie Hanna, de 30 anos, que segue viagem com o Felipe há um mês, desde a passagem dele por Marília, São Paulo.
É a primeira vez que pisam em solo sul-mato-grossense e até o momento a cidade Morena tem arrancado elogios dos seus visitantes, apesar das ciclovias não serem nenhuma maravilha para quem usa a bike como meio de transporte por aqui. “A gente foi super bem recebido. Campo Grande parece ser uma cidade muito bacana e um bom lugar para morar”, comenta Felipe.
Nat, como é chamada pelos antigos e novos amigos que encontra pelo trajeto, conta que se encantou com a natureza do Estado. “Eu já fantasiava como seria entrar no Mato Grosso do Sul, por ter essa ligação com a questão ambiental e estou maravilhada com a diversidade de pássaros que se encontra na rua. Aqui é comum ver araras e tucanos ao sair de casa. Isso é lindo”, elogia.
A hospedagem solidária na Capital também foi combinada pela rede. A professora Yaisa Melina, de 27 anos é que recebeu os ciclistas em casa. “É a primeira vez que eu recebo viajantes e pretendo continuar recebendo. Acho muito importante essa troca, cada pessoa que você conhece é uma nova contribuição”, afirma.
Planejamento - O projeto começou a ser pensado cinco meses antes de Felipe por o pé na estrada. A decisão surgiu de uma insatisfação pessoal. “Eu estava insatisfeito com a minha rotina sedentária”. E assim apareceu a bicicleta no cotidiano. Ele largou o emprego e em junho de 2013 a viagem começou.
Por onde passa,ele busca reunir pessoas para debater sobre mobilidade urbana e outros assuntos do interesse de quem decidiu encarar o dia a dia sobre duas rodas. Em Campo Grande, esse encontro aconteceu na quarta-feira à noite, no restaurante São Chico, e foi regado a muita conversa, panquecas e descontração. No lugar, a dona disponibiliza bicicleta para os clientes darem voltinhas pelo bairro São Francisco, uma delicadeza que chamou a atenção de Felipe.
O Projeto Transite enxergou na bicicleta o poder que ela tem de fazer as pessoas reconhecerem os lugares, quase que invisíveis na correria do trânsito dos automóveis. Essa maneira de redescobrir a cidades, se preocupar com o meio ambiente e compartilhar histórias pode ser acompanhada na página do Facebook ou no site projeto.
Encontros - Pelo caminho, vários brasileiros e suas bicicletas foram servindo como injeções de ânimo. Pedrinho, por exemplo, estava na zona norte de São Paulo. “Apesar de muito menino já está super envolvido com a bicicleta e todos os dias cruza a cidade para trabalhar, estudar e se divertir como entregador de adesivos do projeto”, relata Felipe no diário de bordo que se transformou o blog do Transite
Em Paraty (RJ), Felipe já havia encontrado dois viajantes para reforçar a inspiração. A dupla pegou a estrada com o tradicional ofício de lambe lambe, vivendo da arte de fotógrafo de rua.
Ele também encontrou Barnabé, um paulista viajante radicado em Belo Horizonte, que viajou 1 ano pela Amazônia em sua bicicleta. "Em companhia uma pequena impressora que era seu ganha pão e objeto de comunicação com as pessoas”, conta.
Nessa levada de conhecer novos lugares, outra que cruzou o caminho do fotógrafo foi Carolina, que percorre comunidades e projetos sociais do País sem dinheiro no bolso, viaja só na base da colaboração. “Através de trocas e conversas ‘desenrola’ como costumamos falar na estrada, tudo que precisamos, você deixa de desejar aquilo que transcende o necessário e a vida toma um novo sentido. Não se trata apenas de economizar e sim de viver experiências que o dinheiro nunca irá te proporcionar”, escreve Felipe.
Durante a aventura, até nos momento mais complicados, ele aparece nos registros com certo bom humor. Foi assim depois de rodar 71 quilômetros e bater em um caminhão. “Puxei o GPS para verificar quantos km ainda faltavam para o meu destinho, estava a 20km/h e foram 20 segundos sem olhar na pista, o suficiente para um caminhão estacionar no acostamento eu não perceber e dar no meio da traseira do monstrão”. O quadro da bicicleta rachou no meio e o jeito foi pedir carona até a cidade mais próxima.
Felipe é um ativista, que entre um post e outro, sempre lembra da importância de pensar a cidade de uma forma mais humana. “Imaginar que terá uma ciclofaixa da porta da sua casa até o seu destino é um sonho um pouco distante na maioria das cidades brasileiras...Mas do que a construção de ciclofaixas, ciclovias, espaços de convivências entre cidadãos e participação coletiva na cidade, é preciso devolver as cidades para as pessoas”, defende.
Quem quiser ajudar a viabilizar o projeto pode entrar em contato com o Felipe pelo e-mail vitaminacoletiva@gmail.com. Ale também é possível fazer reservas do fotolivro, comprar camisetas, adesivos, ou simplesmente oferecer algum apoio.