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Faz Bem!

Fotógrafo pedala há 1 ano em busca de histórias de brasileiros e suas bicicletas

Aline Araújo | 12/07/2014 07:23
Felipe e Nat pretendem conhecer também o interior do Estado. (Foto: Marcelo Victor)
Felipe e Nat pretendem conhecer também o interior do Estado. (Foto: Marcelo Victor)

Percorrer cerca de 18 mil quilômetros de bicicleta. Passar por todos os estados brasileiros fotografando as pessoas que utilizam a “magrela” como meio de transporte. Uma ideia que pode parecer loucura para muita gente ou encher os olhos de admiração de quem curte um bom mochilão.

O Projeto Transite ganhou vida nas lentes do fotografo Felipe Baenningr, de 27 anos. A viagem do paulista começou no sul do País, em Porto Alegre, e já atinge oito estados brasileiros. A vontade é simples, porém com um apelo ambiental e social muito simpático: promover a bicicleta como meio de transporte, conhecendo pessoas que usam ela para se locomover em suas cidades ou até mesmo para trabalhar.

A jornada vai até o Acre, com todos os pares de meias e rolos de papel higiênico que couberem na bagagem. Paralelamente, ele capta recursos para materializar a viagem em um fotolivro por meio do Catarse, um site de financiamento coletivo. Mas Felipe também depende da solidariedade dos moradores por onde passa.

A maior parte da ajuda de quem gosta do projeto vem mesmo da internet, é por meio dela que fotografo consegue o contato de outros ciclistas, uma hospedagem solidária, ou até uma companhia para um trecho da viagem. Foi assim com a educadora ambiental Natalie Hanna, de 30 anos, que segue viagem com o Felipe há um mês, desde a passagem dele por Marília, São Paulo.

Vida de viajante e os acampamentos pela estrada. (Arquivo do projeto)
Vida de viajante e os acampamentos pela estrada. (Arquivo do projeto)

É a primeira vez que pisam em solo sul-mato-grossense e até o momento a cidade Morena tem arrancado elogios dos seus visitantes, apesar das ciclovias não serem nenhuma maravilha para quem usa a bike como meio de transporte por aqui. “A gente foi super bem recebido. Campo Grande parece ser uma cidade muito bacana e um bom lugar para morar”, comenta Felipe.

Nat, como é chamada pelos antigos e novos amigos que encontra pelo trajeto, conta que se encantou com a natureza do Estado. “Eu já fantasiava como seria entrar no Mato Grosso do Sul, por ter essa ligação com a questão ambiental e estou maravilhada com a diversidade de pássaros que se encontra na rua. Aqui é comum ver araras e tucanos ao sair de casa. Isso é lindo”, elogia.

A hospedagem solidária na Capital também foi combinada pela rede. A professora Yaisa Melina, de 27 anos é que recebeu os ciclistas em casa. “É a primeira vez que eu recebo viajantes e pretendo continuar recebendo. Acho muito importante essa troca, cada pessoa que você conhece é uma nova contribuição”, afirma.

 

No caminho, vira e mexe ele encontra novos amigos. (Arquivo do projeto)
No caminho, vira e mexe ele encontra novos amigos. (Arquivo do projeto)

Planejamento - O projeto começou a ser pensado cinco meses antes de Felipe por o pé na estrada. A decisão surgiu de uma insatisfação pessoal. “Eu estava insatisfeito com a minha rotina sedentária”. E assim apareceu a bicicleta no cotidiano. Ele largou o emprego e em junho de 2013 a viagem começou.

Por onde passa,ele busca reunir pessoas para debater sobre mobilidade urbana e outros assuntos do interesse de quem decidiu encarar o dia a dia sobre duas rodas. Em Campo Grande, esse encontro aconteceu na quarta-feira à noite, no restaurante São Chico, e foi regado a muita conversa, panquecas e descontração. No lugar, a dona disponibiliza bicicleta para os clientes darem voltinhas pelo bairro São Francisco, uma delicadeza que chamou a atenção de Felipe.

O Projeto Transite enxergou na bicicleta o poder que ela tem de fazer as pessoas reconhecerem os lugares, quase que invisíveis na correria do trânsito dos automóveis. Essa maneira de redescobrir a cidades, se preocupar com o meio ambiente e compartilhar histórias pode ser acompanhada na página do Facebook ou no site projeto.

Pelo brasil, a bicicleta é também a marca do risco e indica a morte. (Arquivo do projeto)
Pelo brasil, a bicicleta é também a marca do risco e indica a morte. (Arquivo do projeto)

Encontros - Pelo caminho, vários brasileiros e suas bicicletas foram servindo como injeções de ânimo. Pedrinho, por exemplo, estava na zona norte de São Paulo. “Apesar de muito menino já está super envolvido com a bicicleta e todos os dias cruza a cidade para trabalhar, estudar e se divertir como entregador de adesivos do projeto”, relata Felipe no diário de bordo que se transformou o blog do Transite

Em Paraty (RJ), Felipe já havia encontrado dois viajantes para reforçar a inspiração. A dupla pegou a estrada com o tradicional ofício de lambe lambe, vivendo da arte de fotógrafo de rua.

Ele também encontrou Barnabé, um paulista viajante radicado em Belo Horizonte, que viajou 1 ano pela Amazônia em sua bicicleta. "Em companhia uma pequena impressora que era seu ganha pão e objeto de comunicação com as pessoas”, conta.

Nessa levada de conhecer novos lugares, outra que cruzou o caminho do fotógrafo foi Carolina, que percorre comunidades e projetos sociais do País sem dinheiro no bolso, viaja só na base da colaboração. “Através de trocas e conversas ‘desenrola’ como costumamos falar na estrada, tudo que precisamos, você deixa de desejar aquilo que transcende o necessário e a vida toma um novo sentido. Não se trata apenas de economizar e sim de viver experiências que o dinheiro nunca irá te proporcionar”, escreve Felipe.

Dia de acidente e pedido de carona. (Arquivo do projeto)
Dia de acidente e pedido de carona. (Arquivo do projeto)

Durante a aventura, até nos momento mais complicados, ele aparece nos registros com certo bom humor. Foi assim depois de rodar 71 quilômetros e bater em um caminhão. “Puxei o GPS para verificar quantos km ainda faltavam para o meu destinho, estava a 20km/h e foram 20 segundos sem olhar na pista, o suficiente para um caminhão estacionar no acostamento eu não perceber e dar no meio da traseira do monstrão”. O quadro da bicicleta rachou no meio e o jeito foi pedir carona até a cidade mais próxima.

Felipe é um ativista, que entre um post e outro, sempre lembra da importância de pensar a cidade de uma forma mais humana. “Imaginar que terá uma ciclofaixa da porta da sua casa até o seu destino é um sonho um pouco distante na maioria das cidades brasileiras...Mas do que a construção de ciclofaixas, ciclovias, espaços de convivências entre cidadãos e participação coletiva na cidade, é preciso devolver as cidades para as pessoas”, defende.

Quem quiser ajudar a viabilizar o projeto pode entrar em contato com o Felipe pelo e-mail vitaminacoletiva@gmail.com. Ale também é possível fazer reservas do fotolivro, comprar camisetas, adesivos, ou simplesmente oferecer algum apoio.

Maria Fernanda ao lado da família, uma das ciclistas encontradas por Felipe
Maria Fernanda ao lado da família, uma das ciclistas encontradas por Felipe
Thiago “Mineiro” e seu filho, em Florianópolis.
Thiago “Mineiro” e seu filho, em Florianópolis.
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